China tenta isolar cidade onde surgiu a nova epidemia

Valor Econômico
Jornalista: Chao Deng, da Dow Jones Newswires
23/01/20 - Todos os transportes saindo de Wuhan estão suspensos a partir de hoje. Cidade é a capital da província de Hubei e tem 11 milhões de habitantes. Ao menos 17 pessoas já morreram devido à doença causada pelo novo vírus

A cidade chinesa de Wuhan, onde se originou o novo surto de vírus, vai impedir a saída de todos os seus voos e trens e fechar seu sistema de transporte público a partir da manhã de hoje, segundo informou a TV estatal chinesa.

O isolamento da cidade, de 11 milhões de habitantes, começará às 10h, horário local, e terá duração indeterminada, informou a TV estatal, citando como fonte o centro de prevenção e controle de doenças local. Os serviços de metrô, ônibus urbanos e de longa distância e de balsas também serão suspensos, acrescentou.

“A não ser que tenham algum motivo especial, os moradores não devem sair de Wuhan”, disse a CCTV, citando uma nota oficial.

O bloqueio de uma capital de província é algo sem precedentes na China desde 1949, tuitou Hu Xijin, editor-chefe do “Global Times”, jornal estatal em inglês, referindo-se à data de fundação da República Popular da China. “Não se fez isso nem durante a sars [síndrome respiratória aguda grave] em 2003.”

Wuhan, um importante polo de transporte no centro da China, é o epicentro da batalha contra um vírus recém-identificado que pode causar infecção pulmonar.

Desde o seu surgimento, em um mercado de frutos do mar e pecuária da cidade, o vírus já matou 17 pessoas e o número de infectados se multiplicou nos últimos dias, com 571 casos confirmados na China continental até ontem, segundo a CCTV e autoridades locais chinesas. Casos de pacientes com o vírus também foram detectados em outros países, entre eles EUA, Japão, Coreia do Sul e Tailândia.

Em Hong Kong, as autoridades de saúde disseram ontem que é provável que um paciente tenha sido infectado com o novo coronavírus, no que seria o primeiro caso confirmado nesse território chinês. O paciente, um homem de 39 anos de Wuhan, chegou a Hong Kong na terça-feira, disse Sophia Chan, secretária de Saúde e Alimentação local. Ela relatou que exames preliminares deram resultado positivo para o vírus.

A mídia estatal chinesa informou ainda que do outro lado do rio Pérola, o território chinês de Macau também confirmou ontem o seu primeiro caso: uma mulher de 52 anos que pegara um trem de alta velocidade em Wuhan.

Várias províncias da China, como Fujian, Anhui, Liaoning e Guizhou, confirmaram seus primeiros casos de infecção, segundo a CCTV e autoridades locais. A província de Hubei, da qual Wuhan é a capital e maior cidade, registrou ontem um total de 444 casos confirmados, um salto com relação aos 270 do dia anterior. Essa foi a única região a relatar mortes pelo vírus até agora - que subiram para 17.

Fora da China, a Tailândia confirmou três casos, e Japão, Coreia do Sul e Taiwan relataram um caso cada. Na terça-feira, autoridades americanas confirmaram o primeiro caso, um homem que chegou recentemente ao Estado de Washington, após visita a Wuhan.

A China está no início de um dos períodos de viagem mais movimentados do ano, nas vésperas do feriado do Ano Novo Lunar, que começa formalmente na sexta-feira. Isso aumenta o risco de transmissão e propagação do vírus. A sars, que se espalhou pela China no fim de 2002 e no início de 2003, também coincidiu com esse feriado, no qual dezenas de milhões de chineses voltam para casa para passar um tempo com a família. A sars, surgida no sul da China e causada por uma variedade diferente de coronavírus, espalhou-se mundialmente e deixou 774 mortos.

Uma comissão da Organização Mundial de Saúde (OMS) da ONU deve decidir hoje se o surto do novo vírus constitui uma emergência de saúde pública de preocupação mundial. Essa designação ajudaria a mobilizar recursos para evitar a propagação do vírus.

Em Pequim, autoridades de saúde chinesas disseram que ainda estão empenhadas em saber mais sobre o vírus e prometeram rapidez na divulgação de informações.

Nesta semana, Zhong Nanshan, um dos mais renomados epidemiologistas da China, confirmou as suspeitas de que o novo coronavírus é transmissível por humanos. Acredita-se que o vírus tenha infectado seres humanos a partir de animais, no mercado de Wuhan.

Pouco se sabe sobre o novo vírus, o que dificulta ainda mais a tarefa de conceber as medidas adequadas, dizem especialistas. As autoridades chinesas ainda não determinaram que animal teria hospedado originalmente o vírus e o transmitido a seres humanos. Não se sabe ainda qual é o período de incubação da doença nem o tempo necessário para que os pacientes comecem a sentir sintomas. Também não se sabe ainda qual a taxa de letalidade do vírus.

“Se soubessem qual o período de incubação, poderiam pôr em quarentena pessoas que tiveram contato direto com pacientes contaminados”, disse Melissa Nolan, professora da Faculdade Arnold de Saúde Pública, da Universidade de Carolina do Sul. “Essas pessoas seriam monitoradas durante esse período de incubação.”

Enquanto o governo tenta descobrir mais sobre como a doença se espalha, ele concentra sua atenção na possibilidade de haver supertransmissores - pacientes infectados que transmitiram o vírus para várias pessoas, disse Gao Fu, diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China.

Na terça-feira, o epidemiologista Zhong, que lidera um grupo de especialistas criado pelo governo, disse que um paciente em Wuhan infectou mais de uma dúzia de integrantes da equipe médica. Mas Gao disse que ainda não havia evidência de supertransmissores.

Uma razão pela qual a sars se espalhou tão rapidamente há quase duas décadas foi porque alguns indivíduos conseguiram de transmitir a doença a dezenas de outros antes de adoecerem.

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