Brasileiras vão à Justiça contra Essure, da Bayer

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Divulgação

Mulheres afirmam que dispositivo de esterilização causou sangramento, dores e depressão

Por Marcos de Moura e Souza — De São Paulo


O pesadelo vivido por mulheres no Brasil atribuído a um dispositivo de esterilização da farmacêutica Bayer deve chegar em breve aos tribunais na Europa.

Um escritório de advocacia sediado em Londres prepara uma ação coletiva contra a companhia em nome de cerca de 300 brasileiras, que implantaram o Essure.


Elas se queixam que, após a implantação, passaram a sofrer de sangramentos genitais constantes, dores abdominais intensas, perda de cabelo, depressão, entre outros sintomas. É um quadro semelhante ao relatado por mulheres que usam o dispositivo na Europa e nos EUA.

Uma das sócias do escritório que prepara a ação, o PGMBM, a brasileira Gabriella Bianchini, disse ao Valor que em meados do ano, o escritório protocolou uma ação na Holanda também envolvendo mulheres que implantaram o Essure. Outra ação será ajuizada na Inglaterra nos próximos dias.

“Nós representamos por volta de 2 mil mulheres entre o Reino Unido e Holanda. No Brasil nós temos por volta de 300 clientes”, afirma Gabriella. “Pretendemos ajuizar uma ação contra a Bayer [referente a esses casos no Brasil] no começo do ano que vem em algum país da Europa. A gente acha melhor não dizer agora qual”, disse a advogada.

Gabriella afirmou que não está definido ainda o valor da indenização a ser pedido às brasileiras.

Em agosto, a multinacional alemã concordou em pagar US$ 1,6 bilhão, por meio de um acordo, a mulheres nos EUA que vinham acionando a empresa por causa do Essure. O acordo, segundo informado na época, abarcou 90% das 39 mil ações que corriam nos tribunais da Califórnia e da Pennsylvania.

Em vista desse acordo, os advogados do PGMBM acreditam que a Bayer poderá adotar uma postura favorável a negociações com vítimas também na Europa.

O Essure é um dispositivo inserido nas tubas uterinas e que provoca uma obstrução irreversível, impedindo a concepção. O dispositivo não lidera hormônios. É uma solução diferente dos dispositivos intrauterinos (DIUs), porque estes são inseridos no útero, liberam hormônios e são reversíveis. O Essure foi apresentado como uma opção mais prática em comparação à laqueadura.


No Brasil, ele foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2009. Mas entre 2017 e 2018, a Bayer decidiu tirar o Essure do mercado. A empresa diz que a decisão foi baseada em “motivos comerciais e estratégicos de negócios, sem relação com a segurança e eficácia do anticoncepcional”.

“Todos os produtos e procedimentos para controle de natalidade têm riscos, e a totalidade de evidências científicas demonstram que o perfil de segurança de Essure é consistente com os riscos identificados no momento de sua aprovação e é comparável a outras opções de controle de natalidade permanente”, informou a Bayer no Brasil. A empresa diz que não foi informada sobre os planos do escritório em Londres.

Gabriella afirma que não dispõe de um número oficial sobre quantas mulheres implantaram o aparelho no Brasil. Questionada, a empresa não deu essa informação. A advogada diz que deve ser algo próximo de 8 mil.

“Eu implantei o Essure em 2015. Estava com 36 anos e já tinha quatro filhos”, diz Mônica Estelita, autora de uma página no Facebook chamada Vítimas do Essure BR. “Eu passei a ficar praticamente só dois dias sem fluxo menstrual, passei a ter muita queda de cabelo, a ter dores pelo corpo, dores na pélvis e um dia me vi na cama sem vontade de levantar e pensei ‘como vou ficar em depressão com quatro filhos?’, conta Mônica, que é produtora de eventos em vive em Praia Grande (SP).

“Perdi dois empregos em quatro anos porque não rendia. Eu ficava menstruada sempre. Quem é que vai pagar por isso?”, questiona Rosa Germano, auxiliar administrativa, de 34 anos, que vive no Rio.

Ela e Mônica - representadas pelo PGMBM - implantaram o aparelho pela rede SUS e alguns anos depois foram operadas pelo SUS para sua retirada. No caso delas, como de outras mulheres, acabaram tendo de tirar o útero.


“A gente quer que a Bayer se responsabilize, mas eles não assumem nem que o dispositivo não deu certo”, afirma Rosa.

O Ministério Público e a Defensoria Pública também têm atuado para tentar garantir exames e as cirurgias.

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