A Hora da Ciência: Segunda dose e advento

O Globo 
Colunista: Margareth Dalcolmo

Sabemos que o advento, na tradição cristã, é o tempo litúrgico que antecede o Natal. Representa um sentido fundador de um novo tempo, de libertação, de esperança — que nos permite pensar nos dias pós-vacinação da grande maioria da população e de controle epidêmico.

Entre tantos desafios trazidos pela pandemia, permanece um mistério para psicólogos e sociólogos: o que leva uma população que se cansou do distanciamento físico, levou a prevenção a sério (ainda que heterogeneamente) e esperou tão avidamente pelas vacinas a não comparecer para receber a segunda dose contra Covid-19?

Com milhares de inadimplentes nas datas agendadas, perguntamo-nos o quanto esse fenômeno se relaciona à negação do problema ou à nossa cultura de não seguir metas (de saúde, inclusive). E uma coisa fica clara: o alto preço pago pela ausência de uma campanha de comunicação sobre cuidados, prevenção e vacinas.

Resultados de eficácia de estudos de vacina não determinam a efetividade, ou seja, o verdadeiro efeito protetor em uma comunidade na vida real. O estudo na cidade paulista de Serrana, com 95% da população adulta vacinada em curto prazo, revela aquilo que há meses viemos defendendo e tentando transmitir. Aplicando um modelo que chamamos de prova de conceito, demonstra que uma virose respiratória aguda se controla primordialmente com vacinas e que uma alta cobertura vacinal é capaz de controlar a transmissão.

No caso de Serrana, onde se vacinou a população adulta por quatro meses, observou-se não apenas substantivo impacto sobre mortes e internações de casos graves, como redução de doença em jovens, provando que vacinar muitas pessoas interfere na transmissão e também protege os não vacinados. Claro está também que medidas protetivas pessoais e coletivas devem ser mantidas, e fazem a diferença, como também já se mostrara na cidade de Araraquara, também no interior de São Paulo, com um fechamento de serviços durante três semanas, e resultado impressionante de controle.

Modelo epidemiológico diverso, mas também prova de conceito, será desenvolvido na Ilha de Paquetá. Situado na Baía de Guanabara, este bairro da cidade do Rio de Janeiro conta com uma população fechada de cerca de 4 mil pessoas, das quais um terço já foi vacinada com uma ou duas doses. Receberão doses em um só dia cerca de 1.600 adultos acima de 18 anos, com coleta de sangue para estudos imunológicos complementares.

Esses exemplos citados se somam a outros que se desenvolvem neste momento em outros locais visando responder a algumas questões fundamentais. Quanto tempo durará a proteção vacinal? Quanto as vacinas protegerão contra as novas variantes? Quantas pessoas vacinadas ficarão doentes? Quando precisaremos ser revacinados?

Todas vão gerar respostas relevantes, e as esperamos com saudável curiosidade e o espírito épico, oposto do crepúsculo, que marca nosso tempo.

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