Foto: Antonio Valiente / Agencia RBS
Nem mesmo a recente crise econômica abalou a trajetória de expansão do varejo farmacêutico em Caxias do Sul. Prova disso é que, nos últimos cinco anos, o município ganhou, em média, uma nova farmácia a cada 20 dias. Entre 2014 e 2018, conforme dados da Receita Federal, foram abertos 88 estabelecimentos deste tipo na cidade. No momento, Caxias totaliza 248 pontos de vendas de medicamentos em atuação. Se levada em consideração a população total da cidade, de 504 mil habitantes, isso representa um ponto para cada 2 mil caxienses.
A velocidade com que algumas redes se expandem chama a atenção dos consumidores. É possível verificar, em determinadas partes da cidade, aglomerações de farmácias. Em alguns casos, marcas concorrentes operam umas ao lado das outras. O diretor do Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Roberto Birch Gonçalves, salienta que vem crescendo o peso de medicamentos e produtos de higiene no orçamento das famílias. Neste sentido, o aumento na demanda por estes produtos acaba embasando a ampliação da oferta de farmácias.
Gonçalves enfatiza que este mercado passa por uma transformação, na qual as grandes redes detêm o protagonismo. Com maior margem para negociação com fornecedores, elas geralmente conseguem oferecer preços mais em conta aos clientes. Assim, empresas locais ou de menor porte estão perdendo espaço.
– Como o mercado é muito grande, acaba não havendo mais espaço para cachorro pequeno. Redes locais com uma ou duas unidades tendem a desaparecer, se já não desapareceram. As grandes redes têm maior poder econômico – destaca.
E a expansão das grandes marcas tende a continuar na cidade. Hoje com 15 unidades em Caxias, a Panvel se prepara para inaugurar duas novas lojas ainda no primeiro semestre. Uma unidade será vinculada a um complexo hospitalar e outra será colocada em uma rua ainda a ser confirmada pela marca. Diretor de operações do Grupo Dimed, que engloba a Panvel, Roberto Coimbra, aponta que o investimento ficará na faixa de R$ 1,5 milhão.
O dirigente lembra que a competitividade do mercado tem aumentado nos últimos anos, mas ressalta que o foco da Panvel não é por uma expansão desenfreada. A estratégia consiste em colocar pontos em novos mercados e reestruturar as lojas já em operação, trocando lojas menores por outras maiores.
– Sempre teve competição no mercado, mas hoje ela parece mais visível. Tem marcas do Sul indo para São Paulo e as lá vindo para cá, então essas barreiras territoriais caíram. Mas as empresas têm propostas diferentes umas das outras. Há farmácias com público mais popular, outras mais focadas em produtos de beleza – exemplifica.
Com faturamento superior a R$ 2 bilhões, o grupo conta com cerca de 450 unidades da Panvel nos Estados da região Sul e em São Paulo. Destas unidades, mais de 300 estão no Rio Grande do Sul, onde a marca detém aproximadamente 35% do mercado.
Mercado bilionário
Em determinados pontos da cidade, é possível visualizar diversas empresas que dividem espaço em uma mesma quadra
A expansão acelerada do comércio farmacêutico é verificada em todo o Brasil. Entre dezembro de 2017 e novembro de 2018, as farmácias faturaram R$ 119 bilhões de acordo com a IQVIA, crescimento de 11,9% frente ao período anterior. Somente as 25 maiores redes do país, ligadas à Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), possuem 42% do mercado nacional. Ao todo, esse grupo de empresas faturou R$ 47,1 bilhões no ano passado, expansão de 7,5%.
O diretor-executivo da Abrafarma, Sérgio Mena Barreto, aponta que a maior preocupação da população com a saúde impulsiona o número de lojas. No ano passado, foram realizados mais de 900 milhões de atendimentos nas farmácias de todo o país.
– A população está envelhecendo e está tomando ciência da importância do cuidado para a prevenção de doenças e administração de pequenos sintomas – diz.
Mesmo que algumas empresas diversifiquem o mix de produtos, apostando em perfumaria e artigos de beleza, o carro-chefe segue sendo a venda de medicamentos. Apenas esse nicho movimentou R$ 32,1 bilhões no ano passado.
Expansão acelerada
Nos últimos anos, a rede Farmácias São João se consolidou como uma das empresas com maior presença no mercado de Caxias do Sul. Em um movimento acelerado de expansão, passou a acumular pontos de vendas de medicamentos pelo município, replicando uma estratégia utilizada em outras cidades do Rio Grande do Sul e dos demais Estados da região Sul.
Hoje, a empresa já possui mais de 700 unidades. Em toda a Serra, são 96 filiais, sendo 44 estabelecimentos apenas em Caxias. Na sequência, os municípios da região com mais pontos são Bento Gonçalves (nove), Vacaria (sete) e Farroupilha (seis).
Ainda que tenha sua matriz em Passo Fundo, na região Noroeste do Rio Grande do Sul, a São João possui uma forte ligação com a Serra, já que a região marcou o início do processo de expansão da marca.
Até 1996, a empresa se chamava Drogafar. Na época, o presidente da rede, Pedro Henrique Brair, decidiu rebatizar o negócio ao abrir sua primeira filial, em Nova Prata, cidade de tradição católica. Como São João é o padroeiro da cidade, a escolha acabou sendo por nomear a empresa em alusão ao santo. De lá para cá, o nome passou a figurar em centenas de outras cidades do Sul do país.
Atualmente, a rede é quarta maior do Brasil, tanto em número de lojas como em faturamento anual, de acordo com dados da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma). A receita da marca tem crescido em média 30% nos últimos anos. Em 2018, a meta da empresa era ultrapassar a faixa de R$ 3 bilhões em negócios.
O Pioneiro tentou realizar contato com o presidente da companhia para abordar os planos de expansão da rede em Caxias, mas até o fechamento desta edição não obteve retorno.
Fonte: Pioneiro – RS
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