Correio Braziliense
Jornalista: Paloma Oliveto
O desenvolvimento de vacinas para zika e chicungunha com a tecnologia de nanopartículas também foi adaptado no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP) para a pesquisa de uma imunização contra a covid-19. O grupo de cientistas, coordenados pelo diretor do ICB, Luís Carlos de Souza Ferreira, atualmente tem mais de 10 formulações de diferentes plataformas sendo avaliadas para combater o Sars-CoV-2.
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Uma das mais promissoras, segundo Marianna Favaro, pesquisadora do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas do ICB, é a que utiliza a nanotecnologia. “Estamos bem otimistas porque, nos estudos com zika, que serão publicados em breve, conseguimos uma resposta imunológica muito forte”, conta.
A nanovacina tem uma capacidade curiosa: ela faz com que partículas virais modificadas se automontem, resultando em uma proteína idêntica à que estava no vírus. Dessa forma, embora não tenha capacidade de infectar, a estrutura é reconhecida pelo organismo como se fosse o patógeno, o que gera a resposta imunológica. Essa abordagem começou a ser testada em camundongos. “Esperamos ter um resultado como o que tivemos no caso da zika”, diz Favaro.
A cientista ressalta que a fase pré-clínica exige bastante tempo, necessário não só para garantir a eficácia, mas a segurança da vacina. “Hoje, temos duas corridas por vacinas. Uma emergencial, e é claro que as grandes farmacêuticas estão à frente. Já as outras gerações de vacinas, como as nossas, vão abordar questões que surgirão com o tempo. É possível também que diferentes vacinas sejam usadas com aplicabilidades diferentes, algumas funcionando melhor para idosos e outras para pessoas que já tiveram covid-19”, exemplifica.
Rápidos avanços
A nanotecnologia também é a base de uma vacina que está sendo desenvolvida na Universidade Federal do Paraná. O professor do Departamento de Bioquímica e Biologia da universidade e um dos líderes do estudo, Marcelo Müller dos Santos, conta que, de início, a intenção era chegar a uma prova de conceito, quando se testa uma ideia para verificar se ela tem efeitos práticos. Porém, os resultados com camundongos foram tão promissores que a equipe acredita que, com patrocínio, conseguirá iniciar os testes clínicos no próximo ano.
A técnica consiste na produção de nanoesferas de polímero bacteriano polihidroxibutirato (PHB), macromolécula presente em várias bactérias. O polímero é recoberto com pedaços da proteína spike e da proteína que envelopa o Sars-CoV-2. As nanopartículas levam essas partes virais até o organismo que, então, produz anticorpos contra o micro-organismo. Essa mesma tecnologia já foi usada em testes pré-clínicos de vacinas contra tuberculose e hepatite C.
Na semana passada, a equipe divulgou o resultado da primeira imunização dos animais usando a abordagem. Segundo Müller, duas doses conseguiram produzir grandes quantidades de anticorpos, comparado ao grupo de controle: em média, 54 vezes mais. Embora ainda sejam necessários mais testes e outras etapas, inclusive para verificar se uma forma de administração possível é a intranasal, o cientista está animado. “Inicialmente, nosso projeto terminaria nos testes pré-clínicos, mas os resultados avançaram rápido e, talvez, consigamos, no segundo semestre do ano que vem, ter testes clínicos com esse imunizante.”

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