ARTIGO: Empresas saudáveis

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O Estado de S.Paulo

Autor: Leandro Fonseca*

Um dos principais atores coadjuvantes no setor de saúde suplementar finalmente começa a entrar em cena: a empresa contratante de planos de saúde. Atualmente, dos 47,1 milhões de beneficiários de planos médico-hospitalares, 2/3 são ligados a planos coletivos empresariais – aqueles oferecidos por empregadores aos seus funcionários e familiares. Em que pese sua relevância como pagadores dos serviços de assistência privada à saúde, as empresas contratantes não atuavam de forma ativa na gestão de saúde de suas populações, tampouco participavam das discussões de aprimoramento setorial.


Gradativamente, algumas empresas passaram a se engajar no tema. Seja porque o custo do plano passou a pesar mais no orçamento (estimativas apontam 15% de participação em relação à folha de pagamentos), seja porque se conscientizaram da necessidade de manter sua população saudável para aumentar a produtividade e reduzir o absenteísmo e o presenteísmo. Obviamente, a situação econômica do País e os custos crescentes em saúde também contribuíram para chamar a atenção dos executivos para o tema. Para conter custos, muitos mudaram de operadora, alteraram o benefício com downgrades ou, no limite, cancelaram o plano dos empregados.


Mas a lógica de contenção de custos apenas “apertando” ou mudando de fornecedor nem sempre funciona. Primeiro, porque os downgrades tendem a impactar negativamente no resultado da empresa, já que a qualidade pior do serviço pode se refletir na indisponibilidade do empregado; segundo, a mera reprodução do modelo assistencial por meio de outra operadora contratada não altera a tendência de aumento de custos gerada pela atual fragmentação dos serviços de saúde; terceiro, caso nenhuma empresa ofereça o benefício, os serviços públicos de assistência serão mais demandados e a contribuição no seu financiamento por meio de impostos deverá aumentar.


Cabe notar também que, diante da frequente mudança de operadora pelos contratantes, são relativamente poucos os beneficiários engajados em programas de promoção à saúde e prevenção de doenças (cerca de 5% do total). O benefício coletivo dessas ações acaba ficando em segundo plano por causa dos impactos financeiros de curto prazo. É preciso quebrar este ciclo vicioso, em prol de um sistema que entregue melhores resultados em saúde a custos suportáveis.


É necessário um modelo assistencial voltado para a promoção da saúde, que identifique quem precisa do cuidado e que coordene a trajetória do paciente com foco em resultados em saúde. As empresas contratantes de planos, ao se entenderem como cogestoras da saúde da sua população, podem requerer do mercado a mudança de modelo necessária. Se todos os contratantes demandassem programas de promoção à saúde, informações organizadas sobre condições clínicas prevalentes em sua população e redes assistenciais com centros de excelência, teríamos um ciclo virtuoso no qual as operadoras com melhores resultados assistenciais seriam valorizadas, a rede de prestadores seria reconhecida em função de seus desfechos clínicos e os objetivos estratégicos dos membros dessa cadeia de valor seriam alinhados à busca de resultados em saúde que importam aos beneficiários.


O primeiro passo a ser dado pelas empresas é o conhecimento do perfil de saúde de sua população. Atualmente, são poucas as que se utilizam, por exemplo, de dados da saúde ocupacional para fins de saúde assistencial. Ademais, é preciso conhecer mais sobre gestão de saúde populacional (um dos aspectos que toda empresa deve prezar). A partir daí, as empresas terão capacidade de demandar a formatação de planos e serviços de saúde que lhes poderão melhor atender. E mais, quando o foco passa a ser na promoção da saúde (e não só no tratamento da doença), os gastos das empresas arrefecem e o benefício social aumenta, trazendo ciclo virtuoso para a saúde da população e para a economia do País.

 

(*) Leandro Fonseca é diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)

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