Entenda o que mutações no novo coronavírus podem significar

Folha de S.Paulo
Jornalista: Phillippe Watanabe

O governo da Dinamarca anunciou nesta semana que sacrificará todos os visons do país por causa de uma mutação do novo coronavírus que foi detectada nos animais.

O que essa mutação significa e quão efetiva essa medida é ainda não estão claros, já que os dados não foram compartilhados com a comunidade científica. Mas já é possível dizer que a notícia não deve gerar pânico. Mutações em vírus são comuns e não necessariamente alteram o comportamento e a periculosidade de uma doença.

O país informou a OMS (Organização Mundial da Saúde) sobre a mutação, que já teria infectado 12 pessoas na região de Jutland. A entidade afirmou ao jornal The New York Times que a Dinamarca está “investigando a importância epidemiológica e virológica dessas descobertas” e que está em em contato com o país para obter mais detalhes.

Veja abaixo perguntas e respostas sobre mutações do Sars-CoV-2, o coronavírus causador da Covid-19.

O coronavírus sofre mutações? Isso significa que ele pode ficar mais perigoso?
É comum e esperado que os vírus sofram mutações. Portanto, não causa surpresa a existência de versões mutantes do Sars-CoV-2 e já há estudos sobre elas.

“Estão sequenciando várias mutações na Europa e isso é normal. Vamos esbarrar nelas e isso não é um problema”, diz Natália Pasternak, doutora em microbiologia pela USP e presidente do Instituto Questão de Ciência. “O que cada mutação representa precisa ser estudado. Ter mutação não significa sozinho algo bom ou ruim.”

Esper Kallás, infectologista e professor da Faculdade de Medicina da USP, afirma que a mutação de um vírus que causa um perigo maior é algo mais mais próximo da ficção do que da realidade.

Casos de mutação no SarsCoV-2 já foram estudadas em Houston (EUA), segundo Raquel Stucchi, pesquisadora da Unicamp e consultora da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia). A mutação observada, porém, não trouxe evolução clínica diferente.

Mas mutações com maior potencial de espalhamento, podem, de fato, acabar selecionadas, tornando-se mais presentes em relação a outras cepas, diz Kallás. “Do ponto de vista de seleção natural, a situação em que o vírus é menos perceptível e mais transmissível é melhor para ele.”

Outro ponto que pode trazer tranquilidade é o histórico viral da humanidade. “Viroses, de uma forma geral, mudam suas características ao longo do tempo durante um surto, uma epidemia ou uma pandemia? A regra diz que não.”

As mutações podem levar a reinfecções?
De forma geral, sim, diz Stucchi. Atualmente, classifica-se como reinfecção alguém infectado por um Sars-CoV-2 com material genético distinto da primeira infecção.

A especialista afirma, porém, que esse conceito talvez tenha que ser modificado em breve, considerando que os pesquisadores ainda estão tentando entender a longevidade da imunidade à Covid-19.

É possível que as mutações atrapalhem futuras vacinas?
Não é possível responder a pergunta neste momento por causa da falta de estudos sobre o assunto. Mas, sabendo do potencial de mutação de vírus, cientistas levam isso em conta nos testes de vacinas.

Como exemplo, Pasternak diz que a Pfizer demonstrou, na fase 2 dos estudos para a vacina contra a Covid-19, que anticorpos gerados em pessoas que tomaram a vacina conseguiram neutralizar até cepas mutantes do Sars-CoV-2.

Faz sentido monitorar mutações em animais? Pode ser necessário matá-los?
Os especialistas ouvidos pela Folha afirmam que é importante monitorar as mutações que podem ocorrer tanto em animais quanto em humanos.

No entanto, ainda não é possível dizer se faz sentido sacrificar os visons na Dinamarca.

Segundo os pesquisadores, é provável que se trate de uma ação preventiva. Stucchi afirma que essa poderia ser uma forma de impedir cadeias de transmissão e retransmissão entre animais e humanos, situação com possibilidade de causar um maior número de mutações no vírus.

“O coronavírus pula fácil de uma espécie para outra. Todo o tipo de vigilância é relevante em animais e humanos, e tem que ser feito com cuidado para não causar alarde”, diz Pasternak. “Saber quais são os vírus mutantes circulando é uma informação valiosa, mas não quer dizer que seja uma informação perigosa.”

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