ARTIGO: O mercado de trabalho depois do câncer de mama

Correio Braziliense

Autora: Marisse Bomfim*

O câncer ainda é visto, de maneira geral, como sinônimo de grande adversidade para muitas pessoas. Com o avanço tecnológico dos últimos anos, porém, as chances de diagnóstico precoce e as taxas de sobrevida aumentaram consideravelmente. Isso significa que muitos ex-pacientes podem seguir a vida normalmente, o que inclui voltar ao mercado de trabalho. A questão é como o mercado está preparado para receber tais profissionais no retorno da licença ao fim do período de tratamento.

Na minha experiência, eu sentia que venceria a batalha contra a enfermidade, mas um dos momentos mais difíceis foi a retomada do trabalho. Fui diagnosticada com um tumor benigno na mama aos 39 anos. Logo em seguida, sempre realizando o autoexame, percebi outro nódulo, que a princípio foi dado também como benigno. Mas suas características eram diferentes do anterior, o que me fez buscar uma segunda opinião médica, quando então foi detectado um tumor maligno: câncer de mama.

Como o tratamento era muito extenuante, precisei me afastar do trabalho. Quando terminei a terapia, apta a retornar às minhas atividades e cheia de planos, senti que a empresa onde trabalhava não soube lidar com minha volta. É difícil para os dois lados, pois o mundo não para durante nosso tratamento, mas não houve um cuidado com relação à minha reinserção.

O olhar de compaixão e, ao mesmo tempo, de dúvida no ambiente é algo que nos fere. Muitos duvidavam da minha capacidade de tocar projetos mais longos, apesar de eu já estar saudável. Com o tempo, fui reconquistando meu espaço, até que decidi procurar novos horizontes profissionais.

Isso demonstra, de forma não generalizada, que as empresas, mesmo fazendo campanhas de prevenção no Outubro Rosa, ainda não se sensibilizaram com todas as questões que envolvem o câncer de mama, e uma delas é como lidar com o retorno das mulheres que tiveram a doença aos postos de trabalho. Assim, as reações iniciais são quase sempre de pena ou de dúvida em relação à capacidade da colaboradora, que precisará provar seu valor mais uma vez para a organização.

Muitas não conseguem se reposicionar no mercado de trabalho e partem para atividades alternativas, ou começam a duvidar da própria capacidade, abandonam as carreiras e passam a apresentar sintomas de depressão.

No Brasil, a taxa de retorno ao trabalho após dois anos do diagnóstico de câncer de mama é de 60%, segundo pesquisa do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp). O levantamento também revela que mulheres com remuneração acima de dois salários mínimos ou que passaram por cirurgia que preserva a maior parte da mama tiveram mais chance de se recolocar. Outro fator que auxilia as funcionárias é a flexibilidade no ambiente de trabalho, mas apenas 29% conseguem esse benefício.

Esses dados indicam que as campanhas do Outubro Rosa devem ir além da prevenção ao câncer de mama e do autoexame. Deve ser discutida, também, sob a ótica da recolocação das mulheres no mercado, de que maneira isso pode ser feito, formas adequadas de tratamento, bem como políticas para facilitar a reinserção das profissionais.

 

(*) Marisse Bomfim é coordenadora fiscal da Hughes

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