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CEOs de grandes empresas enfrentaram situações extremas antes de buscar hábitos mais saudáveis; especialistas dizem que líderes temem mostrar fraquezas
by Bruna Klingspiegel e Jayanne Rodrigues | Terra
Agendas lotadas, demandas intermináveis e expectativa de liderar equipes bem-sucedidas são alguns dos desafios que os CEOs enfrentam diariamente. O problema surge quando a sobrecarga se intensifica e resta pouco espaço para o cuidado com a saúde mental e física.
Em algum momento, o sucesso profissional pode cobrar seu preço, e foi exatamente isso o que aconteceu com a conselheira Deborah Wright. Aos 53 anos, após 20 anos ocupando os cargos mais altos de diversas empresas como Kibon, Parmalat e Tintas Coral, um episódio dissociativo, com alterações de sono e perda de consciência, a levou ao hospital em 2010. Após o burnout, foram dez dias para a medicação fazer efeito e normalizar o seu comportamento.
"Eu não prestei atenção aos sintomas. Fui ficando muito cansada. Deitava e não conseguia dormir, não conseguia desligar. De repente, você fica fora do eixo", relembra a executiva que ocupava o cargo de CEO da empresa de pesquisa Ipsos na época.
Wright relembra a rotina corrida pré-burnout. "Quem disser que faz isso com tranquilidade está se iludindo", conta. Ela enfrentava uma sequência interminável de compromissos diários, tomando decisões cruciais a cada passo. Após anos, ocupava uma posição de grande responsabilidade, onde todos os olhos estavam voltados para ela.
Cada compromisso não era apenas uma entrega de resultados, mas também um peso tanto para seu sucesso pessoal quanto para o de sua equipe. "Quanto mais você ascende na carreira, mais solitário fica", diz a conselheira.
Desde 2021, o burnout é considerado uma doença ocupacional, caracterizada pelo esgotamento mental e físico associado ao trabalho. O Brasil é o segundo país com mais casos da síndrome no mundo, segundo levantamento da International Stress Management Association (ISMA) de 2022.
Nos bastidores, os CEOs travam uma batalha silenciosa para manter a saúde mental em meio a pressão constante. De acordo com pesquisa da consultoria americana Mind Share Partners, os entrevistados C-level (78%) e executivos (82%) da pesquisa tinham mais probabilidade do que outros (71%) a relatar ao menos um sintoma relacionado a saúde mental.
No mundo corporativo, explica Wright, existe um mito de que o líder é forte e que não pode mostrar vulnerabilidade. Não pode ter dúvidas nem fraquezas. "Somos todos humanos, e um dia você acorda e não está muito bem. Em certos momentos, tenho dúvidas sobre algumas coisas e sinto a necessidade de conversar com alguém."
Após a recuperação, a executiva permaneceu 30 dias trabalhando no mesmo cargo. No entanto, a preocupação crescente com sua saúde física e mental fez com que sua família a encorajasse a pedir demissão. Atualmente ela atua como conselheira do banco Santander.
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