Plasma de pacientes recuperados da Covid-19 é usado no tratamento de infectados. — Foto: Divulgação/Hemoam

Plasma de pacientes recuperados da Covid-19 é usado no tratamento de infectados. — Foto: Divulgação/Hemoam

G1

Um grupo de pesquisadores do Rio Grande do Sul junta recursos financeiros para pesquisar a eficácia do uso do plasma de vacinados no tratamento contra a Covid-19. O estudo é planejado por professores de diferentes universidades do estado, e seria implementado com a participação do Hemocentro do Rio de Janeiro e com a Secretaria de Saúde de Caxias do Sul.

Os pesquisadores apostam na hipótese de que o plasma recolhido de pessoas já imunizadas contra a doença pelas vacinas pode ser mais eficaz do que o plasma convalescente, terapia autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e que vem sendo utilizada por hospitais no país.

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Um dos idealizadores da pesquisa, professor da UFRGS Fábio Klamt, foi o primeiro doador de plasma do RS. O primeiro paciente a receber a doação, um homem de 63 anos que estava em estado crítico, se recuperou e teve alta.

Sem nenhum edital de fomento à pesquisa científica aberto, o grupo de pesquisadores criou uma campanha para financiar o estudo, intitulado Immuneshare Trial. A meta é arrecadar pouco mais de R$ 259 mil para cobrir os custos da pesquisa, que será realizada em Caxias do Sul e no Rio de Janeiro.

Participam da iniciativa, além de Fábio Klamt, Marcus Herbert Jones, da PUCRS, Fernando Spilki, da Feevale, Gabriel Amorim, da UCS, Andrea Dal Bó, do Hospital Virvi Ramos de Caxias do Sul e Luiz Amorim Filho do HemoRio.

Plasma hiperimune

Klamt afirma que a terapia com o plasma já se provou ser segura. O componente do sangue extraído do paciente que já gerou anticorpos para o coronavírus é transfusionado para a pessoa em tratamento, e ajuda a estimular a resposta imune.

A eficácia do tratamento depende de duas variáveis, diz o professor: o período de administração do plasma e a quantidade de anticorpos presentes.

“O principal mecanismo de ação deles é inativar o vírus e na Covid são nas primeiras semanas, a semana da viremia [período em que o vírus está circulando no corpo do infectado], é que o vírus está agindo e acarretando toda a aquela resposta da tempestade de citocinas [resposta causada pela doença no organismo]”, detalha o professor.
“É nessa semana, precocemente, que ele tem que ser administrado. Todos os estudos, ou a maioria, foram em pacientes graves há muito tempo de doença. Aí o benefício é limitado”, diz.

A segunda variante diz respeito à quantidade de anticorpos neutralizantes na amostra de plasma.

“O plasma tem que ser hiperimune [com uma grande quantidade de anticorpos] para que ele realmente traga benefício para o paciente. Na nossa experiência só 4% dos doadores que tivemos no Hemocentro de Caxias do Sul eram classificados como hiperimunes, como o FDA [agência sanitária reguladora dos Estados Unidos] estabeleceu como critério pra chamar o plasma de hiperimune”, afirma.

Segundo estudos já em fase três com pacientes vacinados contra a Covid, todos apresentaram o plasma hiperimune, observa o professor.

Como seria o estudo

O grupo planeja coletar o plasma de voluntários no Hemocentro do Rio de Janeiro, parceiro do projeto, que segundo o professor da UFRGS possui grande estrutura para coletar e separar o plasma.

Depois, o plasma será aplicado em pacientes de Covid, também voluntários, que procurarem atendimento nas UPA e UBS de Caxias do Sul. O projeto já tem autorização da Secretaria de Saúde do município.

“É aquele paciente que recém começou com sintomas há menos de 72 horas e está com doença leve. Esse é o público-alvo do estudo. A gente quer evitar que esse paciente agrave”.

Serão selecionados 248 pacientes, todos voluntários. Metade receberá o plasma de imunizados e a outra metade, o tratamento de suporte [aplicado em todos os pacientes de Covid], para avaliação da eficácia.

“O plasma pode ser a nossa bala de prata no manejo da Covid e se tudo der certo, vamos ter a chance de aliviar a pressão no SUS”, resume o professor.

“O plasma pode ser a nossa bala de prata no manejo da Covid e se tudo der certo, vamos ter a chance de aliviar a pressão no SUS”, resume o professor.

Pesquisador da biomedicina há 25 anos, Klamt observa que é a primeira vez que se envolve em todas as etapas do processo científico.

“Fui pesquisador, fui doador, fui divulgador do método. Agora estamos tentando implementar esse estudo que pode virar referência no Brasil”, aponta.

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