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Os ucranianos vão transferir tecnologia para o Brasil

Por Carta Capital

Em novembro de 2017, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária suspendeu a compra da insulina produzida pela empresa ucraniana Indar. A proibição não durou muito. Em abril, a fabricante voltou a fornecer o hormônio para o Brasil. As advertências eram pontuais.

Embora não existam notificações na Anvisa ou no Ministério da Saúde que apontem ineficiência ou danos causados pelo produto, circulam boatos de que o remédio colocaria em risco a vida dos pacientes. Os fabricantes desconfiam de uma estratégia de antipropaganda dos concorrentes. Não seria surpreendente em um mercado disputado por grandes laboratórios internacionais.

Afastadas as suspeitas, o laboratório público Bahiafarma, localizado na Região Metropolitana de Salvador, passará a fornecer 50% de toda a insulina consumida no País e produzida pelos ucranianos até a empresa baiana começar a produzir sua própria insulina a partir da tecnologia fornecida pela Indar. 

A rota da tecnologia Salvador-Kiev foi inaugurada ainda na gestão de Jaques Wagner, ex-governador da Bahia, e a parceria tem tudo a ver com a diplomacia inaugurada nos governos petistas, sob a batuta do chanceler Celso Amorim, de parcerias comerciais fora do circuito Estados Unidos-Europa. Desde então, todos sabem, muito coisa mudou no cenário político brasileiro.

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Ainda assim, os executivos ucranianos não demonstram grande preocupação com a instabilidade política brasileira. Essencialmente, porque o atual governador baiano, Rui Costa, lidera com folga as pesquisas de opinião e tem todas as chances de vencer ainda no primeiro turno. A parceria não é exatamente com o Brasil, mas com a Bahia. 

Desativada em 2002 e reaberta em 2011, a Bahiafarma em pouco tempo alcançou certo protagonismo no setor farmacêutico. O laboratório estatal foi o primeiro a disponibilizar testes rápidos para o diagnóstico de dengue, zika e chikungunya e tem produzido outros medicamentos antes importados pelo Brasil.

A parceria com a Ucrânia nasceu dessa disposição e não dispensa uma dose de folclore e sincretismo. Nesse quesito, baianos e ucranianos têm mais semelhanças do que diferenças. O acordo só foi concretizado após o ritual de afagos ao famoso Gato Pantyusha de Kiev. Reza a lenda que quem passar as mãos da cabeça ao rabo do gato terá boa sorte. O felino, diz a crença popular, teria salvado vidas durante um incêndio, sobrando para si o trágico fim de morrer pelas chamas. 

A circunspecta chefe-adjunta de negócios e assessora especial da presidência da Indar, Maryna Potibenko, prefere uma versão mais racional. “Não há lenda. São histórias que se criam para um país em eterno conflito e crise, e os moradores precisam se apegar a alguma coisa.” Pelo sim, pelo não, consta no diário de bordo que Jaques Wagner segurou no rabo do gato antes de se despedir da capital ucraniana. Essa é apenas uma das versões para a parceria ter sobrevivido às intensas pressões do lobby farmacêutico e ao pouco caso de Brasília. 

A presidente do laboratório ucraniano, Liubov Vishnevska – prenome que em ucraniano significa amor –, está segura da parceria, assim como o presidente da Bahiafarma, Ronaldo Dias. Ambos projetam, a partir da nova fábrica nos arredores de Salvador, a produção de derivados do medicamento e de análogos de insulina. Bastou o anúncio de construção da fábrica de insulina na Bahia, afirma Dias, para o preço do produto cair no mercado interno. 

Os primeiros passos para o fornecimento de insulinas Bahiafarma-Indar para o SUS ocorreu em abril deste ano. Considerado um setor estratégico para o Ministério da Saúde, por causa da alta demanda por insulina, a ideia é que o País se torne autossuficiente. 

Pelo acordo, a Bahiafarma passa a ser responsável pelo fornecimento de 50% da demanda das insulinas de maior uso, a Regular (R), e a de ação prolongada, NPH. O investimento na fábrica é estimado em 100 milhões de dólares.

O diabetes é uma doença crônica, de grande alcance (acomete, aproximadamente, 10% dos adultos no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde) e em expansão, resultado do sedentarismo e da obesidade galopante.

Segundo o Ministério da Saúde, o número de brasileiros diagnosticados com diabetes cresceu 61,8% entre 2006 e 2016 e atinge 8,9% da população. Assim, a parceria é uma prova de que o Brasil pode ser mais ativo no setor.

Vishnevska, a propósito, critica o nosso tradicional complexo de vira-latas. “Os brasileiros não podem ser consumidos por essa cultura que diz que nada que é produzido por eles é bom. Já fomos assim também. O importante é que vocês tenham saúde e independência.”

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