Zolgensma deve chegar ao mercado brasileiro nos próximos meses

Época Negócios 

01/10/20 – O remédio mais caro do mundo deve chegar ao mercado brasileiro nos próximos meses. Sob o nome de Zolgensma, a terapia pertencente à suíça Novartis oferece a cura definitiva para a atrofia muscular espinhal, doença congênita e rara que pode levar à morte crianças com menos de 2 anos de idade. Numa única dose, o medicamento provê um gene que falta a esses pacientes — o SMN1, responsável pelo desenvolvimento muscular necessário para atividades vitais, como engolir e respirar. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Anvisa, já concedeu um registro para o medicamento em agosto. A próxima etapa envolve a aprovação de preço na CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos). Nos Estados Unidos, primeiro país a receber o Zolgensma, em meados de 2019, o valor é de US$ 2,1 milhões. “Ainda não é possível saber o preço de comercialização do produto no Brasil”, afirma Thiago Gonçalves, diretor de acesso ao mercado da unidade de terapia gênica da Novartis. “Mas estamos bastante otimistas para que isso aconteça ainda no segundo semestre de 2020.”

O aumento da oferta de tratamentos sofisticados como o milionário Zolgensma ajuda a explicar a explosão dos custos com saúde em todo o mundo. No Brasil, a in?ação médica foi de 16% em 2019 — quatro vezes superior à do IPCA no mesmo período. Trata-se de um problema mundial. Segundo um levantamento realizado pela consultoria de gestão Deloitte, os gastos com saúde crescem a uma taxa anual de 5,4% desde 2018 em todo o planeta — quase o dobro do patamar registrado até 2017.

O argumento da indústria é que, no longo prazo, medicamentos mais sofisticados não fazem parte do problema, mas da solução. Em vez de tomar um medicamento paliativo a vida inteira, o paciente de uma doença crônica poderia resolver o problema numa única dose de um remédio de última geração. Assim o investimento inicial se pagaria com as economias geradas nos anos seguintes. É essa a lógica utilizada para permitir a incorporação de um medicamento na lista do SUS, Sistema Único de Saúde — que possui hoje 174 medicamentos considerados de alto custo. É o caso de terapias inovadoras contra doenças genéticas como a hemofilia. O Emicizumabe, do laboratório francês Roche, foi incorporado à lista em novembro de 2019. O medicamento promete reduzir sangramentos e lesões articulares. Em cinco anos, a incorporação do medicamento representa uma economia de R$ 208 milhões para a saúde pública.

A conta não é tão simples, porém, quando se adiciona à equação a crescente judicialização do setor — boa parte para requerer tratamentos não cobertos pelo SUS. Os gastos do Ministério da Saúde para cumprir essas ordens judiciais chegaram a R$ 1,3 bilhão em 2018 — um valor 4.600% maior em relação ao registrado uma década antes. É um retrato que pode mudar nos próximos anos. Em setembro, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que o Estado não é obrigado a oferecer medicamentos de alto custo que não fazem parte do SUS.

O envelhecimento da população também aumenta a complexidade do tema, ao ampliar a incidência de doenças como o câncer. Especialistas argumentam que a saída para aumentar o acesso de medicamentos de ponta para uma parcela maior da população está em modelos de pagamento alternativos. A própria indústria começa a propor novos formatos. A Novartis, no lançamento do Zolgensma nos Estados Unidos, anunciou a intenção de oferecer o parcelamento em cinco vezes. Outras empresas testam novos modelos de negócios, como uma assinatura, à semelhança do serviço de streaming de vídeos Net?ix. A americana Pfizer começou estudos de novos modelos de cobrança, nos quais o pagamento é feito pela melhora do paciente e não pelo produto utilizado. “Temos um projeto piloto no Brasil, realizado em parceria com uma rede de hospitais, no caso de antibióticos. A escolha de produtos de última geração costuma reduzir o tempo de internação e ser mais eficiente do que versões menos avançadas. Mas é preciso criar um histórico que mostre esses dados”, afirma Carlos Murillo, presidente da Pfizer no Brasil.

Para especialistas, um dos problemas preponderantes para o aumento de gastos reside na ineficiência na gestão da saúde dos indivíduos. O caso da Suécia, onde a inflação médica é igual a zero, ajuda a comprovar a tese. O modelo de atendimento, por lá, está baseado num médico de família, na concentração de dados de pacientes numa única base e na prevenção — o que poupa gastos futuros com internação e emergência. Também evita duplicidade de atendimentos e exames, algo que pode ser comum quando o atendimento do paciente não está centralizado.

Os mesmos princípios baseiam uma experiência conduzida pelo megainvestidor Warren Buffett, dono da gestora Berkshire Hathaway, o empresário Jeff Bezos, fundador da Amazon, e Jamie Dimon, presidente do banco JPMorgan. Em 2018, o trio se juntou para criar a Haven, empresa sem fins lucrativos dedicada a fazer a autogestão da saúde de seus funcionários, diante da constatação de que os custos galopavam ano após ano. Seus resultados até agora são mantidos em sigilo. Sabe-se, porém, que a companhia está estruturada ao redor da prevenção e centralização de atendimento e informações dos pacientes. O tamanho da dificuldade foi resumido por Buffett: “É preciso um longo caminho para fazer mudanças grandes nessa área. E não há garantia de sucesso”.

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