Antiviral volta a ser foco de estudos

Correio Braziliense 
Jornalista: Paloma Oliveto

Desacreditado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o antiviral remdesvir pode ser “altamente eficaz contra a Sars-CoV-2”, segundo um estudo de caso publicado na revista Nature Communications. O medicamento, desenhado originalmente para combater a hepatite C e, depois, o extremamente letal ebola, foi considerado uma grande esperança contra a covid-19 no início da pandemia, mas resultados de estudos científicos inconclusivos levaram a OMS a anunciar, em outubro, que a droga não reduzia significativamente as taxas de mortalidade.

Contudo, baseados na resposta obtida por um paciente que, além da covid-19, tem uma rara doença imunológica, pesquisadores da Universidade de Cambridge dizem, agora, que constataram a eficácia do remdesvir usando uma abordagem diferente das testadas anteriormente. De acordo com eles, o medicamento foi capaz de induzir “uma melhora dramática nos sintomas do paciente e o desaparecimento do vírus”.

O paciente em questão é um homem de 31 anos, com uma complicada situação imunológica: ele sofre de doença de Bruton, ou XLA, uma anomalia genética caracterizada pela incapacidade de produção de anticorpos. Seu organismo, portanto, não consegue combater infecções. Os primeiros sintomas da covid-19 foram febre, tosse, náuseas e vômito. Passados 19 dias, ele testou positivo. No 30º dia desde o aparecimento dos sinais, o homem foi internado no hospital da Universidade de Cambridge e precisou de suporte de oxigênio.

Embora a febre e a inflamação pulmonar não tenham cedido durante 30 dias subsequentes, o quadro não se agravou, o que pode ser explicado justamente pela não produção de anticorpos. A covid-19 torna-se severa quando há uma resposta imunológica exagerada do organismo, o que desencadeia a chamada “tempestade de citocinas”.

O tratamento inicial, com hidroxicloroquina e azitromicina, não surtiu efeito, e foi interrompido no 34° dia. A opção foi tentar o remdesvir, administrado por 10 dias. Segundo o estudo, em 36 horas, houve melhora da febre e da falta de ar. A saturação evoluiu, e a suplementação de oxigênio pôde ser retirada.

“A resposta clínica substancial foi acompanhada por uma diminuição progressiva nos níveis de proteína C reativa (CRP), uma substância produzida pelo fígado em resposta à inflamação”, destaca James Thaventhiran, da Unidade de Toxicologia da Universidade de Cambridge e um dos autores do estudo. “Concomitantemente, observamos um aumento no número de linfócitos, importantes células do sistema imunológico. Os exames de imagem do tórax mostraram que a inflamação pulmonar estava desaparecendo”, narra.

O paciente recebeu alta, porém, uma semana depois, voltou ao hospital com os mesmos sintomas do início. A inflamação dos pulmões aumentou, os linfócitos caíram e o Sars-CoV-2 ainda estava ativo. Os médicos voltaram com o remdesvir por mais 10 dias. Novamente, os sintomas melhoraram e as taxas metabólicas estabilizaram. Para complementar o tratamento, a equipe injetou plasma convalescente — o sangue de pessoas que tiveram a doença e se curaram — por duas vezes. O homem recebeu alta e não adoeceu mais da covid-19.

“A condição incomum de nosso paciente nos deu uma visão rara da eficácia do remdesvir como tratamento para a infecção por coronavírus”, disse, em nota, Nicholas Matheson, pesquisador do Instituto de Imunologia Terapêutica e Doenças Infecciosas de Cambridge, e coautor do estudo. “Nas duas vezes, a resposta dramática do vírus à droga sugere que ele pode ser um tratamento altamente eficaz, pelo menos para alguns pacientes.”

Terapia individuais

Os autores destacam que o remdesvir, provavelmente, é mais benéfico no início da infecção, antes que o Sars-CoV-2 desencadeie a tempestade de citocinas. Além disso, eles afirmam que a experiência com o paciente incapaz de produzir anticorpos demonstra o paradoxo da atuação dessas proteínas nas infecções. “A falta de anticorpos pode ter evitado que a covid-19 se tornasse uma ameaça à vida porque ele (o paciente) não tinha anticorpos para desencadear uma resposta imunológica prejudicial”, diz James Thaventhiran.

“Tudo isso sugere que os tratamentos precisarão ser adaptados para pacientes individuais, dependendo de sua condição subjacente — por exemplo, se é o vírus que está causando os sintomas ou a resposta imune”, escreveram os autores. “O monitoramento viral estendido em nosso estudo foi clinicamente necessário porque em abril de 2020 não sabíamos se esse medicamento seria eficaz. A adoção dessa abordagem mais amplamente poderia esclarecer ainda mais a melhor forma de usar o remdesvir para benefício clínico”, concluíram.

"A resposta dramática do vírus à droga sugere que ele pode ser um tratamento altamente eficaz, pelo menos para alguns pacientes”, diz Nicholas Matheson, pesquisador do Instituto de Imunologia Terapêutica e Doenças Infecciosas de Cambridge

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