Transformar o Brasil em um polo global da Bayer passa pela aceleração de novos medicamentos. Depois de 14 produtos trazifos para o mercado brasileiro em 2021, haverá 36 lançamentos até o final deste ano. O objetivo, segundo Jacob, é fazer com que as vendas para o SUS dobrem dos atuais 20% (algo próximo a R$ 150 milhões) para 40% dentro de cinco anos. “O SUS, como maior sistema público de saúde do mundo, tem um imenso potencial de crescimento”, disse o CEO da Bayer. “Com 50 milhões de pessoas com planos de saúde e mais de 150 milhões no sistema público, o Brasil é mais do que uma Itália ou uma Espanha em potencial de crescimento e geração de negócios”, afirmou. Até o final do ano, a meta da Bayer Brasil é ter 50% das suas vendas vindas desse mercado institucional — incluindo planos de saúde e SUS. A outra metade das receitas dependerá do desempenho das farmácias e drogarias.
Dentro de um investimento de R$ 400 milhões por ano para pesquisa, desenvolvimento e lançamentos, a Bayer aposta na ciência de seus novos medicamentos para aumentar a eficiência de tratamentos e reduzir custos. Entre as novidades, os protagonistas são a Finerenona (para diabetes e doenças renais), a Vericiguat (insuficiência cardíaca), a Darolutamida (câncer de próstata), os medicamentos para hemofilia e a Larotrectinibe (que atua na genética do tumor com metástase, “desligando” as moléculas do câncer). Este último, chamado comercialmente de Vitrakvi, é o primeiro inibidor genômico para o tratamento de câncer, independentemente da idade do paciente e tipo de tumor. Trata-se do primeiro tratamento agnóstico aprovado no Brasil.
Para Jacob, a incorporação de medicamentos de última tecnologiano rol da Agência Nacional de Saúde (ANS) e no portfolio do SUS vai garantir mais acesso a tratamentos eficazes e redução significativa das despesas com a jornada dos pacientes, desde diabetes e degeneração ocular até tratamentos mais complexos e que exigem atenção redobrada, como câncer e hemofilia. “Desenvolvemos um medicamento para hemofilia, já aprovado pelo SUS, que reduziria em mais de R$ 100 milhões por ano as despesas do governo com esse tratamento, que hoje passam de R$ 1 bilhão”, disse o CEO. “Com uma gestão de excelência na saúde pública, não tenho dúvidas de que vamos entrar em um ciclo de crescimento dinâmico nos próximos anos.”
Aumentar a participação do SUS nos negócios da operação brasileira será um desafio complexo para a Bayer diante dos recentes cortes nos repasses. O orçamento para 2022 do Ministério da Saúde — o principal financiador do SUS — sofreu redução de 20%, passando dos R$ 200,6 bilhões, de 2021, para os atuais R$ 160,4 bilhões, conforme dados da Pasta. Nos dois primeiros anos de pandemia, as despesas extraordinárias da Saúde foram turbinadas com a aprovação de decretos de calamidade pública, que flexibilizaram o teto de gastos. Foram esses recursos que garantiram, por exemplo, a compra de vacinas. As verbas de urgência não serão tão generosas neste ano, o que poderá deteriorar a qualidade dos serviços.
O argumento da Bayer, no entanto, é que para fazer mais com menos o SUS terá de investir em medicamentos mais modernos e eficazes. Pelos cálculos da Secretaria do Tesouro Nacional, órgão do Ministério da Economia, o aumento da longevidade dos brasileiros vai exigir do SUS um aumento de R$ 50,7 bilhões em saúde até 2027. “Mesmo diante de um cenário desafiador, mais pacientes precisarão de acesso a tratamentos modernos, procedimentos eficazes e medicamentos de última geração”, afirmou Jacob. “Se saúde é direito de todos e dever do Estado, é também a maior missão para a Bayer.”
ENTREVISTA: Adib Jacob, presidente da Bayer Farma Brasil e América Latina
“O SUS equivale a uma Espanha ou uma Itália, com potencial de bilhões em novos negócios”
A estratégia de ampliar a participação do SUS nos resultados da Bayer não compromete a margem de lucro?
Sem dúvida praticamos com o SUS um dos preços mais baixos do mundo. Mas como são contratos com grande potencial de escala, o retorno dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento vem no volume. É um jogo de ganha-ganha. Só que não se trata apenas de números. Quando vemos resultados extremamente positivos com a ampliação do uso de nossos medicamentos em saúde da mulher, cardiologia, oncologia, diabetes ou oftalmologia, por exemplo, novas oportunidades se abrem em outras frentes de atuação também. Com 50 milhões de brasileiros em planos de saúde e mais de 150 milhões no sistema público, para nós o aumento da capacidade de atendimento do SUS equivale a uma Espanha ou uma Itália, com potencial de bilhões em novos negócios.
Por que o Brasil e a América Latina crescem acima da média mundial para a Bayer?
Os mercados mais maduros, como Estados Unidos e Europa, têm estruturas de cobertura mais consolidadas. Embora o SUS seja o maior sistema público do mundo, há muito a se fazer. Ao incorporar exames e medicamentos biológicos, imunoterapias e terapias gênicas, além de muitos outros procedimentos de vanguarda, a gestão da saúde dará um salto importante nos próximos anos.
Como estar mais próximo do SUS sem colocar em risco o compliance da companhia?
O compliance é inegociável na Bayer. Nossos contratos públicos passam por rigorosas avaliações internas e externas, sob os critérios da cartilha de transparência do grupo no mundo. Vender mais para o SUS não representa qualquer mudança no nosso comportamento. O que for bom para o SUS, será bom para a Bayer e, principalmente, para a população.
Qual é o maior desafio da Bayer Farma no Brasil?
O desafio é sempre rejuvenescer uma companhia centenária, trazendo inovações para o tratamento de doenças e dando mais acesso a produtos que garantem qualidade de vida. No segmento de saúde feminina, por exemplo, já somos líderes e queremos estar ainda mais consolidados na preferência das mulheres. Investimos R$ 500 milhões só em DIUs [dispositivos intrauterinos] nos últimos anos e contratamos artistas como Bruna Marquezine, Ludmilla e Thais Araújo para ajudar nas campanhas de orientação à gravidez não planejada. Mais do que um medicamento, isso é uma iniciativa ligada à qualidade de vida, compromisso social e saúde pública.
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