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THCP e CBDP demonstram quanto ainda precisamos aprender estudando a maconha.
Por Troy Farah; Traduzido por Marina Schnoor
A planta Cannabis sativa produz mais de 400 químicos, mas apenas um, o THC, te deixa chapado. Ou era o que parecia. Um grupo de pesquisadores italianos anunciou em 30 de dezembro a descoberta de dois novos canabinoides, químicos produzidos pela maconha como o THC e o CBD.
O primeiro, o tetra-hidrocannabiforol (THCP), supostamente é 30 vezes mais potente que o THC, segundo os pesquisadores. Se isso significa que o químico te deixa 30 vezes mais louco – ou se é realmente psicoativo – ainda não se sabe. Mas em ratos, o THCP foi mais ativo que o THC em doses menores. Os cientistas também descobriram o cannabidiforol (CBDP), um primo do CBD, um produto febre de bem-estar agora.
A descoberta do THCP, publicada no Scientific Reports, pode explicar algumas das variabilidades de chapar – por que fumar diferentes misturas de maconha pode render sentimentos diferentes. Isso também pode explicar alguns dos aspectos medicinais do THC, que é usado para tratar náusea e perda de apetite em pacientes com câncer e HIV, entre outras coisas.
Flores de cannabis são como pequenas fábricas que produzem centenas de químicos, cerca de 60 deles canabinoides. Essas drogas imitam químicos que o corpo produz naturalmente para equilibrar inflamação. Poucos canabinoides são bem estudados, mas têm muitas aplicações médicas promissoras.
Tetra-hidrocannabivarina (THCV), por exemplo, pode ser usado para regular obesidade, porque pode moderar níveis de glucose. Mas a concentração de THCV na maioria das cepas de cannabis é tão pequena que fumar um beck todo dia provavelmente não vai evitar que alguém desenvolva diabetes.
As quantidades de THCP e CBCP encontradas no estudo também foram baixas. Os pesquisadores analisaram uma variedade de cannabis de baixo THC chamada FM2, que é cultivada pelo exército italiano.
Mas THCP e CBDP podem ser mais abundantes em outras cepas, o que seria preciso investigar. Não seria difícil que plantas de cannabis especialmente cultivadas possam produzir altas quantidades desses novos canabinoide. Alguma startup pode até tentar cultivá-los a partir de levedura.
Por enquanto, para o que CBDP e THCP podem ser úteis ainda não sabemos, mas é possível que esses químicos possam tratar certas condições ainda melhor que seus homólogos. Eles também podem ter aplicações médicas inteiramente novas – ou nenhuma. Não temos como saber sem mais testes clínicos, o que pode levar vários anos.
Ano passado, a mesma equipe de pesquisa italiana anunciou a descoberta de outros dois canabinoide antes desconhecidos: CBDB e THCB. Enquanto o THCB pareceu causar um alívio de dor em ratos, ainda sabemos muito poucos sobre as propriedades desses dois químicos.
Esse corpo de pesquisa demonstra quanto ainda temos para aprender estudando a maconha – essas pesquisas são dificultadas devido ao status da maconha como droga ilegal na maior parte do mundo. Drogas ilegais são caras de se estudar, e no caso da cannabis, muita da erva disponível para estudo é de baixa qualidade, diferentes dos brotos adquiridos por usuários típicos.
A descoberta desses canabinoides se deu graças aos avanços de espectrometria de massa, uma ferramenta que os cientistas usam para pesar massa de átomos e identificar componentes. Os pesquisadores agora planejam investigar as aplicações para esses canabinoides, como as propriedades anticonvulsivas e anti-inflamatórias do CBDP.
Troy Farah é um jornalista independente do sudoeste da Califórnia. Matérias dele sobre política e ciência de drogas já foram publicadas pela WIRED, Guardian, Undark, Discover Magazine, VICE e outros.
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