Oxímetro pode ajudar, mas existem ressalvas

Folha de S.Paulo
Jornalista: Matheus Moreira


24/04/20 - Em artigo no jornal The New York Times, o médico de emergência americano Richard Levitan contou sobre os dez dias em que cuidou de pacientes com Covid-19 em hospital de Nova York e fez alerta para o fato de que a pneumonia causada pelo novo coronavírus evolui de forma silenciosa, por isso sua gravidade.

Como identificar casos antes que eles se tornem graves?

Levitan escreveu: “Existe uma maneira de identificarmos mais pacientes que têm pneumonia da Covid mais cedo e tratá-los com maior eficácia, e isso não exigiria esperar um teste de coronavírus no hospital ou num consultório médico. É detectar precocemente a hipóxia [privação de oxigênio] silenciosa, por meio de um equipamento médico comum que pode ser comprado sem prescrição na maioria das farmácias: um oxímetro de pulso”.

Segundo ele, a oximetria de pulso generalizada para a pneumonia da Covid, seja em casa ou em clínicas ou hospitais, poderia oferecer advertência precoce para os tipos de problemas respiratórios associados à pneumonia da Covid.

Médicos ouvidos pela Folha afirmam que o uso do oxímetro pode ajudar no diagnóstico precoce da doença, mas fazem muitas ressalvas. É preciso ter orientação médica para fazer a leitura adequada do aparelho e do que significa seu resultado; não haveria aparelhos suficientes para uso massivo pela população; pessoas com doenças crônicas podem ter mais benefícios; e o oxímetro sozinho não indica Covid-19 ou seu agravamento.

O oxímetro de pulso é aparelho com formato similar ao de um pregador, usado no dedo para medir a saturação de oxigênio transportado no sangue. Ele usa um feixe de luz para aferir quanto oxigênio é transportado pela hemoglobinas.

Como a Covid-19 reduz o nível de oxigênio no sangue apesar de os pacientes nem sempre sentirem falta de ar —por isso que Levitan diz que a doença mata silenciosamente—, o oxímetro poderia indicar a privação de oxigênio antes de o sintoma aparecer. O problema é que a hipóxia é apenas um dos sinais da Covid-19.

“É adequado para uma pessoa com doença pulmonar ter o aparelho, mas usar o oxímetro como medida pública para toda a população é complicado. Não haveria essa quantidade de aparelhos disponíveis”, diz Humberto Bogossian, pneumologista do Hospital Israelita Albert Einstein. “No hospital, por critério, oxigenação abaixo de 94% já é sinal de alerta, mas isso precisa ser avaliado junto com exames de imagem. Na pneumonia causada pela Covid-19, a baixa oxigenação é apenas um dos vários sinais de atenção.”

A concentração normal de oxigênio que é transportada pelo sangue, segundo o padrão médico para pessoas sem doenças crônicas respiratórias ou cardiovasculares, deve ser igual ou superior a 96%.

Concentração igual ou inferior a 92% indica alerta para alguma alteração no transporte de oxigênio pelo organismo. Caso a medição indique índice igual ou inferior a 89%, a falta de oxigenação é grave.

O pneumologista do Hospital Sírio-Libanês, André Nathan, afirma que o uso do aparelho em casa pode ser benéfico contra o coronavírus caso o indivíduo tenha sido bem orientado por um médico ou esteja fazendo acompanhamento com profissional da saúde, porque a interpretação equivocada dos resultados da medição pode levar alguém saudável a ir ao hospital sem necessidade, aumentando o risco da infecção. A ressalva foi feita também por Bogossian.

Levitan recomenda que o aparelho seja usado por pacientes que tiveram testes positivos para o vírus, pessoas com tosse, fadiga e febre e pessoas com teste rápido negativo, porque eles são só 70% precisos.

Além disso, é possível que a pessoa sinta falta de ar sem que a oxigenação caia. “Se a oxigenação cair para níveis anormais entre uma medição e outra [feita em casa], não há dúvida de que o paciente deve procurar um hospital. A queda da oxigenação é um critério de gravidade e de acompanhamento da Covid-19, mas é possível que uma pessoa sinta uma grande falta de ar sem que a oxigenação diminua”, diz Nathan.

Por isso, os pneumologistas indicam atenção aos outros sintomas da Covid-19: febre, dores de cabeça e no corpo, coriza e falta de ar. Caso os sintomas se prolonguem, devese buscar o serviço de saúde e relatar a suspeita de infecção mesmo que a medição da oxigenação indique normalidade.

A decisão de comprar o aparelho, portanto, deve ser feita, idealmente, com profissional da saúde. Nathan defende que a preferência seja dada a quem faz parte do grupo de risco.

Segundo os pneumologistas, a medição não deve ser feita com as mãos frias, porque a circulação de sangue na ponta dos dedos diminui e pode gerar resultados adulterados. Antes de usar o aparelho, é recomendado aquecer as mãos.

Também não é indicado que a medição seja feita em um dedo com esmalte, porque o esmalte, especialmente de cor escura, segundo Nathan, impede que o feixe de luz do aparelho atravesse os tecidos e obtenha resultados precisos.

Bogossian diz que os oxímetros de pulso vendidos em farmácias e lojas com aparelhos médicos têm boa qualidade e que a margem de erro da medição em comparação com a análise do sangue por meio de amostras é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos. Os modelos custam entre R$ 70 e R$ 250. Já os oxímetros de aplicativos de celular não têm eficácia comprovada.

“É adequado para alguém com doença pulmonar ter o aparelho, mas usar o oxímetro como medida pública para toda a população é complicado Humberto Bogossian pneumologista do Hospital Israelita Albert Einstein

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