Sinovac: ‘Esperamos fazer testes em crianças ainda em 2020’

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O Globo 

Jornalista: Janaina Figueiredo

23/09/20 - Crianças e adolescentes brasileiros também participarão de estudos sobre a vacina contra a Covid-19, como já acontece na China, e provavelmente ainda este ano. É o que informa o gerente médico de Ensaios Clínicos do Instituto Butantan, o infectologista colombiano Ricardo Palacios, à frente da pesquisa sobre a vacina da Sinovac.

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A gigante chinesa Sinovac Biotech desenvolve a vacina CoronaVac, que, se aprovada, deverá ser aplicada em duas doses. No Brasil a liderança dos testes é do Butantan.

 

Segundo o Instituto Butantan, até o último dia 14, o ensaio clínico da Sinovac no Brasil já tinha recrutado e começado a vacinar mais de 4 mil pacientes, dos 9 mil que o projeto busca incluir. O instituto não soube precisar quantos já tomaram a segunda dose da vacina, mas o previsto no protocolo é que a segunda dose seja administrada uma semana depois da primeira.

 

Na entrevista, Palacios defendeu que "hoje a CoronaVac é a mais segura entre as que estão sendo estudadas no Brasil”. E também confirmou que as primeiras doses a serem usadas, em caso de aprovação do insumo, no Brasil, já estão sendo produzidas na China. O objetivo, em um primeiro momento, será o de vacinar 20% da população brasileira.

 

Como estão avançando os estudos da vacina Sinovac?

Ricardo Palacios - Estamos bem satisfeitos, já sabemos que o perfil de segurança encontrado na China também está se repetindo no Brasil. A vacina é muito segura, é como se fosse uma das vacinas que normalmente tomamos, provoca pouquíssima reação. É um contraste com outros produtos que estão em estágio mais avançado. Posso dizer que é a mais segura entre as que estão sendo testadas no Brasil, a que causa menos reações. Vimos relatos dos colegas de outras vacinas, e a nossa causa menos reações, isso ficou muito evidente. O principal problema relatado é que dói um pouco no local da aplicação. Mas bem pouco, como a vacina da influenza. Outras pessoas têm dor de cabeça, e poucas têm alguma outra reação. Isso é muito relevante. Agora, a resposta central que estamos buscando é a proteção contra a doença. O processo é muito cauteloso, afinal esta é uma vacina projetada para milhões de pessoas.

 

Quando poderão dizer se a vacina é efetiva no combate à doença?

Ricardo Palacios - Esperamos que antes do fim do ano. Por mais que a curva de transmissão no Brasil esteja descendente, ela continua alta. Se continuar assim, poderemos ter casos suficientes para comprovar a eficiência da vacina. Precisamos de muitos casos positivos para chegar a uma conclusão firme.

 

As vacinas para o Brasil já estão sendo produzidas?

Ricardo Palacios - Nosso acordo com a China prevê enviar as vacinas para o Brasil antes de terminar a fase 3. Assim que confirmarmos a segurança da vacina, enviamos as informações à Anvisa. E assim que a Anvisa aprovar, começa a vacinação. O acordo estabelece que o Brasil terá a vacina de forma prioritária. Ela virá da China, está sendo produzida neste momento. A Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que a primeira leva deve representar 20% da população do país, as pessoas em grupo de risco.

 

O que se pode dizer sobre o risco de reinfecção e as consequências para a vacinação?

Ricardo Palacios - A reinfecção sempre foi considerada possível. Entre os coronavírus, temos os que causam resfriado comum, e outros três que causam síndrome respiratória grave. Deste último grupo, não tínhamos confirmação sobre reinfecção. O receio sempre esteve presente, e hoje é uma nova realidade. Sabemos da perda de anticorpos em muitas pessoas. Temos resultados de estudos sobre anticorpos no Brasil e na região Norte, por exemplo, onde está começando a diminuir o número de pessoas com anticorpos, numa área do país muito afetada pela pandemia. Não é um fenômeno, ainda, mas, sim, um risco real.

 

A CoronaVac pervê reforços anualmente?

Ricardo Palacios - Na primeira dose você apresenta o vírus para o sistema imune. Na segunda o que você faz é amplificar essa resposta. Isso é o que faz diferença, a segunda dose tem um papel fundamental. Mas a frequência de vacinação não deverá ser como a da influenza. Poderemos precisar de um reforço, e com esse reforço teremos uma proteção de longa duração, talvez de cinco anos. A vacina da influenza requer reforço anual por mudanças no vírus. A taxa de mutação do coronavírus não parece ser tão grande.

 

Na China começaram a testar a vacina em crianças. Como vai ser no Brasil?

Ricardo Palacios - Temos um plano de desenvolvimento clínico acordado com a China. Quando vimos a segurança no caso de idosos, com resposta imune adequada, o passo seguinte é ir para as crianças. Quando a gente tiver os resultados dos estudos de crianças e adolescentes na China vamos apresentar essas informações para a Anvisa, para também fazer testes no Brasil. Esperamos que ainda este ano.

 

A suspensão dos testes da vacina de Oxford (depois que um voluntário teve reação adversa grave) é normal?

Ricardo Palacios - Todo estudo de vacinas tem mecanismos de salvaguardas. O que esse episódio demonstrou é que esses mecanismos funcionaram. Pode acontecer, o importante é saber se foi isolado e suspender tudo até determinar se foi. Em nosso caso, por enquanto, está tudo tranquilo.

 

Quando as escolas deveriam ser reabertas no Brasil?

Ricardo Palacios - Acho que devem ser considerados os riscos para as crianças e para a comunidade. Todas as vozes devem ser ouvidas, mas tampouco podemos dizer que só abriremos as escolas quando existir uma vacina, porque as crianças não serão as primeiras a serem vacinadas. Tenho sobrinhos, sei das angústias dos pais. Tenho uma cunhada com uma doença de base, que é professora, também sei a angústia que ela sente (ao pensar em ter que) enfrentar uma sala de aula. Alguns professores cuidam de pais idosos. Nossa celeridade no estudo da vacina tem a ver com tudo isso. Muitos estão naturalizando uma desgraça, perderam a capacidade de assombro, e não penso apenas na pandemia, mas também nas queimadas da Amazônia. Falta empatia, em um mundo muito individualista.

 

Qual pode ser, neste sentido, o impacto dos movimentos antivacina?

Ricardo Palacios - Se muitas pessoas começarem a não querer se vacinar teremos dificuldades, como aconteceu com o sarampo. Uma doença que pensávamos estar erradicada e voltou, causando mortes. Quando se baixa a guarda o risco de restabelecer a transmissão é grande.

 

Como a comunidade científica recebe o negacionismo do presidente Bolsonaro sobre a Covid e suas declarações sobre a vacina?

Ricardo Palacios - Lamentavelmente a discussão sobre a vacina caiu numa seara de ideologização. Isso não é bom. Politizar sim, porque os políticos devem se comprometer com a vacina. Mas ideologizar, como vemos na campanha eleitoral americana, cria falsos dilemas. Sobre o governo brasileiro, declarações sem fundamentos técnicos devem ser evitadas. Mas quero destacar fatos positivos, que nos dão esperanças. Temos uma boa interação com o Ministério da Saúde e a Anvisa. Fora dos holofotes a resposta é positiva.

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