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Valor Econômico 
Jornalista: Maria Luíza Filgueiras

09/09/20 - Ele fundou a plataforma de comércio eletrônico Mercado Livre, foi o primeiro investidor institucional a acreditar no Nubank e já tem mais três ou quatro unicórnios brasileiros em carteira.

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O argentino Hernan Kazah, cofundador da Kaszek, maior gestora de capital de risco da América Latina, é um iniciado do mercado de tecnologia e está acostumado a fazer apostas arriscadas - mesmo quando o capital e os ativos eram escassos na região, duas décadas atrás. Agora, a disputa aumentou, sobra capital vindo de outros fundos de risco e de participação, e a pandemia acendeu ainda mais o interesse por empresas do setor. Kazah continua comprando. A gestora ajustou os novos alvos e vê uma série de desafios pela frente com o apetite elevado do mercado por startups.

“A covid empurrou os setores de saúde e educação para a era digital, dois setores onde a tecnologia tinha feito pouco até agora. Eram setores bastante conservadores, por seus diferentes motivos, e que a pandemia provocou uma mudança relevante de uma hora para outra”, diz Kazah.

Ele cita, por exemplo, a rápida aprovação de telemedicina no Brasil, durante a quarentena, e o acesso a cursos internacionais que só eram disponibilizados presencialmente por universidades renomadas. “Em saúde, havia avanço tecnológico em tratamentos e vacinas, mas muito pouco no gerenciamento do negócio e no relacionamento entre paciente e médico. Agora que todo mundo foi para o remoto por necessidade, viu alguma vantagem, o que vai direcionar para um modelo mais híbrido no pós pandemia, de tradicional e digital”, avalia.

Além das startups do setor de saúde e educação, a gestora continuará investindo no setor financeiro. A Kaszek levantou dois fundos no ano passado, no montante de US$ 600 milhões, dos quais cerca de US$ 480 milhões ainda estão no caixa para investir. Para as fintechs, Kazah vê uma segunda onda de crescimento. “O começo foi muito conectado com o consumidor, com produtos e serviços para o usuário final. Entramos numa segunda onda ligada à infraestrutura do sistema financeiro, tudo até agora foi construído com tecnologia antiga, informações segmentadas de banco em banco”, diz. “Os investimentos e as startups agora começam a facilitar esse fluxo de informações e de dinheiro, com nova infraestrutura, com consolidação de dados entre contas, por exemplo.”

A Kaszek também reserva boa parte do capital para acompanhar novas rodadas de captação de empresas que já tem no portfólio. Recentemente, por exemplo, o Nubank anunciou uma captação de US$ 300 milhões - a Kaszek, que investe no banco digital desde que foi criado, em 2013, acompanhou mais uma vez.

Se o capital tem ficado abundante, definir a empresa certa e o preço certo continua sendo habilidade de poucos. Kazah ressalta que, nessas transações, o jogo é de dez anos para frente. “Futurologia é sempre difícil. Há um consenso hoje de que o maior potencial de criação de valor está na área de tecnologia, mas se as empresas devem valer 50% mais ou 20% menos, eu nunca sei”, diz.

Se para quem é experiente no setor o tal do “valuation” (ou precificação, na tradução do jargão em inglês) ainda é um mistério, é possível esperar alguns tropeços dos novos entrantes. No ano passado, o volume de investimento de venture capital na América Latina foi recorde. Os fundos continuam se capitalizando e algumas startups já vão testar estreia na bolsa brasileira. Kazah acredita que pode haver distorções de preços nessa corrida maluca e que alguns investidores podem sair machucados, mas outros vão se adaptar e ajudar as empresas a crescerem.

“O pior que pode acontecer é fazerem escolha com a mesma cabeça antiga e acabarem numa dinâmica de seleção adversa, montando um portfólio pobre”, diz o investidor. Ele se refere à dinâmica de mercado em que os vendedores definem o jogo com mais experiência do que os compradores - e os fundos acabam comprando o que lhes é oferecido, e não o que eles escolheriam ativamente.

Definir a composição de portfólio é essencial para o sucesso de um fundo porque inevitavelmente parte das escolhas vai fracassar. “Somos investidores da etapa inicial das companhias, então buscamos um portfólio de 20 a 25 nomes e torcemos para que todos sejam empreendedores comprometidos e entreguem o que projetamos”, diz. “Mas a verdade é que provavelmente 75% deles não vão conseguir criar o que estão imaginando, e precisamos que os outros 25% mais que compensem. Dentro desse grupo dos 25%, 5% são os que realmente fazem uma grande diferença”, afirma.

Kazah define o processo de seleção como darwiniano, ao olhar de 100 a 200 empresas para escolher um investimento, que pode dar certo ou errado. “É melhor aceitar o risco de entrar numa companhia que não se prove tão incrível e dê errado do que perder uma boa oportunidade. No primeiro caso, terei perdido US$ 10 milhões, no segundo caso, posso ter perdido US$ 300 milhões”, compara.

Essa multiplicação depende do ritmo de crescimento que a companhia conseguir imprimir a seu negócio, o que também é a dificuldade de encontrar um valor de entrada. “A diferença de preço é brutal conforme a mágica de crescimento acumulado, se a companhia vai crescer 50% ao ano ou 100% ao ano, e sua taxa de desconto será otimista ou conservadora conforme essa projeção. No fim das contas, para ser investidor de venture capital, tem de ter o conforto de conviver com a incerteza de não saber exatamente o valor certo”, define.

O trunfo da Kaszek para driblar essa incerteza é apostar menos nas contas e mais nas cabeças. Entre companhias com boas perspectivas de crescimento, ideias mirabolantes e potencial de lucratividade alta, o ponto determinante de escolha da Kaszek é quem as lidera. “Temos muitos anos de aprendizado no reconhecimento de padrões. Muitas vezes as contas não fecham e o que determina é a paixão do empreendedor, o compromisso dele com o longo prazo e o conhecimento tecnológico. Buscamos ‘rainmakers’”, define.

Na sua lista de companhias brasileiras, ele cita o Nubank, o e-commerce de móveis MadeiraMadeira, o aplicativo de locação de imóveis QuintoAndar, a plataforma de crédito on-line Creditas, a empresa de logística Loggi e a companhia de planos de academias de ginástica Gympass. “Procuramos empreendedores que escutem muito, dentro da equipe e fora dela, mas que tenham elevado grau de autoconfiança para tomar decisões. É difícil encontrar pessoas que tenham as duas características”, diz.

Mas Kazah, que viveu a bolha da internet como empreendedor de tecnologia, também vê uma mudança relevante e positiva de cenário. Ele lembra que, quando fundou o Mercado Livre, montou uma apresentação em que as quatro páginas iniciais apresentavam a América Latina. “A realidade hoje é totalmente diferente. O Brasil está no radar dos investidores globais e as companhias são reais, com usuários, com geração de receita, com administração super profissional e focada no longo prazo, com penetração de internet relevante”, diz. “Muitas companhias brasileiras de tecnologia vão ser as novas líderes da região, como Itaú e Petrobras foram nas últimas décadas.”

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