Aché investe R$ 200 milhões para inovar mais em 2022

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Vânia Alcantara Machado, presidente do Aché Laboratórios Farmacêuticos (Foto: Divulgação)

 

 

Um medicamento para vitiligo com base na biodiversidade brasileira e um remédio para ansiedade em parceria com uma empresa japonesa estão no radar da empresa, segundo a presidente Vânia Alcantara Machado

 

O conceito de inovação é algo bem amplo para o Aché Laboratórios Farmacêuticos. Passa por novas formas de apresentar medicamentos já conhecidos do grande público. Inclui pesquisas com a biodiversidade brasileira, para encontrar alvos terapêuticos capazes de tratar doenças. Envolve aceleradores de partículas, capazes de medir a eficácia de certas moléculas. E, mais recentemente, inclui uma incursão da empresa na indústria 4.0.

Para 2022, o Aché planejou um investimento massivo em inovação: são R$ 200 milhões, ou 15% do Ebitda da empresa. Entre os novos projetos, está um medicamento capaz de tratar o vitiligo [doença de pele caracterizada pelo surgimento de manchas brancas], algo inédito na indústria farmacêutica mundial. "O remédio será feito com base em uma molécula extraída da flora brasileira", diz a presidente Vânia Alcântara Machado.

Outro produto que está em fase de desenvolvimento é um novo medicamento para a ansiedade e a síndrome do estresse pós-traumático. Nesse caso, o Aché se uniu a um laboratório japonês, o Otsuka Pharmaceuticals, para trabalhar sobre uma molécula de base sintética. "Estamos na fase de prova de conceito, então ainda levará alguns anos para lançarmos", afirma a executiva.

Nem mesmo as dificuldades de logística e importação provocadas pela guerra da Ucrânia devem afetar os planos da empresa para 2022, segundo Vânia. “Além da guerra, tivemos a China fechando a economia e a Índia com problemas para manter o abastecimento. Mas, como trabalhamos com os fornecedores em um regime de 12 meses de antecedência, conseguimos garantir os princípios ativos para continuarmos a fabricar. Essa é uma lição que aprendemos na época da pandemia”, diz a executiva.

Confira a seguir os principais trechos da entrevista que a presidente do Aché concedeu a Época NEGÓCIOS.

O Aché costuma ter planos estratégicos de cinco anos, mas isso foi interrompido, de certa forma, pela pandemia. Como está esse planejamento agora?
Na verdade, os ciclos de planejamento do Aché são quase contínuos. Toda vez que fazemos uma revisão dos planos, simplesmente pegamos um horizonte para mais cinco anos. Obviamente, em 2020 a gente deu uma parada, porque a prioridade era a saúde dos colaboradores. Tivemos de aprender a trabalhar de uma maneira diferente, com um novo mix de produtos para atender as enormes demandas da pandemia. Mas, desde 2021, já começamos a acelerar de novo. Neste momento, estamos revisando um Plano de 2022 a 2026. Em 2022, pretendemos lançar 35 produtos.

Que parcela do faturamento costuma ser reinvestida em inovação?
Normalmente, investimos cerca de 10% do Ebitda [lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização]. Mas, em 2022, vamos chegar a algo em torno de R$ 200 milhões, o que vai dar quase 15% do Ebtida. Quando falamos em inovação, isso envolve várias frentes, mas é claro que o foco são os produtos, seja de maneira incremental ou radical – quando criamos medicamentos completamente novos. Para você ter uma ideia, hoje temos no nosso pipeline 200 projetos sendo desenvolvidos. Destes, 49 são medicamentos inovadores, e 14 deles já estão na fase 2, o que significa que devem chegar ao mercado em cerca de quatro anos. Tem um remédio que, quando ficar pronto, será maravilhoso, porque vai responder a uma necessidade não atendida, não só no Brasil, mas no mundo. Por isso, pode ganhar uma relevância global. É um tratamento para vitiligo [doença de pele caracterizada pelo surgimento de manchas brancas], feito com base em uma molécula extraída da flora brasileira. Temos plataformas potentes para explorar a biodiversidade brasileira, que é a maior do mundo.

Como funcionam essas plataformas?
A Bioprospera é uma plataforma 100% voltada  à identificação e desenvolvimento de medicamentos a partir da biodiversidade brasileira. Para encontrar os alvos terapêuticos que vão ajudar na cura das patologias, trabalhamos em parceria com institutos que têm uma estrutura parruda, como o CNPEM [Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais], de Campinas. Lá, podemos usar o [acelerador de partículas] Sirius para descobrir se esses alvos que a gente achou na flora brasileira têm capacidade e probabilidade de se tornarem medicamentos eficazes.

Vocês estão trabalhando em um medicamento contra a ansiedade e a síndrome do estresse pós-traumático. Nesse caso, a origem também é a flora brasileira?
Não, é uma molécula sintética. É um projeto em parceria com o laboratório japonês Otsuka. Para esse tipo de produto, temos o Laboratório de Design e Síntese Molecular. Lá, os pesquisadores ficam  desenhando moléculas em seus computadores para atingir determinados alvos terapêuticos, levando em conta tudo que já foi pesquisado antes. Além desses dois laboratórios, temos o Inova TEC Lab, que traz inovação incremental a moléculas conhecidas. Um exemplo: trabalhamos para lançar em forma de líquido medicamentos antipsicóticos que normalmente só são fornecidos em comprimidos via oral. Fazemos isso para viabilizar a administração a idosos e outras pessoas com problemas de deglutição. E temos o Inspire Lab, voltado a data scienceanalytics e machine learning. Com a ajuda desse laboratório, conseguimos ver tudo o que está sendo pesquisado e desenvolvido no mundo inteiro sobre determinado assunto, o que acelera as nossas decisões em relação a um determinado projeto.

A Aché tem cinco unidades industriais, mas apenas uma completamente automatizada, em Pernambuco. A ideia é automatizar tudo?
Todas as unidades contam com algum grau de automatização. A diferença em relação a essa unidade de Cabo de Santo Agostinho é que ela já nasceu com o conceito de indústria 4.0 – automatizada, monitorada e integrada. A planta já existe há dois anos, mas até agora estava produzindo apenas embalagens. Agora no segundo semestre vamos inaugurar a área de produção de medicamentos. E daí vamos ver o resultado. Basicamente, a gente mal vai colocar a mão no produto. Lá temos os AGVs, que são robozinhos que pegam os medicamentos recém-embalados nas linhas de produção. Depois, o robozinho vai andando pelos corredores, leva os paletes até um armazém, e daí um sistema formado por robôs transelevadores e um equipamento chamado MES [Manufacturing Execution System] faz praticamente toda a gestão do que está lá dentro. Eles separam o medicamento para faturamento e envio aos clientes. Ou colocam em outra pilha para serem distribuídos para o Sul. Com isso, conseguimos a máxima eficiência, tanto na fabricação, quanto na logística. Acho que essa é uma evolução natural da indústria. Dependendo dos resultados, vamos gradativamente replicar isso para outras fábricas da companhia.

Esse tipo de automatização pode levar a uma redução no número de funcionários?
A gente não vê a automação como uma forma de reduzirr de mão de obra não. O que muda é que, com a tecnologia, aumenta a produtividade. Com uma maior produtividade, podemos abrir mais linhas de produção, e lançar mais medicamentos. E isso demanda mais funcionários. Tanto que estimamos no mínimo 500 empregos diretos e algo em torno de 2,5 mil empregos indiretos em Pernambuco até 2023 [hoje, o Aché tem um quadro total de 5.647 colaboradores em cinco plantas industriais].

 

 

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