Remuneração dos CEOs: a Suíça pode competir com os EUA?

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Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

 

Os diretores-executivos suíços recebem algumas das melhores remunerações na Europa. Em comparação com os valores pagos nos Estados Unidos, no entanto, os salários suíços parecem modestos. Membros da indústria farmacêutica suíça veem isso como um problema.

 

by Jessica Davis Plüss e Pauline Turuban | Swiss Info

 

No início de março, os acionistas da Novartis aprovaram um pacote salarial de CHF 16,2 milhões (US$ 18,8 milhões) para o seu CEO, Vas Narasimhan. O valor é quase o dobro de sua remuneração em 2022 e o torna um dos diretores-executivos mais bem pagos da Europa.

Ainda assim, a quantia parece baixa quando comparada aos valores pagos pelas principais empresas americanas. Cada um dos dez CEOs mais bem pagos dos EUALink externo levaram para casa pelo menos US$ 90 milhões no ano passado – a lista inclui Sundar Pichai, da Alphabet, e Tim Cook, da Apple.

No início de março, os acionistas da Novartis aprovaram um pacote salarial de CHF 16,2 milhões (US$ 18,8 milhões) para o seu CEO, Vas Narasimhan. O valor é quase o dobro de sua remuneração em 2022 e o torna um dos diretores-executivos mais bem pagos da Europa.

Ainda assim, a quantia parece baixa quando comparada aos valores pagos pelas principais empresas americanas. Cada um dos dez CEOs mais bem pagos dos EUA levaram para casa pelo menos US$ 90 milhões no ano passado – a lista inclui Sundar Pichai, da Alphabet, e Tim Cook, da Apple.

 
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“Vemos um verdadeiro exagero nos EUA. Tentamos encontrar um equilíbrio entre o que é considerado aceitável e o que está sendo pago no resto do mundo”, disse o presidente do conselho de administração da Novartis, Joerg Reinhardt, aos acionistas. “Precisamos oferecer pacotes [salariais] competitivos em escala global porque queremos ter as melhores pessoas trabalhando conosco.”

Essa busca por equilíbrio tem sido uma questão recorrente nas empresas farmacêuticas suíças, especialmente na Novartis, que é uma das poucas gigantes suíças que já teve cidadãos americanos no comando. Seu atual CEO, Narasimhan, nasceu em Pittsburgh e passou a maior parte de sua carreira nos EUA. Ele assumiu o cargo de diretor-executivo da empresa em 2018.

O último pacote salarial de Narasimhan o aproxima de seus pares norte-americanos. Entre as 15 maiores empresas farmacêuticas – dez das quais estão sediadas nos EUA – a remuneração média de CEO é de cerca de CHF 16 milhões (US$ 18 milhões). Albert Bourla, diretor-executivo da Pfizer, sediada nos EUA, recebeu US$ 33 milhões no ano passado.

“As expectativas na Europa são diferentes”, disse Vincent Kaufmann à SWI swissinfo.ch. Kaufmann é diretor da empresa de investimentos sustentáveis Ethos Foundation, que conta com muitos fundos de pensão entre seus clientes. “Nos EUA, os acionistas não questionam a remuneração da mesma forma que fazemos na Europa.”

 

Justificando a remuneração

Kaufmann foi uma das poucas pessoas que se manifestaram contra o pacote salarial oferecido ao CEO da Novartis na reunião anual realizada no dia 5 de março. A remuneração de Narasimhan consiste na soma de um salário base – que aumentou ligeiramente em relação a 2022, chegando agora a 1,82 milhão de francos suíços – e um bônus variável, que depende principalmente do desempenho financeiro e de alguns critérios de sustentabilidade e inovação.

De acordo com o relatório anual da Novartis, a empresa ficou “significativamente acima” das metas estabelecidas para vendas, lucro operacional e fluxo de caixa livre para 2023. A Novartis registrou um aumento de 10% nas vendas, que atingiram 45 bilhões de dólares. O seu lucro líquido, por sua vez, chegou aos 8,6 bilhões de dólares, o que a coloca à frente de algumas de suas concorrentes norte-americanas. A empresa também obteve 22 aprovações para medicamentos nos EUA, Europa, China e Japão.

“Acreditamos que nosso sistema de remuneração é adequado para refletir os níveis de desempenho que temos. Às vezes se ganha mais, às vezes se ganha menos”, disse Reinhardt, presidente do conselho de administração da Novartis, aos acionistas. Em 2022, a remuneração de Narasimhan foi reduzida em 61% após dois anos de resultados financeiros complicados.

Mas, mesmo com os sólidos resultados financeiros de 2023, Kaufmann argumentou que “a remuneração variável está aumentando de uma forma muito rápida e isso não é justificável”. Ela correspondeu a 7,7 vezes o salário base e o conselho da Novartis propôs aumentar ainda mais o limite do bônus: a partir de 2024, ele poderia ser até 11 vezes o salário base.

E a Novartis não foi a empresa farmacêutica com os melhores resultados na Europa. A farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk viu suas vendas aumentarem 36% em 2023, principalmente graças à demanda por seus medicamentos contra a obesidade, Wegovy e Ozempic. As ações da empresa atingiram um recorde, elevando seu valor de mercado para mais de US$ 500 bilhões no início deste ano e tornando-a a empresa mais valiosa da Europa.

O salário do diretor da Novo Nordisk, Lars Fruergaard Jørgensen, aumentou 13%, chegando a 68,2 milhões de coroas dinamarquesas (cerca de US$ 9,9 milhões), um pouco menos da metade da remuneração anual de Narasimhan.

 
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Aumentando a diferença salarial

Ao mesmo tempo que tenta acompanhar seus pares norte-americanos, a Novartis também não pode ignorar a opinião pública.

De acordo com estimativas do grupo de acionistas Actares, Narasimhan ganha 160 vezes mais do que o funcionário médio da Novartis. Um estudo realizado no ano passado pelo sindicato suíço UNIA constatou que a empresa não é a única na qual isso acontece. Na última década, a discrepância salarial entre diretores e funcionários aumentou nas dez maiores empresas suíças.

O anúncio do aumento do salário de Narasimhan não chegou num bom momento para alguns dos funcionários da empresa suíça. A Novartis acaba de passar por uma grande reestruturação que incluiu a separação de sua divisão de genéricos, a Sandoz, o que transformou a Novartis em um tipo de empresa chamada de “pure play”, focada somente em um setor – no caso da Novartis, em novos tratamentos patenteados.

Essa reestruturação acarretou muitas demissões. Em 2022, a empresa anunciou que, nos três anos seguintes, eliminaria cerca de 8.000 dos seus 108.000 cargos. Cerca de 1.400 deles estavam na Suíça, o que representa aproximadamente 10% da força de trabalho da empresa no país. Isso se somou aos 2.000 postos de trabalho que a empresa já havia fechado na Suíça quatro anos antes.

As grandes remunerações são um tema especialmente delicado para o público suíço. Em 2013, os eleitores suíços apoiaram a chamada iniciativa Minder, que concedia aos acionistas o poder de veto sobre os salários dos altos executivos e dos membros do conselho de administração de empresas listadas na bolsa. A iniciativa também proibia vários tipos de bônus, como os acordos de rescisão chamados de “golden parachute”, que oferecem enormes indenizações para altos executivos que foram demitidos e removidos de seus cargos.

A votação ocorreu logo após o público saber que o então CEO da Novartis, Daniel Vasella, iria receber um pacote de rescisão no valor de CHF 72 milhões (US$ 77 milhões). O caso do ex-diretor-executivo do Credit Suisse, Brady Dougan, também influenciou na opinião pública sobre os salários exorbitantes. Dougan, que é cidadão americano, havia recebido 90 milhões de francos suíços somente em 2010. Embora as tentativas de limitar a remuneração dos executivos tenham sido rejeitadas pelos eleitores suíços, a questão continua sendo polêmica.

Estratégia arriscada

Por ser um importante ator econômico na Suíça, com uma grande força de trabalho internacional, o setor farmacêutico enfrenta um desafio mais delicado do que qualquer outro setor no país.

A Suíça tem alguns dos salários mais altos do mundo, o que tem sido essencial para atrair talentos do exterior. Apesar disso, os caçadores de talentos argumentam que, quando se trata de cargos de chefia, é difícil competir com as empresas americanas – especialmente em setores como o farmacêutico e o financeiro, que atuam globalmente.

“Estamos em uma competição mundial pelos melhores talentos do mundo”, disse Stephan Suber, que dirige a Page Executive Switzerland, uma agência de recrutamento de executivos. “Você nunca verá um salário como o da Goldman Sachs na Suíça. Mas precisamos recompensar o desempenho para que possamos manter os melhores executivos.”

Usar os Estados Unidos como modelo salarial é uma proposta arriscada, uma vez que a rejeição pública dos salários exorbitantes também está crescendo no país. Além disso, existem cada vez mais evidências de que diferenças salariais extremas entre CEOs e trabalhadores podem reduzir o moral e a produtividade dos funcionários. Um estudo recente constatou que, em 2022, os diretores-executivos das 350 maiores empresas de capital aberto dos EUALink externo receberam 344 vezes mais do que um trabalhador médio. Em 1965, essa proporção era, em média, de 21 para 1.

“Ainda estou convencido de que é possível encontrar bons CEOs para empresas suíças sem uma remuneração tão alta”, disse Kaufmann. “A remuneração não deve ser o motivo da permanência de um CEO. Quando esse é o caso, você atrai pessoas focadas na criação de valor a curto prazo, e corre o risco de elas cuidarem apenas de seus próprios interesses.”

 

Edição: Marc Leutenegger/fh - (Adaptação: Clarice Dominguez)

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