ORAÇÃO: estudos avaliam impacto da espiritualidade no bem-estar físico e mental. (Andrew Biraj/Reuters/VEJA)
Cultivar princípios de meditação, gratidão, religião e conexão com a natureza pode ser um fator protetor para a saúde, sugerem pesquisas
Por Ari Timerman* | Veja
O aumento gradual e constante da expectativa de vida motiva os pesquisadores a se debruçarem sobre as razões que nos levam a desfrutar do privilégio da longevidade. As conclusões esbarram em condições não modificáveis, como a genética do indivíduo, e em fatores modificáveis, aqueles passíveis de serem alterados: tabagismo, diabetes, hipertensão, colesterol elevado, obesidade, sedentarismo e estresse, por exemplo.
A autoestima e o bem-estar também são componentes que parecem contribuir para uma vivência plena e duradoura. Por trás do bem-estar entram fatores como capacidade funcional, nível socioeconômico, estado emocional, interação social, intelectualidade, autocuidado, suporte familiar, boa saúde e satisfação com atividades exercidas no dia a dia. Mas existe outra via de acesso a uma vida saudável ainda pouco explorada pela medicina, mas que vem sendo alvo de cada vez mais estudos, a espiritualidade.
A espiritualidade – que não é necessariamente uma expressão de religiosidade – é um fenômeno que não se encaixa em uma simples definição. Podemos arriscar, porém, que se trata da busca por um sentido de vida, uma tentativa de vínculo entre o humano e o sagrado cujo objetivo é obter uma conexão consigo mesmo e conquistar respostas para os mistérios da existência.
E cada um terá um meio próprio de encontrar as respostas. A meditação é um deles: há relatos de pessoas que conseguem baixar os níveis de ansiedade com a prática. E a ansiedade, aliás, é uma das malfeitoras do coração.
Há, por outro lado, quem encontre a espiritualidade em uma rotina ligada à natureza, cultivando plantas e se estabelecendo no campo.
Da mesma forma, a gratidão é um caminho para a espiritualidade, assim como fazer trabalhos voluntários, pois ajudar o próximo traz benefícios para quem executa a doação de tempo e afeto.
É um exercício e tanto definir espiritualidade porque se trata de um conceito aberto e dinâmico. Mas um exercício que tem grande chance de contribuir para a qualidade e a quantidade de vida.
Na última edição do Congresso da SOCESP – Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, em junho passado, debatemos amplamente o tema. Isso porque tem crescido a produção de pesquisas explorando os efeitos da espiritualidade na prevenção e no controle dos problemas cardiovasculares.
Não se trata de cura mágica, mas de uma conexão consigo e o mundo ao redor capaz de fazer a diferença pela saúde.
* Ari Timerman é cardiologista e ex-presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp)
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