Valor Econômico
Jornalista: Adriana Mattos
13/08/20 - Maior varejista de farmácias do país, o grupo RD (Raia Drogasil) sentiu o efeito da pandemia nos resultados do segundo trimestre, mas dados de julho mostram retomada na demanda. “Isso foi quase um jogo amistoso, algo que não vai acontecer de novo. Farmácia é um negócio resiliente e já vemos sinais de normalidade”, disse Eugenio De Zagottis, vice-presidente de planejamento corporativo e de relações com investidores.
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De abril a junho, no auge do isolamento social, caiu o tráfego de clientes nas farmácias, efeito da queda em consultas e cirurgias, e ainda houve o adiamento no reajuste anual de medicamentos, que sempre ocorre em abril, e eleva a receita. Além disso, com shoppings fechados, o desempenho das drogarias nesses locais foi fraco.
Como resultado, a receita líquida de abril a junho subiu 5,8%, para R$ 4,5 bilhões abaixo da média trimestral, entre 15% e 20%. As lojas maduras (com mais de três anos) encolheram quase 7%. O lucro líquido caiu 60%, para R$ 60,2 milhões.
Para efeito de comparação, a Pague Menos, que publicou seus números semanas atrás, não teve alta nas vendas líquidas (R$ 1,6 bilhão no trimestre) e o lucro líquido foi de R$ 9 milhões, versus perda de R$ 15,5 milhões um ano antes.
Chamou a atenção na RD o fato de que as lojas para classes de maior renda perderam mais vendas do que aquelas voltadas para as classes baixas. Nelas, o recuo foi de 10%, ante 3,5% nas lojas populares. Os mais ricos puderam estender por mais tempo o período de quarentena, o que afetou a demanda nessas lojas. Os sites do grupo, dono da Raia, Drogasil e Onofre, apesar do crescimento (o digital multiplicou vendas por sete no trimestre), não conseguiu compensar totalmente essa queda.
Dados do início do terceiro trimestre mostram retomada nas vendas, com elevação de 13,8% em julho, em relação ao ano anterior (lojas maduras sobem 0,8%). Ao se descontar os 124 pontos em shoppings, a alta é de 19%. “Julho já foi robusto, quase normalizando. A conta que ainda estamos pagando é da loja de shoppings. Nesse caso, fica difícil saber agora se vai ficar um ‘rabicho’ disso ainda neste ano. Mas em linhas gerais, não acreditamos que o efeito da pandemia afete o resto do semestre”, disse ele.
Na teleconferência ontem, o grupo ressaltou foco maior em expandir a abertura de lojas populares (foram menos de um terço das inaugurações do trimestre). Mas disse que isso não tem relação com o efeito da covid. Ainda disse que manterá projeção de abertura de 240 lojas ao ano, em 2020 e 2021, apesar de isso exigir desembolso de caixa num período de crise.
O diretor diz que a empresa tem confortável posição de caixa e endividamento controlado (alavancagem financeira está em 1,2, versus 0,8 um ano atrás), e que o setor de farmácia é “defensivo”. Em seus relatórios, analistas do Goldman Sachs, Safra e Genial Investimentos preveem retomada mais forte das vendas. “Os efeitos da covid já foram considerados no trimestre passado”, diz o Goldman. “A manutenção do plano de expansão e sua liderança em iniciativas digitais devem ter melhor impulso nos próximos trimestres”, reforça a equipe da Genial.
Perguntado como vê o movimento de oferta de ações de varejistas rivais neste ano, a RD entende que isso não deve afetar a competição no Estado de São Paulo, onde ela lidera. Pague Menos e D1000 (dona da rede Rosário e Farmalife) fizeram oferta pública inicial (IPO, da sigla em inglês) e a Panvel fez nova oferta de ações. “A briga vai ser mais fora de São Paulo, porque é um mercado muito duro, muito exigente, tem três redes fortíssimas com padrão de serviços alto. Quem usar dinheiro dos IPOs para crescer onde está, vai se dar bem”. No sul do país, a RD concorre com a Panvel e a Nissei (que estuda um IPO).
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