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Líderes devem aproveitar esse momento único para criar um novo contrato social e uma nova relação com a natureza (Prostock-Studio/Getty Images)

Em artigo, Carlo Pereira, da Rede Brasil do Pacto Global, e Silvio Dulinsky, do Fórum Econômico Mundial, falam sobre como é difícil ser CEO hoje em dia


Por Carlo Pereira e Silvio Dulinsky

Exame

Muitos dizem que um novo século não se inicia ao fim da contagem regressiva para o novo ano, mas após um grande evento que chacoalha a humanidade, transformando valores e impondo um novo zeitgeist.

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O século XX foi inaugurado não em 1901, mas em 1918 com o armistício entre Alemanha e aliados, que resultou numa transformação geopolítica no planeta, no surgimento da Liga das Nações e na ascensão dos Estados Unidos e de regimes totalitários.

Pois, sejam todos bem-vindos ao século XXI! Ainda não temos clareza de quais serão as mudanças duradouras oriundas dessa enorme crise instalada pelo novo coronavírus, mas todos concordamos que a sociedade não será mais a mesma.

Nesse novo contexto, qual o papel do líder?

O barômetro da confiança de 2019, pesquisa realizada pela Edelman, mostra que no Brasil 28% das pessoas confiavam no governo, 41% na mídia, 58% das empresas e 77% no seu próprio empregador. Mais um dado interessante nessa pesquisa é que 73% dos entrevistados esperam que o CEO esteja a frente de questões demandadas pela sociedade.

A mensagem desse estudo é reforçada por Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial, no Manifesto de Davos de 2020, no qual ele propõe que o propósito de uma empresa é envolver todas as partes interessadas na criação de valor compartilhado e sustentado. Ainda, Larry Fink, CEO da BlackRock – o maior fundo de investimento do mundo –, que nas suas cartas aos CEOs vem repetidamente dizendo que as empresas devem ter um plano estratégico que mostre não somente como alcançar seus objetivos financeiros, mas também o seu propósito e impacto na sociedade.

Ou seja, como diria Paul Polman, vice-presidente do conselho do Pacto Global das Nações Unidas, estamos numa transição da economia de acionistas para uma economia de partes interessadas, na qual empresas e líderes empresariais passam a buscar criação de valor para toda a sociedade e não somente a maximização do lucro.

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Em 2015, todos os setores da sociedade lançaram colaborativamente a Agenda 2030, sendo ela muito clara, direta, pautada em metas e objetivos: os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Estávamos convencidos que tínhamos um plano para essa transição. Eis que ressurge o “filósofo”  Mike Tyson com sua célebre frase “todo mundo tem um plano até levar um murro na cara”. O que é o COVID-19 senão um murro na cara de todos nós?

No entanto, já havia um prenúncio que poderia ter servido de alerta. O matemático Nicholas Taleb – que cunhou o termo cisne negro para eventos imprevisíveis, raros e catastróficos – tem reforçado a mensagem que a crise causada atual é uma consequência de um sistema global fragilizado em várias dimensões.

A desigualdade galopante e a consequente precarização de serviços básicos em todos os cantos do mundo levaram as pessoas às ruas em mais de 40 países em 2019, e este ano há previsão de chegar a 75 países, 40% das nações no mundo.

O avanço desenfreado e irresponsável sobre a maioria dos ecossistemas gerou o atual problema sanitário. Por sua vez, levou à imensa crise econômica e social que está fazendo as pessoas perceberem a gravidade da ruptura nas nossas vidas, que será afetada por uma crise de proporções muito maiores devido ao aquecimento global.

Somam-se, avanços tecnológicos, científicos e sociais em velocidade imensa e com capacidade de mudar os rumos da humanidade, como a inteligência artificial e a biotecnologia. Mudanças tão rápidas que expõem a falta de capacidade dos órgãos reguladores nacionais e supranacionais de reagirem a tal dinâmica. Por exemplo, a influência direta nas eleições e demais processos democráticos de diversos países.

Então, qual será o papel do líder no dito “novo normal”?

A expectativa dos cidadãos e governos em relação às empresas de assumirem mais responsabilidade na sociedade se vê reforçada e colocada num caráter de urgência, uma vez que a pandemia evidenciou, ainda mais, que em todos os cantos do planeta muitas pessoas estão sendo deixadas para trás. Por exemplo, os pacotes de recuperação econômica da União Europeia e de alguns Estados Membros preveem critérios e metas de sustentabilidade, na sua dimensão ambiental e social, para as empresas socorridas.

A chamada para ação vem de todos os lados. António Guterres, secretário-geral da ONU, tem convocado os líderes para que a recuperação econômica ocorra para um ponto melhor de onde saímos, observando inclusão e sustentabilidade. Não podemos voltar a um “normal” que não estava funcionando para bilhões de pessoas e que colocava em grande risco o futuro dos nossos jovens.

O Fórum Econômico Mundial lançou The Great Reset com a visão de que a tragédia humana não pode ser o único legado desta terrível crise. A crise expôs as grandes fraturas sociais ao redor do globo. Este movimento busca restabelecer o contrato social. Devemos construir economias e sociedades mais igualitárias, inclusivas e sustentáveis, que sejam mais resilientes diante de muitas mudanças globais que enfrentamos. Lise Kingo, ex-CEO do Pacto Global das Nações Unidas, provoca os líderes a serem ativistas e protagonistas da mudança necessária.

Em uma recente entrevista, o presidente de um conglomerado têxtil comentou que em uma confraternização da empresa um antigo líder da mesma organização o observava com desalento. Quando indagado, o comentário foi: lamento por você, meu amigo, na minha época era muito mais fácil ser CEO.

Este é o momento no qual nos encontramos pressionados para garantir a sobrevivência das nossas empresas neste curto prazo, incrivelmente desafiador, preocupados com as incertezas de médio e longo prazos, mas com a responsabilidade e expectativa de aproveitarmos esse momento único da humanidade para criarmos um novo contrato social, uma nova relação com a natureza e implementarmos um recomeço que não deixa ninguém para trás.

Carlo Pereira, diretor-executivo da Rede Brasil do Pacto Global

Silvio Dulinsky, membro do Comitê Executivo do Fórum Econômico Mundial

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Joni Mengaldo

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