Apagão impede coleta de dados sobre medicamentos controlados

Anvisa não sabe quantas caixas de antibióticos foram vendidas nos últimos meses

Anvisa não sabe quantas caixas de antibióticos foram vendidas nos últimos meses | Foto: PILLAR PEDREIRA/AGÊNCIA SENADO

 

Agência editou em dezembro de 2021 resolução que desobriga farmácias de enviar dados sobre comercialização de antibióticos e psicotrópicos, por exemplo

 

R7

 

Por questões de limitação de infraestrutura tecnológica, desde o fim de 2021, a Anvisa desobrigou todas as farmácias privadas e hospitais de enviar informações sobre medicamentos. O processo se tornou opcional em uma decisão formalizada pela RDC 586. Desde então, o país sofre com uma completa ausência de informações centralizadas sobre as vendas de medicamentos controlados, que requerem retenção da receita e vão desde antibióticos, passando por antidepressivos e ansiolíticos, até entorpecentes, como a morfina.

As informações são do R7, que levou o caso à Controladoria-Geral da União (CGU). Com a decisão, a Anvisa contraria uma de suas competências estabelecidas na lei de criação da agência (9.782/1992), que inclui “regulamentar, controlar e fiscalizar os produtos e serviços que envolvam risco à saúde pública”.

O médico sanitarista, fundador e primeiro diretor-presidente da Anvisa, Gonzalo Vecina Neto, entende que as inconsistências das informações do SNGPC são um problema sério. Para o conselheiro do CFF pelo estado de Rondônia, Jardel Moura, se já existia uma precariedade no controle de medicamentos e substâncias por parte do poder público, agora o problema está ainda mais sério.

Moura ressalta que, apesar de a maioria dos estabelecimentos e farmacêuticos seguirem as regras na hora de vender os remédios, há quem veja na indisponibilidade do SNGPC uma oportunidade para a burla.

Medicamentos controlados fora de controle
Vecina Neto cita como exemplo um medicamento que é problemático nos Estados Unidos, a oxicodona, um potente analgésico opioide que aqui é vendido (até 40 mg) com receita dupla — o mesmo tipo usado para se comprar antibiótico, por exemplo.

A falta de dados sobre a venda de antibióticos, por exemplo, é outro risco que o Brasil corre, uma vez que não é possível monitorar uma classe de medicamentos que precisa ser consumida com muita cautela. A OMS (Organização Mundial da Saúde) tem feito reiterados alertas sobre o aumento da resistência bacteriana aos fármacos atualmente utilizados, em boa parte por causa do excesso de uso, que aumentou nos últimos anos, com a pandemia de Covid-19.

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