Assintomáticos: grande estudo comprova contágio

Correio Braziliense
Jornalista: Paloma Oliveto

Um dos enigmas ainda não solucionados do Sars-CoV-2 é a capacidade de transmissão do vírus por pacientes assintomáticos. Enquanto alguns estudos demonstraram que pessoas infectadas, mas sem sintomas, podem espalhar o patógeno, outros mostraram o contrário. Agora, uma pesquisa com um número significativo de pessoas — quase 2 mil — em um ambiente controlado, um local de treinamento da Marinha norte-americana, demonstra que, apesar das medidas de quarentena com supervisão rigorosa, esse tipo de caso acontece.

No estudo, publicado na revista The New England Journal of Medicine, pesquisadores da Escola de Medicina Icahn de Monte Sinai, em Nova York, e do Centro de Pesquisa Médica Naval utilizaram dados de novos recrutas da Marinha enquanto eles estavam sob uma quarentena supervisionada de duas semanas. Os resultados mostraram que poucos dos infectados tinham sintomas antes de receber o diagnóstico de covid-19. Ainda assim, a transmissão ocorreu, apesar da implementação das medidas de higiene e distanciamento social.

“Os dados revelaram a propagação assintomática do vírus, mesmo sob ordens militares estritas de quarentena e medidas de saúde pública que, provavelmente, foram cumpridas com mais rigor do que seria possível em outros ambientes com alta circulação de jovens, como campi universitários”, diz Stuart Sealfon, professor de neurologia no Monte Sinai e um dos autores do estudo. De acordo com ele, diariamente eram feitas medições da temperatura dos recrutas e, mesmo entre os infectados, os casos só foram detectados por exames, feitos independentemente de os jovens apresentarem ou não algum sintoma. Atualmente, o protocolo da maioria dos países, incluindo o Brasil, é de se testar apenas pessoas que demonstram algum sinal da doença, como febre, falta de ar, tosse e perda de olfato/paladar.

“O vírus foi amplamente transmitido dentro de um determinado grupo de pelotão, onde os recrutas tendiam a ficar próximos uns dos outros”, continua Sealfon. “Essa é uma infecção difícil de controlar em jovens, mesmo com supervisão rigorosa do uso da máscara, distanciamento social e outras medidas de mitigação”, destaca. De acordo com o médico, locais como escolas, ambiente de trabalho e batalhões militares e de polícia deveriam testar os frequentadores mesmo na ausência de sintomas.

Um mês

O estudo contou com 1.848 participantes, matriculados em nove classes diferentes de recrutas da Marinha, cada uma contendo de 350 a 450 jovens, entre 15 de maio e o fim de julho. Os voluntários aceitaram participar de uma quarentena de duas semanas em casa, antes de começarem o treinamento. Assim que chegaram, foram obrigados a seguir medidas estritas de controle, ficando hospedados em quartos para duas pessoas por 15 dias — a duração da pesquisa — antes do início das atividades de aprendizado naval reais.

A quarentena do grupo supervisionado ocorreu em um colégio usado apenas para essa finalidade. Cada turma de recrutamento ficava em edifícios diferentes e tinha horários de jantar e de treinamento diferentes, de modo que elas não interagiam.

As aulas semanais foram divididas em pelotões de 50 a 60 jovens. Durante o período de estudo, todos os recrutas usaram máscaras de tecido, observaram o distanciamento social de pelo menos um 1,8m e lavaram as mãos regularmente. Além disso, cada um tinha apenas um colega de quarto. A maior parte das aulas, incluindo exercícios e aprendizado de costumes e tradições militares, era ministrada ao ar livre. Após o término da quarentena de cada turma, uma limpeza profunda, com uso de alvejante nas superfícies, foi feita em todas as salas e áreas comuns dos dormitórios para a chegada da próxima turma.

PCR

A fim de determinar a prevalência e a transmissão assintomática e sintomática do Sars-CoV-2 durante a quarentena supervisionada, os participantes foram testados dois, sete e 14 dias após a chegada, com o teste de esfregaço nasal (PCR), considerado o padrão ouro para diagnóstico da covid-19. A análise dos genomas virais dos recrutas infectados identificou que seis grupos de jovens estavam temporal e espacialmente associados, revelando diversos eventos de transmissão local durante o isolamento.

“A identificação de seis grupos de transmissão independentes, definidos por mutações distintas, indica que houve várias introduções e surtos de Sars-CoV-2 durante a quarentena supervisionada”, diz Harm van Bakel, professor de genética e ciências genômicas em Monte Sinai. “Os dados desse grande estudo indicam que, para reduzir a transmissão do coronavírus em grupos e prevenir o espalhamento para a comunidade em geral, precisamos estabelecer testes de vigilância várias vezes em todos os indivíduos, independentemente dos sintomas.”

“Essa é uma infecção difícil de controlar em jovens, mesmo com supervisão rigorosa do uso da máscara, distanciamento social e outras medidas de mitigação” Stuart Sealfon, professor de neurologia no Monte Sinai e um dos autores do estudo

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