O remédio é a inovação

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Inovação: O ano começou agitado — e saudável — para a indústria farmacêutica mundial.

Em janeiro, a centenária americana Bristol-Myers Squibb (BMS), conhecida por ter entre suas criações o Luftal e o Naldecon, anunciou a compra do gigante de biotecnologia Celgene por vistosos 74 bilhões de dólares.

Seu objetivo não era exatamente adquirir os laboratórios ou as fábricas de medicamentos e sim as cada dia mais valiosas patentes de tratamentos modernos — e caríssimos — para males complexos como câncer e doenças autoimunes.

Para evitarem gastar tanto dinheiro numa só tacada, as concorrentes globais da BMS estão à caça de startups em estágios mais incipientes de desenvolvimento — e que, por isso, custam menos. Há duas semanas, a Peloton Therapeutics, cujo carro-chefe é um novo tratamento para o câncer renal, foi comprada pela alemã Merck por 1 bilhão de dólares — valor que pode dobrar se a empresa, fundada em 2010, no Texas, cumprir metas de vendas e conseguir aprovações regulatórias.

A lista de grandes negociações no setor conta ainda com o pagamento de 8 bilhões de dólares que a tradicional americana Eli Lilly (do célebre Prozac) aceitou fazer para ter a nova-iorquina Loxo Oncology, de tratamentos para cânceres raros, além dos 4,8 bilhões de dólares que a suíça Roche ofereceu pela também americana Spark Therapeutics, de terapias genéticas.

O movimento é uma mudança do tradicional modelo de negócios do setor, que sempre teve como motor o altíssimo investimento em pesquisa e desenvolvimento de remédios. Ao apostarem nessa nova direção, as grandes farmacêuticas dão a terapias de vanguarda uma escala global — o que amplia a oferta de medicamentos de ponta, capazes mesmo de salvar vidas.

A busca dos gigantes farmacêuticos por inovação fora dos próprios laboratórios não é só uma questão de custo. É que a expertise tradicional de desenvolver moléculas que interagem com o corpo humano, vírus e bactérias produz cada vez menos resultados.

Os remédios de base química, que enriqueceram a indústria a partir dos anos 60, já foram exaustivamente explorados. A maior longevidade da população e a incidência de doenças crônicas, como diabetes, exigem terapias que estão além da capacidade dos remédios alopáticos.

É aí que entram a biotecnologia e a nanotecnologia, inaugurando um promissor horizonte de oportunidades para desbravar. Para não ficarem no fim da fila, as empresas da área estão indo atrás de quem está nessa vanguarda. No primeiro trimestre de 2019, as fusões e aquisições dos setores farmacêutico e de ciências da vida — recorte que inclui biotecnologia e aparelhos médicos — somaram 147,3 bilhões de dólares.

Foi o maior resultado trimestral dos últimos dois anos, segundo a consultoria PwC. No Brasil, o movimento de investimentos em companhias inovadoras também já se insinua. A indústria local se concentra na fabricação de genéricos e similares, mas o cenário está mudando.

A Roche, que anunciou o fechamento de sua unidade brasileira de produção em cinco anos, prevê repetir aqui neste 2019 os investimentos de quase 190 milhões de reais registrados em 2018 em pesquisa e desenvolvimento. A empresa aposta em um programa de seleção de startups que já está em sua terceira edição. A suíça Novartis segue pelo mesmo caminho, e ainda promete anunciar em junho as seis primeiras companhias brasileiras a receber seus aportes financeiros.

Os avanços também vêm de indústrias nacionais. A Eurofarma, após uma experiência bem-sucedida com programas para startups, lançará um fundo de investimentos no segundo semestre. A empresa acabou de fechar um acordo de cooperação com a Universidade Federal do Rio de Janeiro, para fortalecer a pesquisa de novos medicamentos.

O mesmo direcionamento tem movido a Libbs. Em seu programa Portas Abertas, startups recebem aconselhamento ou até se tornam fornecedoras. Uma delas, a paulistana Pluricell, que desenvolve um tratamento para regenerar células cardíacas de pessoas que sobreviveram a infartos, recebeu em maio um aporte da Libbs de 1 milhão de dólares. A inovação da Pluricell pode levar até dez anos para entrar no mercado. “É uma aposta de alto risco”, afirma Lívia Prado, executiva de inovação da ­Libbs. “Mas, se der certo, pode gerar uma grande revolução.”

Fonte: Veja

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