Busca pelo exame revalida cresce 1.336%

 O Estado de S.Paulo
Jornalista: Fabiana Cambricoli

29/09/19 - A situação das faculdades novatas e incertezas sobre o futuro do programa Mais Médicos e da revalidação do diploma no Brasil trazem angústia aos brasileiros que estudam no exterior e aos já formados. Alguns não sabem se conseguirão o diploma. Mesmo os que estudam em faculdades com situação regular não têm garantia de que poderão trabalhar no Brasil.

A maioria dos estudantes ouvidos pelo Estado diz que pretende revalidar o diploma para trabalhar no Brasil, mas estatísticas do Ministério da Educação (MEC) mostram que poucos conseguem. Nas sete edições do exame Revalida realizadas desde 2011, somente 19,9% dos brasileiros foram aprovados.

O número de inscritos no exame só aumenta. Em 2011, eram 297. Em 2017, o número saltou para 4.267, um crescimento de 1.336%. Além da dificuldade do exame, os estudantes estão agora angustiados com a falta de definição sobre o próximo Revalida. A última edição foi a de 2017, com sucessivos atrasos em suas duas fases, o que comprometeu as edições dos anos seguintes.

Formado em 2016, Rafael Lindolfo Carreteiro, de 26 anos, foi um dos últimos brasileiros formados no Paraguai que conseguiram ter o diploma revalidado. Para isso, porém, passou por uma longa espera. “A segunda fase do Revalida era para ser em março de 2018 e foi acontecer só em novembro. Meu diploma saiu só em maio deste ano. Foi um desespero. Cheguei a ficar com sintomas de depressão, porque foram tantos anos de luta e sacrifício para conseguir estudar fora e vinha o medo de não saber se conseguiria trabalhar.”

Após a revalidação, ele emitiu seu registro no Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul e logo começou a trabalhar em um hospital de Ponta Porã como plantonista no pronto-socorro. Agora, estuda para a residência em cirurgia geral.

Sidnei Henrique Silva, de 28 anos, graduado em 2016, não conseguiu passar no Revalida 2017 e, sem ter outra chance, trabalha como assistente administrativo da Secretaria da Saúde de Rio Pardo (MS). “Parece que eles (o governo) estão mais preocupados com os cubanos do que com a gente. Não queremos privilégio, apenas o direito de fazer a prova”, diz Silva. “Não me arrependo de ter estudado fora porque era a única forma de realizar meu sonho. Mas se alguém me perguntar hoje se deve ir, eu aconselho a não ir”, diz.

Formado em 2017, Emil Sleiman Tibcherani, de 30 anos, optou por trabalhar no Paraguai enquanto não consegue revalidar o diploma no Brasil. Ele é professor de histologia e primeiros auxílios da Uninorte, mesma universidade em que se formou, e atua como médico na cidade paraguaia de Rio Verde. “Para mim fica mais fácil trabalhar no Paraguai porque sou de Ponta Porã, então vivo perto da fronteira. Mas há colegas das Regiões Norte e Nordeste que se formaram aqui, voltaram para suas cidades e estão sem trabalhar.”

O cenário de incerteza fez um grupo de estudantes de Pedro Juan montar, em fevereiro, uma associação para representar brasileiros que estão na região em busca do diploma. A entidade (Ameex) tem 2.100 membros.

MEC

Questionado sobre o Revalida, o MEC afirmou que as provas e a divulgação dos resultados do exame de 2017 sofreram atraso por causa dos recursos movidos por candidatos e que busca de forma prioritária “sanar o lapso temporal” do Revalida com medidas de ajustes. Sobre a realização do próximo exame, o ministério informou que será “o mais breve possível”. A pasta prorrogou a portaria que criou um grupo de trabalho para discutir mudanças no Revalida – as propostas devem ser concluídas até o fim de outubro.

Para o cônsul do Brasil em Pedro Juan Caballero, Vitor Hugo de Souza Irigaray, a migração em massa de estudantes brasileiros à fronteira precisa de maior atenção do governo federal.
Ele defende que seja formada uma missão com representantes dos Ministérios da Educação e da Saúde para verificar a situação de alunos e faculdades. “Precisamos de médicos bem formados. Quem está em jogo não é o médico, é o paciente.”

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