Unidades do HIV (vermelho) atravessam membrana de célula infectada (azul) - Foto: NIAID/NIH
O Globo
Jornalista: Rafael Garcia
23/01/20 - Um grande obstáculo nas pesquisas em buscada cu rapara a infecção de HIV é que ele pode se “esconder” dentro de células humanas, adotando uma forma latente que impede sua localização por medicamentos ou pelo sistema imune. Cientistas anunciaram ontem o sucesso de dois diferentes métodos para “desentocar” o vírus da Aids.
Os trabalhos, liderados pela Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill e pela Universidade Emory, de Atlanta, ambas nos EUA, obtiveram sucesso em reativar sinais da presença do vírus em experimentos com macacos e camundongos.
Para tal, pesquisadores usaram drogas que fazem com que o HIV comece a produzir as proteínas que o compõem, deixando-o exposto. Um dos experimentos, liderado por Victor Garcia, de Chapel Hill, usou a AZD5588, droga originalmente usada no tratamento de câncer, que também atua em cadeia de reações imunes.
“Essa abordagem promissora para reversão da latência —em combinação com as ferramentas apropriadas para a liberação sistêmica da infecção por HIV —aumenta muito as oportunidades para liberação”, escreveu o cientista com seus coautores em estudo na revista científica Nature, que publica o trabalho.
O outro, liderado por Guido Silvestri, sai na mesma edição, descrevendo uma estratégia diferente. O grupo de Atlanta usou uma combinação de drogas para, ao mesmo tempo, inibir um tipo de célula imune que cala a atividade do vírus em sua presença (os linfócitos T CD 8) e aumenta a produção de interleucina, uma molécula que atua na regulação da imunidade.
Os dois grupos de pesquisa interagiram e colaboraram um com o outro, mas demonstraram, cada um deles, a eficácia de seus métodos em dois modelos experimentais consagrados de pesquisa. Um deles foi a infecção de macacos resos pelo SIV, o vírus análogo ao HIV que infecta símios.
O outro foi a infecção por HIV em “camundongos humanizados”, um tipo especial de cobaia. Como o HIV é capaz de infectar apenas humanos, cientistas alteraram a medula óssea de camundongos, usando tecido humano, para que eles passassem a produzir células vulneráveis ao vírus.
‘ASSUSTAR E MATAR’
E, tanto nos símios quanto nos roedores, as diferentes estratégias para desentocar o HIV de seu esconderijo funcionaram. Os pesquisadores manifestam esperança de que a estratégia “shock and kill” (provocar o vírus para depois matá-lo) possa se tornar realidade para humanos.
Apesar de reconhecerem que há um longo de caminho de pesquisa pela frente, cientistas não relacionados com os dois estudos expressaram otimismo.
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