A Hora da Ciência: Os benefícios superam os riscos

Teste de anticorpos após a vacina é bobagem | A hora da Ciência - O Globo

O Globo 
Colunista: Natalia Pasternak

Efeitos colaterais existem para tudo. Não há nada 100% eficaz ou com risco zero. O que fazemos, quando analisamos medicamentos ou vacinas, é calcular qual a relação risco/benefício da intervenção. Para todas as vacinas liberadas até hoje, o benefício supera em muito o risco. Riscos de efeitos colaterais de vacinas costumam ser muito pequenos.

Uma correlação detectada entre a vacina da AstraZeneca (AZ) e formação de coágulos deixou muita gente preocupada, apesar da baixíssima frequência registrada. Trata-se de uma condição observada, também com baixa frequência, em algumas pessoas que fizeram tratamento com a heparina, um anticoagulante. Normalmente usada para inibir a formação de coágulos, algumas raras vezes o medicamento induz a formação de anticorpos que estimulam a formação de coágulos, em vez de inibi-los.

Esta síndrome é conhecida como trombocitopenia induzida por heparina, e é facilmente identificada. O mesmo fenômeno foi observado em algumas pessoas vacinadas com a vacina da AZ. Semanas depois, o mesmo fenômeno foi observado para a vacina da Janssen, o que sugere uma relação com a tecnologia de adenovírus, usada em ambos os imunizantes.

O problema parece ocorrer com mais frequência em mulheres de idade fértil, mas isso precisa ser investigado. Mesmo que se confirme que é a vacina que está causando o problema, os eventos são extremamente raros. Até agora, a frequência observada para AZ foi de um caso para cada cem mil vacinados, levando em conta o número de casos reportados na Europa. Para termos uma ideia, o risco de desenvolver coágulos na gestação é de um caso em cada duas mil grávidas, aproximadamente. O risco para fumantes é de dois para cem mil, e para mulheres que usam anticoncepcional hormonal, o risco fica entre 0,5 e um para cem mil. Esses números explicam por que não foi possível observar os efeitos em ensaios clínicos, que em sua maioria usaram 20 mil ou 30 mil pessoas.

A boa notícia é que esses eventos são, em sua maioria, tratáveis. A má notícia é que não temos como prever quem vai desenvolver o problema. Assim como há pessoas alérgicas a penicilina ou a frutos do mar, há pessoas mais propensas a desenvolver coágulos quando recebem heparina, ou talvez, vacinas de adenovírus. Não banimos a penicilina nem a heparina, e não há por que banir as vacinas. Se pudermos identificar um grupo de risco, como, por exemplo, mulheres jovens, poderemos direcionar as vacinas para homens e idosos, e guardar outras vacinas para as mulheres.

Isso se tivermos o luxo de poder escolher. Por enquanto, o benefício destas vacinas supera demais o risco. Pegar a Covid-19 traz um risco de trombose muito maior do que tomar a vacina. Para o futuro, poderemos repensar se devemos seguir usando a tecnologia de adenovírus. As vacinas de RNA parecem mais promissoras, como investimento de longo prazo. Mas agora temos uma pandemia para controlar, e precisamos de todo o nosso arsenal. Os riscos são baixíssimos. E os benefícios incluem o retorno à normalidade, e muito menos mortes.

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