O Globo 
Jornalistas: Gustavo Maia, Jussara Soares e Paula Ferreira

O Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, se irritou ao ser questionado nesta segunda-feira sobre a indicação do uso de cloroquina em pacientes com Covid-19 e afirmou que nunca indicou ou medicamento ou autorizou que a pasta o fizesse. Apesar da fala, em maio de 2020, sob a gestão do ministro, o Ministério da Saúde editou uma orientação na qual indicava o uso do medicamento desde os primeiros sintomas da doença.

— A senhora nunca me viu receitar ou dizer, colocar para as pessoas tomarem esse ou aquele remédio. Nunca — disse o ministro em resposta a uma repórter. — Eu nunca indiquei medicamentos a ninguém. Nunca autorizei o ministério da Saúde a fazer protocolos indicando medicamentos.

Em 20 de maio, após a saída do ex-ministro Nelson Teich, Pazuello assumiu a saúde e nos primeiros dias de gestão acatou o desejo do presidente Jair Bolsonaro e emitiu orientações sobre o uso precoce da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19. Até aquele momento, a pasta só permitia o uso do medicamento em casos graves da doença. Na época, a pasta evitou chamar a orientação de "protocolo", uma vez que o Sistema Único de Saúde (SUS) não pode adotar tratamentos sem comprovação de eficácia, que é o caso desses medicamentos.

Na ocasião a pasta argumentou que os médicos deveriam ter o direito de prescrever as substâncias e disse que o paciente deveria consentir com o uso do remédio.

Embora tenha dito que nunca indicou medicamentos a ninguém. Em outubro, quando estava com Covid-19, Pazuello participou de uma live ao lado do presidente Jair Bolsonaro na qual afirmou que estava sendo medicado com hidroxicloroquina, o vermífugo Anita e azitromicina. Em seguida, Bolsonaro afirmou, sem ser contrariado pelo ministro:

No último domingo, durante reunião da Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), membros da instituição reafirmaram recorrentemente que não existe nenhum tratamento terapêutico contra Covid-19. A afirmação contradiz a postura adotada pelo Ministério da Saúde em defesa do que chama de "tratamento precoce".

Nesta segunda, o ministro atenuou o discurso sobre o tema. Dizendo que a pasta define como tratamento precoce a procura de um médico já nos primeiros sintomas da doença:

— Nós defendemos e incentivamos e orientamos que a pessoa doente procure imediatamente o posto de saúde, procure o médico. O médico faça o diagnóstico clínico desse paciente. Esse é o atendimento precoce. Que remédio o médico vai prescrever, isso é foro íntimo do médico com o seu paciente. O ministério não tem protocolos disso... nem poderia ter, não é missão do ministério [...] Tratamento é uma coisa, atendimento é outra [...] Como leigos, nós falamos às vezes o nome errado.

Saúde pressionou por uso de medicamentos em Manaus
Em ofício, na semana passada, o Ministério da Saúde pressionou a secretaria Municipal da Saúde de Manaus a utilizar precocemente medicações antivirais orientadas pela pasta para o tratamento da Covid-19. Em maio, a nota do ministério informava que os medicamentos orientados pelo órgão para o tratamento precoce de pacientes com a doença eram a cloroquina e a hidroxicloroquina, além do antibiótico azitromicina. As drogas, no entanto, não têm eficácia comprovada contra a doença.

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