Os resultados sugerem que as políticas públicas atuais, embora valiosas, não estão sendo suficientes para reduzir a carga da tuberculose
Por Fiocruz
Pesquisadores identificaram os principais preditores da incidência da tuberculose no Brasil, analisando os registros da doença no período de janeiro de 2018 a dezembro de 2023, e realizaram projeções para o período de 2024 a 2030. Os resultados sugerem que as políticas públicas atuais, embora valiosas, não estão sendo suficientes para reduzir a carga da tuberculose, de acordo com o plano de eliminação da Organização Mundial de Saúde (OMS).
O trabalho, coordenado pelo pesquisador da Fiocruz Bahia, Bruno Bezerril, foi publicado no The Lancet Regional Health – Americas, com o objetivo de avaliar possíveis impactos de intervenções estratégicas de saúde pública para redução da incidência da doença no país. Em 2023, a incidência da tuberculose no Brasil foi de 39,8 casos por 100.000 habitantes, muito acima da meta da Organização Mundial de Saúde (OMS), de 6,7 casos por 100.000. O estudo prevê que a incidência da doença no Brasil até 2030 será ainda maior: 42,1 por 100.000 pessoas por ano.
A pesquisa identificou como principais preditores o encarceramento e a comorbidade da tuberculose com HIV e diabetes mellitus, além de coberturas de terapia diretamente observada (DOT), contato e a conclusão de tratamento preventivo (TPT). Os desafios apontados para atingir as metas globais de eliminação da doença foram o acesso limitado à saúde, a não adesão ao tratamento, o impacto da pandemia da Covid-19 e a limitação de recursos para ações inovadoras no controle da doença na última década.
Os especialistas avaliaram que, caso houvesse aumento da cobertura de DOT, de adesão ao TPT e da investigação de contato, combinado com esforços para reduzir casos de tuberculose entre populações vulneráveis, a incidência poderia ser reduzida a 18,5 casos por 100.000, embora ainda seja um número acima das metas da OMS. Com essas intervenções, foram observadas reduções de 25,1% na incidência projetada até 2025 e 56,1% até 2030, destacando o potencial de estratégias integradas.
O artigo também ressaltou a necessidade de aprimorar os programas de controle da tuberculose em ambientes prisionais, por meio da melhoria da triagem, acesso ao TPT e conclusão do tratamento, bem como melhor cogestão de casos de coinfecção com HIV e diabetes, com aumento de testes e início do tratamento, para redução significativa das taxas nacionais de incidência da enfermidade.
Os dados utilizados no estudo foram coletados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN-TB), no Sistema de Informação de Tratamentos Especiais da Tuberculose (Site-TB) e no Sistema de Informação para Notificação das Pessoas em Tratamento de ILTB (IL-TB).
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