by Paula Troxler (ilustração) - Samuel Jaberg | Swissinfo
Como muitos outros países desenvolvidos, a Suíça enfrenta uma escassez aguda de mão-de-obra. A imigração poderia atender a demanda, mas é uma questão politicamente controversa.
No final de 2022, as agências de emprego registravam 120 mil vagas. Esse fenômeno não afeta apenas a Suíça: três em cada quatro empresas internacionais relatam dificuldades de recrutamento, segundo a agência Manpower.
Hotelaria, gastronomia, indústria, informática, construção, saúde, logística: a lista de profissões onde há busca de mão-de-obra é tão longa como variada. "Todos os setores econômicos competem hoje pelos mesmos talentos, não importante se ele é um engenheiro de software, motorista de caminhão. Hoje é possível até escolher o emprego", afirma Stefan Studer, diretor do sindicato Empregados Suíços
A forte recuperação económica após a pandemia explica, em parte, estas dificuldades de recrutamento. Em alguns setores, particularmente hotéis e restaurantes e asilos de idosos, a pandemia também destacou condições de trabalho difíceis, levando muitos funcionários a se reorientarem para outras profissões.
No entanto, a situação atual pode ser apenas uma antecipação das dificuldades que os empregadores suíços encontrarão em sua busca por pessoal no futuro. Devido ao envelhecimento da população - e à aposentadoria da chamada geração "baby boomer" - espera-se que o mercado de trabalho enfrente mudanças significativas nos próximos anos.
Com o desemprego em seu nível mais baixo nas últimas duas décadas, a forte demanda por mão-de-obra e o levantamento total das restrições de saúde, não é surpreenda que a imigração volte a aumentar. "A Suíça é um dos países mais atraentes da Europa para migrantes em busca de trabalho", diz Philippe Wanner, professor da Universidade de Genebra. "Muitos desses trabalhadores são bem-sucedidos nesse mercado de trabalho, onde as exigências são consideráveis, mas os salários bastante elevados em comparação europeia."
Trabalhadores oriundos da União Europeia (UE) e da EFTA têm fácil acesso ao mercado de trabalho suíço graças aos acordos de livre-circulação firmados entre a Suíça e a UE. No entanto, hoje os países concorrem entre si para atrair mão-de-obra.
Este é particularmente o caso do setor hospitalar: alguns deles hoje chegam a buscar diretamente no exterior médicos e enfermeiros. "Mesmo na Polônia se tornou hoje difícil encontrar pessoal especializado interessado em se mudar para a Suíça", revela Grazyna Scheiwiller, da Carenea, uma empresa especializada no recrutamento de trabalhadores na Polônia.
No entanto, o acesso ao mercado de trabalho helvético continua restrito para profissionais oriundos de países terceiros. As empresas podem apenas contratar trabalhadores altamente qualificados de fora da Europa. Para isso os empregadores precisam provar frente às autoridades que não encontraram funcionários com a qualificação correspondente, nem na Suíça ou nos países da UE/EFTA. Além disso, esse tipo de admissão deve ser do interesse da Suíça e sua economia. O número de vistos de trabalho para países terceiros é também limitado por quotas.
Apesar da taxa recorde de vagas, a questão de saber se os imigrantes podem cobrir as lacunas no mercado de trabalho permanece politicamente controversa na Suíça. O Partido do Povo Suíço (SVP, na sigla em alemão) é uma das vozes críticas, lembrando o impacto da imigração na infraestrutura e meio ambiente do país. Este é um dos seus principais temas de campanha na eleição federal de 22 de outubro de 2023.
Devido às tensões em torno da questão da imigração, outras soluções são apresentadas para tentar aliviar a escassez de mão-de-obra. O empresariado quer explorar o potencial da força de trabalho interna, sobretudo as mulheres. A grande maioria tem apenas um trabalho em tempo parcial, uma taxa recorde na Europa.
Outros grupos de trabalhadores poderiam formar a reserva de mão-de-obra no futuro: jovens, idosos, refugiados e beneficiários de assistência social.
A Conferência das Instituições de Ajuda Social (CSIAS) e a Federação Suíça de Educação Contínua (FSEA) lançaram recentemente uma campanha de formação para dependentes da assistência social, abandonando a orientação atual que era de se voltar à reintegração profissional desses trabalhadores.
"A experiência mostra que a melhoria das competências torna a integração no mercado de trabalho mais sustentável. É uma mudança de paradigma", explica o presidente da FSEA, Matthias Aebischer.
A escassez de mão de obra também traz vantagens ao trabalhador, sobretudo no momento de negociações salariais. A busca aguda por mão-de-obra deixa o funcionário na confortável situação de poder exigir melhores condições de trabalho.
É uma nova situação que faz crescer a mobilidade profissional, especialmente entre os trabalhadores mais jovens. Embora a escala dessa tendência ainda não tenha atingido o fenômeno da "demissão silenciosa" observada nos Estados Unidos ou Reino Unido, as empresas são, no entanto, forçadas a fazer mudanças organizacionais e culturais de 180 graus para atrair e reter os jovens talentos.
Adaptação: Alexander Thoele
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