Adultos podem ter complicações raras do vírus

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O Globo

Jornalista: Rafael Garcia

18/02/20 - Uma série de complicações associadas ao sarampo, consideradas raras, começa a reemergir na literatura médica, à medida quecas os da doença voltam à Europa e países emergentes. Em um relato na revista British Medical Journal, um centro médico de Malta revelou ontem casos de hepatite, meningite e apendicite provocados pelo vírus.

Mais raro ainda, as ocorrências descritas foram todas em adultos, contrariando apercepção pública— equivocada — de que o sarampo é sempre ameno fora do grupo de risco, composto por crianças e idosos.

Segundo os autores do estudo, liderado por Thelma Xerri, do Hospital Mater Dei de Malta, clínicos precisam estar atentos para essas manifestações, que podem escapar ao diagnóstico de sarampo num primeiro momento.

O NHS, sistema de saúde do Reino Unido, descreve como complicações “raras” do sarampo a hepatite (infecção no fígado), a meningite (infecção na membrana cerebral), a encefalite (infecção do cérebro em si) e o estrabismo (problema de alinhamento dos olhos, provocado no caso por infecção em nervos oculares).

Como a literatura médica sobre sarampo reemergiu apenas nos últimos seis anos, quando a doença teve um aumento de incidência nos países mais desenvolvidos, são poucos ainda os casos de complicações secundárias em adultos, mas eles existem.

O NHS considera que as complicações mais frequentes (algumas delas também graves) são pneumonia (infecção no pulmão), otite (nos ouvidos), laringite (na laringe) e conjuntivite (nos olhos).

Todos esses sintomas podem se manifestar ao lado dos mais comuns, como as manchas de pele e a febre que os caracterizam, e mesmo na ausência deles, o que complica o diagnóstico.

— Antes do surgimento da Aids, o sarampo era a infecção que mais provocava imunodepressão, resultando em outras infecções pelo organismo debilitado —explica o médico Marcelo Otsuka, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia.

Segundo ele, mesmo no caso dos quadros de pneumonia, que contribuem para a morte de crianças pequenas e idosos, às vezes é uma bactéria oportunista que está agindo.

O infectologista diz que viu casos mais graves como os descritos por Xerri em Malta, mas apenas em seus anos iniciais de clínica, mais de duas décadas atrás.

—Eu cheguei a atender pacientes que tiveram panencefalite esclerosante subaguda que acabaram resultando em óbito — conta o infectologista. — Esse é um quadro de encefalite mais tardio, evolutivo e degenerativo. Ele é secundário à infecção e tem fundo imunológico.

Otsuka afirma que não tomou conhecimento de quadros similares após a reemergência do sarampo no Brasil, mas diz que não é impossível que estejam ocorrendo. Segundo ele, os médicos brasileiros precisam também estar atentos a problemas secundários do sarampo para que o diagnóstico não escape.

—Hoje, porém, felizmente, as sociedades médicas e as unidades hospitalares costumam adotar protocolos de atendimento baseados na vigilância sanitária e epidemiológica — conta Otsuka. — Esses protocolos chamam a atenção de alguns sinais característicos do sarampo, e é uma forma de evitar essa falta de pratica clínica com a doença que os mais novos não têm.

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