Os prós e contras da corrida, segundo a ciência

Kai Pfaffenbach / Reuters
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Usain Bolt sorri durante semifinal dos 100m:


Lucas Agrela Lucas Agrela, de EXAME

São Paulo – Com um sorriso no rosto, o velocista jamaicano Usain Bolt deixou todos os concorrentes para trás na prova de 100 metros rasos da Olimpíada Rio-2016, realizada no último sábado. Historicamente, eventos esportivos como esse aumentam o interesse pela prática de atividades físicas. No entanto, a corrida tem benefícios e malefícios há muito estudados pela ciência.

A corrida pode melhorar a sua qualidade de vida e chega até mesmo a dar um "barato" a algumas pessoas – no caso de Bolt, provavelmente, o sorriso foi por antever a vitória olímpica.

A atividade física proporciona a liberação de neurotransmissores no nosso corpo. Essas substâncias químicas são produzidas pelos neurônios e podem transmitir informações de um neurônio a outro, além de provocar estado de bem-estar temporário.

"O exercício agudo tem uma liberação intensa de endorfinas e dopamina. Principalmente, a beta-endorfina é a responsável pela sensação de bem-estar na corrida", afirmou Karina Bonizi Ortiz, médica do esporte, em entrevista a EXAME.com.

O mecanismo de recompensa do cérebro é mediado pela dopamina, um neurotransmissor envolvido no prazer. A cocaína, o açúcar e outras substâncias viciantes são usam essas mesmas vias para estimular o cérebro, segundo Karina. "Muitos corredores têm até mesmo a dependência do prazer", afirmou.

Perda de peso

A corrida é um dos exercícios físicos mais baratos de serem praticados com regularidade. Ela pode ser uma importante arma na redução de peso a manutenção da saúde e do bem-estar.

Porém, como mostra esta análise da Vox de 60 estudos relacionados ao emagrecimento, a sua dieta é a principal responsável pela redução de peso.

Melhora cardiorespiratória

Um estudo da Universidade de Vermont, nos Estados Unidos, indicou que o corpo humano apresenta fortalecimento do sistema respiratório após 18 semanas de prática da corrida.

Com isso, os participantes do estudo aumentaram o tempo necessário para atingir a exaustão em 23%.

Além disso, segundo estudo da Universidade de Hartford, quem corre pode ter melhores ritmo cardíaco, pressão sanguínea e taxa de colesterol ruim.

Impacto positivo na ansiedade e nas defesas do corpo

A corrida, assim como outros exercícios aeróbicos, quando realizados com regularidade, podem aumentar os níveis de serotoninérgica e noradrenérgico no cérebro. Esse efeito é similar ao provocado por antidepressivos. Com isso, a corrida pode ter impacto positivo no humor e funciona como tratamento para alguns transtornos psicológicos.

"O exercício físico provoca alterações fisiológicas, bioquímicas e psicológicas, portanto, pode ser considerado uma intervenção não-medicamentosa para o tratamento de distúrbios relacionados aos aspectos psicobiológicos", segundo um estudo publicado na biblioteca científica online Scielo Brasil.

No entanto, o exagero na atividade física pode levar a efeito reverso. "A corrida moderada aumenta a sensação de bem-estar e pode ser um tratamento para a ansiedade. Já o exercício intenso pode causar o efeito contrário: aumentar a ansiedade por algumas horas", disse Karina. "O nível de cortisol aumenta muito."

O vício

Quem pratica corrida há muito tempo e em sessões prolongadas tem propensão ao vício na atividade.

De acordo com um estudo do Departamento de Psicobiologia da Escola Paulista de Medicina, que analisou maratonistas brasileiros, concluiu que as pessoas que praticam corrida sentem falta de algo quando não correm e também experimentam uma grande sensação de prazer quando realizam a atividade. Os participantes do estudo corriam regularmente de dois a oito anos.

Envelhecimento precoce e baixa imunológica

A prática exagerada atividades físicas aeróbias pode ocasionar a liberação de radicais livres em excesso. Com isso, a pessoa pode apresentar efeitos de envelhecimento precoce. "Isso é perceptível na pele das pessoas que exageram nos exercícios", afirmou Karina.

A médica do esporte também conta que a corrida por períodos prolongados (acima de uma hora) pode ser prejudicial ao sistema imonológico, deixando o indivíduo mais vulnerável a infecções virais. Mais um malefício da corrida exacerbada: o coração fica mais propenso a apresentar problemas, como batimento anormal.

Em contrapartida, sessões mais curtas de exercício aumentam a proteção do organismo.

De acordo com a OMS, atividades intensas, como a corrida, devem ser praticadas por ao menos 75 minutos por semana, em sessões com durações mínimas de 10 minutos. Quem faz atividades aeróbicas menos intensas, como caminhadas, deve fazer 150 minutos de exercício semanalmente. Uma combinação equivalente dessas duas práticas também é válida.

Atletas de alto desempenho, apesar de inspiracionais, não são bons parâmetros para quem começa a se exercitar. Usain Bolt, por exemplo, corre a quase 40 km/h e não se preocupa em respirar durante provas de 100 metros rasos, como a que conquistou na Olimpíada Rio-2016. Essa apneia não chega a ser prejudicial – nadadores, por exemplo, chegam a nadar por mais de 20 segundos sem respirar e Bolt completou a prova em 9,81 segundos –, mas essa não é uma prática recomendável para todos.

"O esporte de alto rendimento não é tão saudável. Eles treinam acima do limite fisiológico", finaliza Karina.

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