O Globo
14/10/19 – O Brasil tem mais de 28 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, ou 13% da população, percentual que deve duplicar nas próximas décadas, segundo a Projeção da População divulgada pelo IBGE no ano passado. Cruzados esses números com os de outra estatística do Instituto, que aponta a existência de telefones móveis em 92% das residências, é fácil concluir que a quantidade de aparelhos nas mãos dos idosos não fica longe do tamanho desse grupo etário, que compõe um mercado promissor para aplicativos dedicados a suas demandas.
Facilitar e ampliar o uso dos smartphones para a terceira idade são iniciativas fundamentais nesse nicho de produção de programas para telefones, os apps. Um exemplo é o Nonno (avô, em italiano), lançado em Florianópolis no Dia Mundial do Idoso, 1º de outubro, que conecta idosos e parentes com cuidadores selecionados pelo serviço. Assim como a Uber liga passageiros e motoristas, o novo aplicativo viabiliza a contratação de um profissional e reserva parte do valor (20%) para a empresa responsável pela inovação.
De olho no aumento da longevidade e do contingente de cuidadores de idosos, a startup familiar investiu cerca de R$ 30 mil no desenvolvimento do app, segundo o sócio Matheus Alban, estudante de Administração. O plano é recuperar o investimento em um ano, mas tudo depende do ritmo de adesões e do aprimoramento da operação, que já atraiu 200 cuidadores e, por ora, é limitada a Florianópolis. O aplicativo é gratuito, roda em Android e ganhará em breve versão para iPhone.
O Nonno, inspirado na assistência a idosos custeada pela fábrica do avô de Matheus, foi desenvolvido em oito meses por programadores contratados. O jovem empreendedor assinala, porém, que um app pode ser criado em 60 dias, se houver capital disponível. A startup planeja seguir apostando na expansão do mercado da terceira idade. “É importante a criação de serviços que acompanhem o envelhecimento natural da Humanidade. Nosso app está alinhado com o futuro”, diz.
Provando que cada vez mais profissionais se especializam para atender à terceira idade, pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) feita no ano passado, mostrou que o número de cuidadores registrados subiu 547% de 2007 a 2017, saltando de 5,3 mil para 34 mil. Com o Nonno, outra opção para os idosos será a contratação de acompanhantes para ir ao supermercado, por exemplo.
INCLUSÃO SOCIAL
O investimento e a operação de aplicativos para idosos têm, como os apps para outros públicos, mais duas possibilidades de remuneração: veiculação de anúncios e apoio institucional. Este é o caso do CPQD Facilita, desenvolvido para a terceira idade pela fundação privada CPQD, de Campinas (SP). O programa foi custeado por recursos federais da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), como parte de um estudo de tecnologia digital para inclusão social orçado em R$ 1,9 milhão.
Gratuito para os usuários, o CPQD Facilita é um assistente virtual, que torna o telefone mais amigável para um público com pouca destreza tecnológica. O app abre o teclado em tela cheia, dividida em grandes áreas, com letras e ícones aumentados, e aceita comandos de voz para abrir o caminho às principais funções requeridas no dia a dia pelos idosos, como correio eletrônico, agenda, calculadora, câmera, previsão do tempo e relógio-despertador. O programa soma mais de 45 mil downloads em 18 meses.
O número, modesto em relação ao dos apps populares, é expressivo no caso dos mais velhos, segundo o coordenador técnico do CPQD, Claudinei Martins. “Os idosos vêm de uma geração não tecnológica”, observa. Ressalvando que “o céu é o limite” em matéria de custo, dependendo do porte e da complexidade, ele estima que um aplicativo pode ser criado com investimento na faixa dos R$ 50 mil, empregado nas várias frentes da produção, como design, arquitetura, desenvolvimento, teste e implantação.
Para Martins, o aumento da população idosa abre muitas perspectivas de mercado para aplicativos de cuidados com a saúde, com uso da Internet das Coisas, que permite a interação remota de dispositivos. “Um segmento que vai ter grandes oportunidades é o de health-care. Por um aplicativo, usando bracelete, o idoso pode monitorar a pressão arterial, e a família tem como acompanhá-lo num deslocamento com GPS”, exemplifica ele, que vê os planos de saúde como patrocinadores potenciais dessas inovações.
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