Brasil avança na produção de biofármacos

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Até 2060, o número de idosos no Brasil vai quadruplicar e a expectativa média de vida deve passar dos atuais 75,5 anos para 81 anos, projeta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O envelhecimento da população eleva a incidência de doenças crônicas e neurodegenerativas, como câncer e esclerose múltipla. Para tratá-las, a nova fronteira da ciência são os medicamentos biológicos, moléculas complexas obtidas com o cultivo de células geneticamente modificadas.

Nos últimos três anos, várias empresas farmacêuticas nacionais fizeram investimentos que somam R$ 3 bilhões para se tornar competitivas em biotecnologia humana. Estima-se que esse mercado potencial atinja US$ 45 bilhões (R$ 146,6 bilhões) somente em patentes expiradas e a expirar entre 2014 e 2018. Dominar a biotecnologia é vital para o país, que depende das importações. No ano passado, o Ministério da Saúde gastou R$ 3 bilhões com biofármacos, que representam apenas 10% da quantidade de medicamentos adquiridos para o Sistema Único de Saúde (SUS), mas consomem 60% da verba destinada às compras.

Uma tentativa de mudar este quadro é o programa de Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs) com a indústria farmacêutica, em consolidação nos últimos cinco anos. Por meio de acordos tripartites entre empresas privadas, laboratórios públicos e o ministério, o Estado utiliza seu poder de compra para promover a fabricação em território nacional. A economia com as aquisições via PDPs entre 2011 e maio de 2017 soma R$ 4,68 bilhões.

“O Brasil está dando três saltos fundamentais”, diz Reginaldo Arcuri, presidente do grupo FarmaBrasil, que reúne os laboratórios nacionais Aché, Biolab, Bionovis, Cristália, Eurofarma, Libris, Hebron e Orygen. “Temos controle industrial da tecnologia, vamos garantir acesso da população a medicamentos essenciais e viabilizar preços decrescentes a cada ano.”

As empresas do FarmaBrasil – R$ 12 bilhões de receita líquida em 2016 – fabricam anticorpos monoclonais, proteínas usadas pelo sistema imunológico para identificar e neutralizar bactérias, vírus ou células tumorais.

Arcuri ressalta que as PDPs diminuem a vulnerabilidade do SUS e fomentam o desenvolvimento tecnológico do país, sem criar subsídio nem provocar impacto fiscal negativo. Ele destaca a importância de uma visão de longo prazo para o programa, já que o ciclo de desenvolvimento de um biofármaco pode levar de dez a vinte anos.

Oito projetos de PDP foram firmados pela Bionovis – joint-venture entre Aché, EMS, Hypermarcas e Grupo União Química. style="display:block" data-ad-format="autorelaxed" data-ad-client="ca-pub-6652631670584205" data-ad-slot="7514086806"> Uma parceria com a Janssen, do grupo Johnson&Johnson, e com o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos da Fundação Oswaldo Cruz (Bio-Manguinhos/Fiocruz), prevê transferência de tecnologia para fabricação nacional da Inflixmab, droga que trata 15 doenças do sistema imunológico. A produção deve começar daqui a cinco anos em Valinhos (SP). “Pretendemos nos transformar em uma empresa global em 2022”, afirma o presidente da Bionovis, Odnir Finotti.

O Bio-Manguinhos investiu R$ 500 milhões em uma planta de reativos para diagnóstico, ingredientes ativos para biofármacos e escalonamento da produção, que entra em operação em 2018. “Estamos lançando um produto único no mundo, um teste para bolsas de sangue capaz de detectar sete enfermidades, entre elas a malária”, diz o diretor Mauricio Zuma.

Em parceria com a israelense Protalix, o instituto vai instalar no Ceará, até 2024, uma unidade para produzir biofármacos a partir de uma tecnologia que usa células de cenoura como plataforma vegetal. Uma nova vacina contra a dengue também está sendo desenvolvida com a filial belga da britânica GSK.

Controlada pelos laboratórios Biolab e Eurofarma, a Orygen está investindo R$ 500 milhões para fabricar biofármacos que atuam contra artrite reumatoide, câncer e leucemia linfoide crônica, entre outras doenças. A produção começa em 2020 em Itapevi (SP). Numa parceria com o Bio-Manguinhos, a empresa desenvolve a primeira vacina do mundo para prevenir e tratar a esquistossomose. Os testes clínicos estão sendo realizados na Etiópia até 2019. “Nossa ideia é construir uma fábrica para produtos neurobiológicos em São Carlos (SP)”, diz o presidente da Orygen, Dante Alário Jr.

A Cristália desenvolveu o primeiro biofármaco nacional derivado da biodiversidade brasileira, a Colagenase, que trata feridas de queimaduras, entre outros usos. O processo produtivo é inovador, pois está livre de componentes animais. Em agosto o produto recebeu patente americana e está sendo testado por um laboratório israelense, por seu potencial para baratear o custo da terapia celular.

“Temos um banco de bioprospecção com mais de 3 mil bactérias novas e raras isoladas, provenientes da biodiversidade brasileira”, informa o diretor de tecnologia Marcos Alegria.

Fonte: Valor Econômico

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