Cientistas buscam cura universal para picada de cobra
Ataques de cobra matam 138 mil pessoas por ano (Foto: Pixabay)
Cientistas visam encontrar uma cura universal para a picada de cobra por meio da mesma técnica usada para detectar anticorpos do HIV
Um consórcio formado por especialistas em veneno da Índia, do Quênia, da Nigéria, do Reino unido e dos Estados Unidos se empenha em desenvolver anticorpos para tratar sintomas críticos de picadas de cobra, que afetam quase 3 milhões de pessoas em todo o mundo a cada ano.
O consórcio buscará um antídoto composto de “anticorpos humanizados” em vez de terapias convencionais baseadas em animais, que, às vezes, podem causar efeitos adversos em vítimas de picada de cobra, segundo o professor Robert Harrison, que lidera o centro de pesquisas e intervenções sobre picada de cobra na Escola de Tropical de Liverpool, no Reino Unido.
“O método convencional de produção de antiveneno para tratar a picada de cobra envolve a purificação de anticorpos de cavalos ou carneiros imunizados com veneno e a injeção em pacientes. Isso pode causar efeitos colaterais adversos e, por causa disso, o antiveneno deve ser administrado em um ambiente hospitalar. Isso significa que as vítimas têm de ir para o hospital de suas comunidades, que geralmente ficam a várias horas de distância, período no qual, geralmente, há uma progressão de patologia, que, às vezes, pode levar a desfigurações severas ou morte”, explica Harrison.
Rory Stewart, secretário de desenvolvimento internacional do Reino Unido, que anunciou 9 milhões de libras em ajuda do Reino Unido para financiar a pesquisa, disse que o novo antídoto ajudaria a “desenvolver um tratamento acessível e eficaz”.
“Em partes da África e da Ásia, as picadas de cobra são uma ameaça diária, causando incapacidades que mudam a vida ou – na pior das hipóteses – levam à morte. Mais de 80 mil pessoas morrem todos os anos de picadas de cobra e, devido à enorme variedade de venenos de cobra, as pessoas muitas vezes não recebem o tratamento de que precisam a tempo ”, disse Stewart.
O compromisso de 9 milhões de libras está entre uma enxurrada de compromissos recentes direcionados a transformar a gestão da picada de cobra. O Wellcome Trust anunciou recentemente um programa de 80 milhões de libras para aprimorar os métodos de tratamento atuais e desenvolver novas técnicas. Além disso, a Organização Mundial da Saúde anunciou uma nova estratégia para reduzir pela metade o número de mortes por picadas de cobra em 2030. Coletivamente, esses compromissos “fornecem uma mudança completa no gerenciamento de picada de cobra e uma esperança real para o futuro”, disse Harrison.
A nova abordagem para encontrar uma cura universal para picada de cobra surgiu depois que o Devin Sok, um cientista americano especializado em HIV, percebeu que a metodologia de localizar as várias cepas de anticorpos anti-HIV também poderia ser aplicada à picada de cobra. Sok então contatou Harrison em Liverpool.
“Esse tipo de sinergia apresenta um modelo de trabalho para identificar novas soluções para os desafios globais de saúde de longo prazo e acelerar o desenvolvimento de produtos para doenças negligenciadas”, apontou Harrison.
O veneno de cobra mata 138 mil pessoas a cada ano e deixa permanentemente incapacitadas outras 400 mil. As vítimas são das partes mais pobres da África e da Índia, onde o acesso a antídotos varia de inexistente a mínimo. No entanto, o antiveneno não é a única resposta, segundo Harrison, que disse que, na África Subsaariana, 90% dos produtos disponíveis são ineficazes. “Eles são feitos para cobras que não são africanas, ou as concentrações são muito fracas para serem eficazes”, disse ele.
Ben Waldmann, gerente de programas de picada de cobra da Health Action International, saudou a meta da OMS de reduzir pela metade as mortes por picadas de cobra até 2030, mas disse que os governos devem primeiro entender a escala do problema registrando com precisão o número de mortes anuais. Muitas vítimas vivem muito longe dos hospitais para procurar tratamento profissional.
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