_111335008_tv060670353.jpg?profile=RESIZE_710xFolha de S.Paulo
Colunista: Vinicius Torres Freire


03/05/20 - O Brasil não vai tão mal no ranking mundial da pandemia de coronavírus, embora faça força para subir na tabela do morticínio. O horror é grande, mas há piores, quando as comparações são feitas de modo mais preciso. Não se trata de menosprezar as já mais de 6.000 mortes, mas de pensar melhor o ritmo da epidemia e o que se pode fazer a respeito.

Quarenta dias depois da décima vítima da Covid-19, o Brasil contava 23,6 mortes por milhão de habitantes. EUA, 66,8. Alemanha: 63,5. Itália: 254. Reino É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA)

Unido: 298. Espanha: 363. Coreia do Sul: 3,6 mortes por milhão. Japão: 1,3. A Europa inteira: 62,4.

Como é fácil perceber, a comparação pondera o número de mortes pelo tamanho da população. Considera também o número de mortes em estágios similares da epidemia: dias equivalentes depois da décima morte. Um país pode ter mais ou menos mortes apenas

porque está no início ou em fase mais tardia do espalhamento da doença.

Este exercício é baseado em trabalho de Pedro Hallal, epidemiologista e reitor da Universidade Federal de Pelotas. Hallal também coordena o primeiro estudo brasileiro que tenta estimar a taxa real de infecção por coronavírus no Brasil, por testes em amostras da população. Duas rodadas da pesquisa já foram realizadas no Rio Grande do Sul.

O estudo nacional começa na semana que vem. Hallal vai publicar seu artigo na revista Ciência e Saúde Coletiva. Quando terminou seu trabalho, contava com dados relevantes até 9 de abril. As contas feitas por este jornalista consideram as estatísticas publicadas até 1º de maio, sexta-feira passada.

O pesquisador prefere utilizar dados de mortes a fim de medir os avanços da epidemia, mesmo assim com ressalvas. Os números oficiais de casos confirmados, além de subestimar o alcance da doença, são díspares por diferenças internacionais de critérios de contagem.

O número de mortes também pode estar especialmente subestimado no Brasil? Chutemos que sim. Suponha-se que seja 40% maior —seria o caso se colocássemos todas as mortes por SRAG na conta da Covid-19 (SRAG: Síndrome Respiratória Aguda Grave). Ainda assim, o número relativo de mortes no Brasil seria inferior aos de Europa, EUA ou Canadá.

Na América Latina, a epidemia não está em fase tão avançada quanto no Brasil. No trigésimo dia, o número de mortes por milhão de habitantes era similar ao de México e Chile e metade do que se registrava no Peru. Mas era o triplo da taxa argentina e pouco mais que o dobro da colombiana.

“Os resultados brasileiros são consistentemente melhores do que os da maioria dos países europeus e consistentemente piores do que a maioria dos países asiáticos”, afirma Hallal.

Foram relativamente melhores em especial pela adoção precoce do distanciamento social, afirma o pesquisador. Ter um SUS também ajuda muito.

A evolução do número relativo de mortes no Brasil ainda foi mais lenta do que na Europa do 30º para o 40º dia da epidemia (o Brasil está hoje no 44º), similar à de França e Itália, bem melhor que no Reino Unido e bem pior que nos EUA, na Alemanha e na Espanha.

Nos últimos dez dias, o ritmo do número total de mortes parou de desacelerar, porém. O presidente da República sabota o distanciamento social e a política anti-Covid em geral.

Brasileirices fúnebres, aquelas que nos fazem ter as mais altas taxas de morte no trânsito, por exemplo, parecem se expressar também na avacalhação do isolamento, que tem diminuído e é objeto de campanha de ignorância necrófila, vide as carreatas da morte.

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