CARREIRA

Heaton começou a reunião de quarta-feira dizendo que os desinvestimentos em P&D da empresa estavam impactando a equipe em São Francisco e na Bélgica. Ela não quis detalhar quantos funcionários foram afetados.

"E, obviamente, não posso revelar todos os detalhes a todos vocês", disse ela na reunião. "Não seria apropriado para mim fazê-lo porque queremos proteger a confidencialidade dos membros da nossa equipe que foram afetados."

Merson passou a culpar o enxugamento nas "crescentes pressões macroeconômicas e aprendizados internos" que exigiram que a empresa alterasse significativamente suas aspirações. Como resultado, ele disse que a empresa precisava se concentrar em onde poderia ganhar. "Aprendemos que não podemos e não devemos fazer tudo", disse ele.

Referências a pressões macroeconômicas refletem comentários do alto escalão da empresa em 24 de janeiro, durante a teleconferência pública de resultados do quarto trimestre da J&J. Mas não houve menção então à iminente reconstrução de P&D.

"Olhando para o futuro, embora esperemos que alguns dos ventos contrários que impactaram 2022 continuem, provamos que a Johnson & Johnson é resiliente em tempos de desafio macroeconômico", disse o CEO Joaquin Duato na teleconferência de resultados. "Neste ambiente, nossa abordagem para 2023 pode ser melhor descrita como prudente, e nossas prioridades para o ano são claras e permanecem consistentes".

Os únicos pipelines descontinuados publicamente identificados pela J&J na época eram um tumor sólido de fase 1 e um candidato a câncer de próstata, respectivamente. As demissões e os esforços de desenvolvimento reduzidos ocorrem depois que a empresa gastou quase US$ 15 bilhões em P&D em 2022, representando mais de 15% das vendas.

"O investimento em P&D continua sendo uma prioridade para apoiar o crescimento a longo prazo e a criação de valor", disse o diretor financeiro Joe Wolk na mesma teleconferência de resultados.

As demissões também ocorrem depois que a empresa autorizou um programa de recompra de ações de US$ 5 bilhões em setembro, metade do qual foi concluído antes do final de 2022. E no Town hall Meeting, Fernández brincou com ele, Merson e Heaton passeando por São Francisco no centavo da empresa durante a última Conferência de Saúde do JP Morgan, incluindo uma viagem a um "jantar fenomenal" em uma churrascaria japonesa.

A piada de mau gosto, não agradou a todos, já que muitos funcionários foram informados de que haviam perdido seus empregos poucas horas antes.

"Você não querem ver, apenas um monte de velhos e ricos falando sobre o quanto se divertem com as despesas da empresa", disse um funcionário que compareceu ao Town hall Meeting.

Não é apenas a P&D que está sendo afetada pelos esforços de downsizing. Duas fontes familiarizadas com a tomada de decisões da empresa dizem que as demissões também atingiram a equipe de neurociência da empresa, particularmente a equipe de vendas de esclerose múltipla. A Janssen obteve a aprovação da FDA para o tratamento da EM recidivante  com o Ponvory em março de 2021.

A J&J ainda não revelou os números discretos de vendas para a Ponvory, sugerindo que o medicamento não atingiu os objetivos de vendas, e medicamentos como o Procrit atingiram US$ 479 milhões. As receitas da Ponvory provavelmente estão agrupadas na nebulosa categoria de "outras neurociências" da J&J, que movimentou um total de US$ 1,73 bilhão em 2021.

O mercado de esclerose múltipla tornou-se cada vez mais competitivo nos últimos anos com a introdução de genéricos no Tecfidera da Biogen em 2020, além do lançamento do Ocrevus pela Roche, que rapidamente conquistou participação de mercado e alcançou o status de blockbuster após apenas um ano.

Embora a J&J tenha mantido em sigilo grande parte dos seus planos de enxugamento, rumores de mudanças em andamento surgiram em outubro, quando Wolk ofereceu um aviso sempre tão sutil de que a empresa estava se esforçando para "dimensionar corretamente a [sua] infraestrutura" como uma empresa de dois segmentos em meio à separação do negócio de saúde do consumidor, Kenvue.

"Claramente, as pressões macroeconômicas que todas as indústrias e todas as empresas estão enfrentando é algo que temos que abordar também", disse Wolk sobre a margem de lucro da J&J em 2023. "Embora a saúde seja um negócio muito, muito bom e mais resiliente do que a maioria, não é como se estivéssemos imunes a algumas dessas dinâmicas."

Não ficou imediatamente claro quantos empregos ou quais funções estavam sob ameaça, embora Wolk tenha dito ao The Wall Street Journal na época que uma grande reestruturação não estava nos planos.

No início de 2022, a J&J contava com 141.700 funcionários em tempo integral entre sua equipe global, acima dos 134.500 em 2021. Cerca de um terço da força de trabalho da empresa está baseada na América do Norte.

A J&J normalmente oferece uma atualização sobre o número total de funcionários em seu relatório anual, que deve ser divulgado no final de fevereiro de 2022.

Embora a J&J tenha ficado em segundo plano em meio a uma série de expurgos de empregos em todo o setor, a empresa cortou no outono passado 64 funcionários em sua unidade da Johnson & Johnson Services em Manhattan, de acordo com um aviso da Lei de Notificação de Ajuste e Retreinamento de Trabalhadores do estado de Nova York (WARN) rotulado como "demissão de fábrica".

O negócio lá está focado em suprimentos farmacêuticos, de acordo com o documento, e a razão dada para os cortes de empregos foi listada como "econômica". A redução da força de trabalho estava programada para ocorrer ao longo de duas semanas, de 13 de janeiro de 2023 a 26 de janeiro de 2023.