Valor Econômico
Jornalista: Cibelle Bouças
19/02/20 - A Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) criticou a fala recente do ministro da Economia, Paulo Guedes, que defendeu a criação de um “imposto do pecado” para cigarros, bebidas alcoólicas e produtos com adição de açúcar.
“Alimento não é pecado. Não produzimos nada que seja inapropriado para os consumidores. Nos preocupa que o governo possa desenvolver políticas públicas que não sejam baseadas em fatos reais”, afirmou João Dornellas, presidente executivo da Abia.
O executivo disse que o consumo per capita de refrigerantes no Brasil caiu 50,8% entre 2010 e 2019, em meio a muitas campanhas desestimulando o consumo da bebida devido ao seu alto teor de açúcares. Mas a taxa de obesidade no país aumentou de 11,8% para 19,8% da população entre 2006 e 2018, de acordo com dados do Ministério da Saúde.
“As pessoas demonizam os alimentos industrializados, mas não existe alimento ruim. É preciso ter uma alimentação equilibrada associada a exercícios físicos para reduzir a taxa de obesidade. Não adianta atacar um produto e achar que o problema será resolvido”, afirmou Dornellas.
O executivo disse ainda que criar uma taxa extra para alimentos com altos teores de açúcar geraria impacto negativo principalmente na capacidade de consumo das famílias de baixa renda, que têm a maior parte dos recursos gastos com alimentação.
As indústrias de alimentos defendem, em vez de tarifas extras, uma rotulagem frontal nas embalagens, com uma espécie de semáforo, destacando informações sobre quantidade de açúcar, gorduras saturadas e sódio. A quantidade pode ser classificada como “alta” (em vermelho), “média” (amarelo) ou “baixa” (verde).
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deu parecer negativo à proposta da indústria no ano passado e, em relatório, considerou mais adequado o modelo de rotulagem de advertência, que sinaliza se o alimento contém muito açúcar, gordura e ou sódio.
Entre setembro e dezembro de 2019, a Anvisa fez uma consulta pública para análise da proposta de rotulagem de alimentos. O órgão recebeu mais de 23 mil contribuições do setor privado. A Anvisa informou que, no momento, uma equipe técnica analisa e consolida as contribuições recebidas. Após a consolidação do relatório, o tema será discutido pela diretoria colegiada da agência e só depois disso as normas serão publicadas. A Anvisa informou que não há previsão de quando isso ocorrerá.
Dornellas também acrescentou que as indústrias de alimentos têm adotado medidas de forma voluntária para reduzir o uso de gorduras trans, açúcar e sódio em seus produtos. Entre 2012 e 2018, segundo o executivo, as indústrias reduziram em 310 mil toneladas o uso de gorduras trans nos alimentos industrializados. Entre 2014 e 2020 o setor espera reduzir o consumo de sódio em 28 mil toneladas e, entre 2018 e 2022, planeja reduzir o uso de açúcar nos alimentos em 140 mil toneladas.
Em 2019, a indústria alimentícia teve ganho real de 2,3%, com faturamento de R$ 699,9 bilhões. Para este ano, a previsão da Abia é de crescimento real de 2,5% a 3,5%. “Se for confirmada uma safra agrícola pelo menos igual à do ano passado e o PIB [Produto Interno Bruto] crescer de 2% a 2,5%, as indústrias de alimentos podem crescer até 3,5%”, afirmou Dornellas.
Para o executivo, o segmento de foodservice terá crescimento real de pelo menos 3,5% neste ano. Em 2019, o segmento cresceu 6,9%, somando R$ 184,7 bilhões em faturamento. As vendas de alimentos no varejo cresceram 5,9%, para R$ 373 bilhões. “O foodservice segue crescendo mais que o varejo, impulsionado pelo aumento dos serviços de entrega de refeição”, disse.
O executivo também estima que as indústrias vão investir de 3,5% a 4% do faturamento em expansão de capacidade, fusões e aquisições. Esses percentuais equivalem a um valor entre R$ 25 bilhões e R$ 28,9 bilhões. Em 2019, o setor investiu R$ 22,3 bilhões no país.
Para as exportações, a Abia projeta vendas de US$ 36 bilhões a US$ 38 bilhões em 2020, ante US$ 34,1 bilhões no ano passado.

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