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Correio Braziliense

Autor: Cláudio Galvão de Castro Junior

O câncer infanto juvenil acomete no Brasil cerca de 13 mil indivíduos de zero a 19 anos. Em termo proporcionais, é muito menos que os casos de câncer em adultos, que ultrapassam os 600 mil casos. Todavia a melhoria da saúde pública brasileira levou à diminuição de causas de mortalidade associadas à desnutrição, à desidratação e a doenças que podem ser prevenidas com vacinas. Assim, o câncer infanto juvenil emergiu como a segunda maior causa de morte entre um a 19 anos de idade no Brasil, perdendo apenas para causas externas, como acidentes e homicídios. Aliado a isso, temos que lembrar que crianças têm décadas de vida pela frente. Com isso o câncer passou a ser uma questão de saúde pública nessa faixa etária, em que as mortes por outras doenças são pouco frequentes.

Diferentemente do que acontece nos adultos onde um percentual significativo de doenças é passível de prevenção, é quase impossível prevenir o surgimento de novos casos em pessoas mais jovens, uma vez que eles não estão associados a fatores de risco conhecidos como tabagismo. Também sabemos que menos de 10% dos casos tem alguma relação com doenças hereditárias.

Educar médicos e demais profissionais da área de saúde e os pais para que suspeitem de sinais associados ao câncer, propiciando um diagnóstico precoce, que faz com que os pacientes sejam atendidos com brevidade, evitando o crescimento do tumor e o agravamento do quadro. A outra ação importante é o atendimento desses pacientes em centros de referência, por médicos devidamente capacitados, no caso os oncologistas pediatras. São esses centros que concentram a maioria dos casos e a expertise necessária para o correto atendimento dessas crianças e jovens.

Apesar de termos diversos bons centros de referência na maioria das regiões do país, excetuando-se talvez alguns estados das regiões Norte e Nordeste, muitos pacientes ainda são tratados em locais com pouca experiência ou mesmo sem oncologistas pediatras. Isso é pior particularmente no que se refere ao atendimento de adolescentes, muitos dos quais acabam sendo tratados em locais com pouca expertise. Diversas publicações nacionais e internacionais já demonstraram a importância do atendimento em centros especializados de pacientes nessa faixa etária. Também já foi demonstrada a necessidade de um número mínimo de casos para um atendimento de qualidade, sendo que uma publicação europeia mostrou que, mesmo naquele continente, a qualidade do atendimento era inferior em centros com menos de 30 casos novos por ano.

A incorporação de novos medicamentos também é um problema na oncologia pediátrica. Nos últimos anos, tanto a agência Europeia de Medicamentos quanto o FDA americano (órgão equivalente à nossa Agência Nacional de Vigilância Sanitária — Anvisa), estabeleceram regras determinando que os novos medicamentos oncológicos também devem ser estudados em crianças, logo depois de iniciados os estudos em adultos. Todavia, como essas mudanças são recentes, hoje, no Brasil, medicamentos com eficácia comprovada em linfomas pediátricos como o rituximabe e o brentuximabe são disponibilizados no SUS para maiores de 18 anos, deixando desassistidos crianças e adolescentes.

A despeito das dificuldades, temos conseguido algo em torno de 70% de cura. Num país carente como o nosso é fundamental destacar o papel das instituições de apoio, muitas delas oferecendo alojamentos, transporte e cestas básicas para pacientes e familiares, diminuindo significativamente taxas de abandono do tratamento.


Avançamos muito e somos orgulhosos disso, mas precisamos avançar mais. O câncer infantojuvenil não está contemplado, de maneira clara, em nenhuma linha de cuidado ou política pública. Ele está misturado com políticas para os outros tipos de câncer de adultos. São tratamentos diferentes, que precisam ser abordados de maneiras diferentes.

Temos a esperança de que possamos estabelecer boas leis e políticas para todos os brasileiros que venham a ser acometidos pelo câncer infantojuvenil.

 

(*) Cláudio Galvão de Castro Junior é Presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica e chefe do Serviço de Oncologia e Hematologia Pediátricas da Santa Casa de Porto Alegre

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Comentários

  • Dr Cláudio não é mais presidente da Sobope e também não atua mais na Santa Casa de Porto Alegre
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