Priscila Pankratz Fantin e seus primos na kombi dada ao avô — Foto: Arquivo pessoal
Programa do banco Citi reúne herdeiros de empresas com faturamento entre R$ 200 milhões e R$ 2 bilhões
Por Adriana Cotias, Valor — São Paulo
Foi na mesma kombi presenteada ao avô em 2007 que Priscila Pankratz Fantin conseguiu arrastar alguns de seus primos para um curso de governança familiar na unidade de Curitiba da Fundação Getulio Vargas (FGV) no fim de 2018. Aos 24 anos, a jovem já reflete que rumos terá o negócio da família, a rede de supermercados Jacomar, que tem 14 lojas na região metropolitana de Curitiba e interior do Paraná, e um faturamento anual na casa dos R$ 600 milhões.
“Uma vez ouvi uma frase que a sucessão familiar começa quando a próxima geração entra [no negócio] e não quando os outros estão saindo”, disse Priscila, no intervalo de uma apresentação do “Winter Training” do Citi.
O programa reuniu por duas semanas jovens herdeiros e futuros líderes de grandes grupos empresariais familiares do Brasil, no fim de julho, na sede do banco. Nessa edição, foram 31 participantes de empresas como Drogaria São Paulo, Laticínios Jussara, Pif Paf e Líder Taxi Aéreo.
Com mais de 50 anos de história, o grupo fundado pelo avô de Priscila, Jacob Pankratz, como uma mercearia de secos e molhados e que fazia entrega de leite no fim da década de 60 — numa velha kombi —, está na terceira geração. Jacomar, aliás, vem da junção dos nomes dos avós Jacob e Maria.
Mas à medida que os membros se multiplicaram — os avós tiveram oito filhos, que por sua vez viraram 20 netos e 12 bisnetos, sem contar os cônjuges —, mais difícil é tratar de temas relacionados ao futuro da liderança e da renovação das estratégias para a perpetuação da rede de varejo.
Formada em economia, e já atuando na área de controladoria do grupo, Priscila e uma tia professora têm fomentado esse tipo de discussão. “Consegui ter uma base de apoio da segunda geração para trazer outros membros da família para a conversa. Em eventos assim dá para perceber que outras pessoas têm dificuldades parecidas.”
A preocupação de Priscila e de outros jovens que estiveram na imersão de inverno do Citi não é sem razão, segundo Roberto Vidal, consultor sênior da Cambridge Family Enterprise Group. “De modo geral, as empresas familiares têm, na média, performance superior às não familiares, mas a taxa de mortalidade é grande”, disse.
Ele comentou que só 30% dos negócios chegam à segunda geração, 15% à a terceira e, na quarta, só 10% sobrevivem. “Por que fracassam? Fracassam porque há mudanças na indústria, perda de apetite por risco, por conflitos na sucessão, má gestão ou venda do negócio.”
Não é à toa que o provérbio conhecido em português como “pai rico, filho nobre e neto pobre” encontra referências em diversos idiomas como no italiano “Della roba di mal acquisto non ne gode il terzo erede”, no inglês “ill-gotten goods thrive not to the third heir” ou no francês “bien mal acquis ne profitant guère, la troisème génération” — que grosso modo significam que “bens mal adquiridos não chegam aos netos.”
Comentários