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O Estado de S.Paulo 
Jornalista: Gonçalo Junior

21/08/20 - Um estudo da Escola Médica da Universidade Harvard aponta que crianças têm alta carga viral do novo coronavírus e podem ser mais contagiosas do que adultos, incluindo os internados em unidades de terapia intensiva (UTI) De acordo com a pesquisa, o potencial de disseminação do vírus entre os mais jovens tem sido subestimado desde o início da pandemia. Os resultados já causam polêmica entre cientistas brasileiros, no momento em que se discute o melhor momento de retomar aulas presenciais.

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O estudo, publicado na revista Journal of Pediatrics, envolveu 192 pessoas de 0 a 22 anos que estavam em unidades de atendimento de urgência por suspeita de covid-19. Quarenta e nove – um quarto – testaram positivo para o vírus.

Outras 18 foram incluídas no estudo após serem diagnosticadas com síndrome inflamatória multissistêmica, uma doença grave relacionada à covid que pode se desenvolver várias semanas após uma infecção. “Ao contrário do que acreditávamos, com base nos dados epidemiológicos, as crianças não são poupadas desta pandemia”, disse Alessio Fasano, diretor do Centro de Pesquisa de Biologia e Imunologia do Hospital Geral de Massachusetts e um dos autores.

Fasano e seus colegas do Massachusetts General e do Hospital Pediátrico MassGeneral, de Boston (EUA), observaram que as crianças infectadas têm um nível significativamente mais alto de vírus nas vias aéreas – parte do corpo que é um dos principais vetores de transmissão – do que os adultos hospitalizados em UTI. Os altos níveis virais foram encontrados em bebês e adultos jovens, embora a maioria dos participantes tivesse entre 11 e 17 anos.

Os autores sugerem que outros cientistas se equivocaram ao analisar inicialmente a evolução epidemiológica da pandemia, sob a perspectiva sintomática da doença. Acreditavase que o número reduzido de receptores do coronavírus – a chamada proteína ACE2, pela qual a proteína spike do SarsCoV-2 entra nas células humanas – levaria a uma menor carga viral nas crianças. A investigação questiona essa ligação e alerta que crianças podem ser mais contagiosas independentemente da suscetibilidade à covid-19.

Segundo Fasano, como a maioria das infectadas com o coronavírus tem sintomas muito leves, elas foram amplamente negligenciadas. “Existem alguns dados conflitantes sobre o grau em que as crianças podem ser contagiosas”, disse a Dra. Marybeth Sexton, professora assistente de doenças infecciosas da Escola de Medicina da Emory University em Atlanta, que não participou do estudo. “Esta é mais uma evidência de que podemos ver as crianças como fontes de infecção.”

No Brasil. Entre os cientistas brasileiros, o estudo de Harvard foi recebido com cautela. Uma das razões é a restrição da amostra, que não permitiria conclusões mais consistentes. Por outro lado, a pesquisa preocupa os educadores (mais informações nesta página), pois reafirma os riscos de transmissão no momento do retorno das aulas.

Marco Aurélio Sáfadi, presidente do departamento científico de infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), afirma que os dados são insuficientes para definir as crianças como vetores importantes de transmissão. “Trata-se de um estudo pequeno. Ele sugere que as crianças podem desempenhar um papel importante como vetores, mas não comprova isso de maneira inequívoca. É preciso cautela na interpretação dos resultados”, diz o especialista, que também é diretor do Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

O pediatra Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações da SBP, afirma que o estudo é bem feito, mas vai na contramão de trabalhos anteriores. “Em relação ao número de casos confirmados por onde a pandemia passa, em China, Europa e Estados Unidos as crianças com menos de 10 anos de idade respondem por apenas 1% ou 2% dos casos diagnosticados”, avalia.“É um estudo a mais para a gente avaliar, mas clinicamente não é o que a gente vê muito.”

Mais importante do que analisar a carga viral de cada criança é acompanhar a experiência dos países que já promoveram a abertura das escolas, segundo o médico Fábio Jung, um dos autores de um estudo que analisou a reabertura em 15 países. A Alemanha, por exemplo, conseguiu manter a tendência de queda dos casos. Lá, as medidas mais importantes foram a aplicação de testes em alunos, aferição de temperatura, distanciamento físico nas salas, higienização das mãos, uso de máscaras e álcool em gel. “Existem dois artigos publicados em revistas de primeira linha que, no caso da vírus da gripe, mostram que não existe correlação entre a carga viral, a quantidade de vírus medida pela via aérea do paciente, com a transmissibilidade. Por outro lado, nós mapeamos esses 15 países e eles não tiveram mudanças grandes nas curvas epidemiológicas.”

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