4 remédios descobertos por acaso em pesquisas sobre animais

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A saliva do lagarto monstro-de-gila tem um composto poderoso contra o diabetes tipo 2 (Foto: Wikimedia Commons)

Um dos mais populares medicamentos contra hipertensão surgiu graças a estudos sobre a jararaca conduzidos no Brasil. Conheça outros casos

por JÉSSICA FERREIRA

Galileu

Faz sentido dar dinheiro e incentivo a quem estuda sanguessugas e jararacas? Sim, e muito. O avanço da indústria farmacêutica está diretamente ligado ao trabalho de cientistas dedicados a estudar os animais. Sem eles, não teríamos remédios para hipertensão, trombose e diabetes, descobertos em pesquisas sobre a saliva de sanguessugas e lagartos venenosos, por exemplo.

Conheça alguns casos:

1. Lepirudina (para doença autoimune)
As sanguessugas sempre foram populares na medicina: elas já eram usadas em tratamentos no Egito antigo, há mais de dois milênios. E acontece até hoje. A saliva da espécie europeia Hirudo medicinalis, conhecida como sanguessuga medicinal, tem compostos anti-inflamatórios e produz a molécula hirudina, com ativos anticoagulantes. A hirudina é reproduzida em medicamentos como a Lepirudina, que auxilia pacientes com trombocitopenia induzida por heparina (TIH), uma doença autoimune que pode causar trombose, embolia pulmonar e infarto.

2. Captopril (para hipertensão)
Hipertensos e pessoas com doenças cardíacas e circulatórias devem muito às jararacas. Pesquisas conduzidas no Brasil descobriram o potencial do veneno dessas serpentes, o que originou um dos mais populares medicamentos para pressão alta, o Captopril.

Na década de 1960, o farmacologista Sérgio Henrique Ferreira isolou um princípio ativo do veneno da jararaca-da-mata, com potencial de inibir o aumento da pressão arterial, e ampliou as possibilidades do veneno de cobras como um aliado da medicina.

3. Warfarina (para problemas circulatórios)
Nas décadas de 1920 e 1930, fazendeiros norte-americanos e canadenses notaram que o gado estava morrendo. As vacas apresentavam hemorragia interna e sangravam até morrer após se alimentarem de trevo-doce, um tipo de feno. Pesquisas de veterinários e bioquímicos apontaram no feno o composto anticoagulante dicumarol, que interfere no metabolismo da vitamina K. Ele foi sintetizado e registrado sob a patente warfarina.

Mais de 100 análogos do dicumarol foram preparados com a descoberta. Um desses análogos, o WARF-42, passou a ser comercializado como veneno contra ratos, depois de um dos cientistas envolvidos na pesquisa se aborrecer com os roedores em um sanatório e estudar maneiras de combatê-los.

Foi também após uma tentativa mal-sucedida de um marinheiro em se suicidar com uma alta dosagem do fármaco que os pesquisadores perceberam que ele poderia ser usado como um anticoagulante para prevenir trombose e tromboembolismo. O ex-presidente americano Dwight D. Eisenhower foi o responsável por atrair atenção nacional à warfarina, ao ser tratado com a medicação após uma trombose coronária.




4. Exenatida (para diabetes tipo 2)
O lagarto monstro-de-gila tem uma aparência pouco agradável: seu corpo atinge até 1 metro de comprimento e é repleto de manchas pretas e rosa. A língua é dividida em duas e sua mordida, carregada de veneno, pode ser fatal para suas presas — aves, roedores, ovos e outros lagartos.

Para os humanos, no entanto, o animal é bem valioso na produção farmacêutica. Pesquisadores descobriram na saliva do monstro-de-gila o composto exendina-4, também conhecido como Exenatida. A substância é usada no tratamento de diabetes tipo 2 e ajuda a evitar a hipoglicemia. Mais pesquisas já estão em andamento para descobrir quais outros benefícios podem vir da saliva do monstro-de-gila.

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