Depressão e ansiedade afetam o corpo de modo grave

Sintomas de depressão: 13 sinais que você precisa conhecer | Vittude

 

by Jane E. Brody | Folha de S.Paulo 

 

Não causa surpresa quando uma pessoa fica ansiosa ou deprimida ao ser diagnosticada com doença cardíaca, câncer ou outro problema físico que limite ou ameace sua vida. Mas o contrário também pode ser verdade: a ansiedade ou a depressão em excesso podem contribuir para o desenvolvimento de uma doença física séria e até impedir a capacidade de suportá-la ou de se recuperar.

As potenciais consequências são especialmente oportunas, porque o estresse atual e as disrupções da pandemia continuam impondo um peso à saúde mental.

O organismo humano não reconhece a separação feita pelos médicos entre doenças mentais e físicas. Ao contrário, a mente e o corpo formam uma rua de mão dupla.

O que acontece dentro da cabeça de uma pessoa pode ter efeitos nocivos por todo o corpo, assim como o inverso. Uma doença mental não tratada pode aumentar de maneira significativa o risco de a pessoa adoecer fisicamente, e problemas físicos podem resultar em comportamentos que agravam as condições mentais.

Em estudos que acompanharam pacientes com câncer de seio, por exemplo, o doutor David Spiegel e seus colegas na escola de medicina da Universidade Stanford mostraram, décadas atrás, que as mulheres cuja depressão estava diminuindo viviam mais que aquelas cuja depressão estava se agravando.

Sua pesquisa e outros estudos mostraram claramente que “o cérebro está intimamente conectado ao corpo, e o corpo ao cérebro”, disse Spiegel. “O corpo tende a reagir ao estresse mental como se fosse um estresse físico.”

Apesar dessa evidência, ele e outros especialistas dizem que o transtorno emocional crônico muitas vezes é desprezado pelos médicos. É comum um profissional prescrever uma terapia para problemas físicos, como doença cardíaca ou diabetes, mas não entender por que alguns pacientes pioram em vez de melhorar.

Muitas pessoas relutam em buscar tratamento para problemas emocionais. Algumas podem ter medo de ser estigmatizadas e tentam tratar o transtorno emocional adotando comportamentos como beber demais ou usar drogas.

E às vezes parentes e amigos inadvertidamente reforçam a negação de transtorno mental de uma pessoa rotulando-o como “é apenas o jeito dela”, e não fazem nada para incentivá-la a buscar ajuda.

Os transtornos de ansiedade afetam quase 20% dos adultos nos EUA. Isso significa que milhões de pessoas são alvo de uma abundância de reações de “lutar ou fugir”, que preparam o corpo para agir.

Quando você está estressado, o cérebro responde provocando a liberação do hormônio cortisol, o sistema de alarme da natureza. Ele evoluiu para ajudar os animais a enfrentarem ameaças aumentando o ritmo da respiração e dos batimentos cardíacos e redirecionando o fluxo de sangue dos órgãos abdominais para os músculos que ajudam a enfrentar ou escapar do perigo.

Essas ações protetoras derivam dos neurotransmissores epinefrina e norepinefrina, que estimulam o sistema nervoso simpático e colocam o corpo em alerta. Mas, quando eles são invocados com demasiada frequência e de maneira indiscriminada, o superestímulo crônico pode resultar em todos os tipos de males físicos, incluindo indigestão, cãibras, diarreia ou constipação, e um risco maior de ataque cardíaco ou derrame.

É normal se sentir deprimido de vez em quando, porém mais de 6% dos adultos têm sentimentos tão persistentes de depressão que eles perturbam os relacionamentos pessoais, interferem no trabalho e na diversão e prejudicam a capacidade de enfrentar os desafios do dia a dia.

Para potencialmente agravar as coisas, o excesso de ansiedade e a depressão muitas vezes coexistem, deixando as pessoas vulneráveis a uma série de problemas físicos e incapazes de adotar e manter a terapia necessária. A ansiedade persistente e a depressão são altamente tratáveis com medicamentos e terapia, mas sem tratamento essas condições tendem a se agravar.

Segundo o doutor John Frownfelter, o tratamento de qualquer condição funciona melhor quando o médico entende “as pressões que o paciente enfrenta que afetam seu comportamento e resultam em danos clínicos”.

Frownfelter é diretor médico de uma startup chamada Jvion, que usa inteligência artificial para identificar não somente fatores médicos, mas psicológicos, sociais e comportamentais que podem impactar a eficácia do tratamento para a saúde do paciente. Seu objetivo é promover abordagens mais holísticas do tratamento, que lidam com o paciente inteiro, corpo e mente combinados.

As análises usadas por Jvion podem alertar um médico quando a depressão subjacente talvez esteja prejudicando a eficácia do tratamento prescrito para outra condição. Por exemplo, pacientes que são tratados de diabetes e se sentem desanimados podem deixar de melhorar porque tomam a medicação prescrita apenas esporadicamente e não seguem a dieta adequada, disse Frownfelter.

“O que não falamos o suficiente é que a depressão pode levar a doenças crônicas. Pacientes com depressão podem não ter motivação para se exercitar regularmente ou cozinhar refeições saudáveis. Muitos têm dificuldade para dormir adequadamente”, escreveu Frownfelter em julho na revista Medpage Today.

Algumas mudanças no atendimento médico durante a pandemia permitiram o acesso a psicoterapeutas que podem estar em outro país. Os pacientes também podem conseguir se tratar sem a ajuda direta de um profissional.

Spiegel e seus colegas criaram um aplicativo, chamado Reveri, que ensina às pessoas técnicas destinadas a melhorar o sono, reduzir a dor e a suprimir ou abandonar o fumo.

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