Cientistas

Fazer parte de um esforço conjunto aumenta a motivação, mas também dá para fazer menos esforço treinando além da perfeição.
[Imagem: CC0 Public Domain/Pixabay]
 
 
by Diário da Saúde
 
 

Ciência contra o bom-senso

Muitas habilidades humanas, como ler, dominar um instrumento musical ou programar um computador, exigem milhares de horas de prática e esforço cognitivo consistente.

As teorias científicas predominantes sustentam que o esforço cognitivo é experimentado como desagradável e as pessoas tentam evitá-lo sempre que possível.

No entanto, existem muitas situações na vida cotidiana em que as pessoas se esforçam voluntariamente, mesmo que não haja recompensa externa óbvia. Por exemplo, muitas pessoas gostam de resolver quebra-cabeças de Sudoku, os alunos geralmente são motivados por tarefas intelectuais desafiadoras e pianistas amadores podem passar horas em busca da perfeição sem nenhuma recompensa externa.

Para os cientistas, contudo, essas situações não parecem vir ao caso, e eles continuam defendendo que alguém só se esforça se tiver algo a ganhar com isso!

 

Esforços que valem a pena

Agora, pesquisadores da Universidade de Viena (Áustria) e da Universidade Técnica de Dresden (Alemanha) finalmente decidiram enfrentar a questão de frente e verificar essa teoria, que dificilmente faz sentido para alguém fora da academia.

Georgia Clay e seus colegas investigaram sob condições controladas se as pessoas que eram recompensadas por seu esforço em uma tarefa cognitiva estariam dispostas a exercer mais esforço em uma nova tarefa subsequente - em comparação com pessoas em um grupo de controle - mesmo que estivessem cientes de que não receberiam mais recompensa por esse esforço adicional.

A conclusão não surpreende ninguém fora da academia: "Indivíduos que já haviam sido recompensados pelo esforço, posteriormente escolheram tarefas mais difíceis do que os sujeitos do grupo de controle, mesmo sabendo que não receberiam mais uma recompensa externa," resumiu a professora Veronika Job, coordenadora do estudo.

 

Lei do esforço que vale a pena

A fim de investigar se os efeitos de uma recompensa dependente de esforço poderiam ser replicados e generalizados, a equipe realizou ainda cinco outros experimentos online, com um total de 1.457 participantes, novamente verificando se a recompensa dependente do esforço levaria as pessoas a encararem ou fugirem de novas tarefas difíceis.

Os resultados foram os mesmos: Ninguém ficava esperando novas recompensas se havia problemas adicionais a serem resolvidos.

Estes resultados contestam frontalmente a visão amplamente difundida nas teorias atuais da psicologia cognitiva e da neurociência, de que o esforço é sempre experimentado como desagradável e custoso.

"Assim, a suposição de que as pessoas querem seguir o caminho de menor resistência pode não ser uma característica inerente da motivação humana. A tendência para evitar tarefas desafiadoras pode, em vez disso, ser resultado da história de aprendizado individual, que difere dependendo do padrão de recompensas," conclui o professor Thomas Goschke, membro da equipe.

 
Checagem com artigo científico:

Artigo: Rewarding cognitive effort increases the intrinsic value of mental labor
Autores: Georgia Clay, Christopher Mlynski, Franziska Korb, Thomas Goschke, Veronika Job
Publicação: Proceedings of the National Academy of Sciences
Vol.: 119 (5) e2111785119
DOI: 10.1073/pnas.2111785119
 
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