Cientistas recomendam que empresas doem vacinas ao SUS

O Globo 
Jornalista: ANA LÚCIA AZEVEDO E RAFAEL GARCIA

Para pesquisadores, iniciativa privada pode comprar imunizante. mas somente depois que estiver garantido suprimento para governo A iniciativa privada pode se envolver na compra de vacinas contra o coronavírus, mas deve destiná-las ao setor público, e não a seus funcionários. Esta é a opinião de especialistas entrevistados pelo GLOBO, que acrescentam que o governo federal não pode se eximir de sua responsabilidade de imunizar a população.

Os laboratórios AstraZeneca e Pfizer, que juntos detêm quase metade do mercado de imunizantes para Covid-19 formado até agora, já avisaram que, por enquanto, não negociarão contratos com o setor privado. Na semana passada, um grupo de grandes empresas brasileiras iniciou negociações para obter 33 milhões de doses de vacinas AstraZeneca, sendo que metade seria destinada ao setor público. A divulgação sobre a compra fez algumas companhias desistirem da transação.

CONTRATO COM GOVERNOS

O virologista Fernando Spilki chama a atenção para o fato de que os grandes laboratórios têm contratos com governos e apenas farmacêuticas periféricas poderão ter doses para a venda a entes privados.

— Essas compras não são isentas de risco —ressalta. — A princípio, não vejo problema na compra de imunizantes pelas empresas, mas isso só deveria ser feito sem tirar doses do SUS nem servir de muleta para o Estado brasileiro deixar de cumprir o seu papel, que é de garantir a vacinação de toda a população.

A pneumologista e pesquisadora da Fiocruz Margareth Dalcolmo avalia que a compra da vacina AstraZeneca por um grupo de empresas, visando a imunização de seus funcionários, é “indecente”.

— Num momento em que falta vacina para os grupos que mais precisam, isso é antiético, imoral e indecente — condena. —E não acredito que represente o pensamento de muitos empresários, que têm se mobilizado para auxiliar de outras formas. E de onde viríam essas 33 milhões de doses? A produção dos grandes laboratórios já está toda comprometida. A não ser que houvesse mais vadnas do que o informado. Se querem comprar, comprem para o SUS.
A sanitarista Ligia Bahia, da UFRJ explica que a situação atual é muito diferente da compra de vacinas por empresas para outras doenças, disponíveis no mercado, como as de influenza, prática tida como correta.

—A compra por um grupo de empresas brasileiras para seus funcionários criaria um modelo de vacinação cercadinho vip. E também uma visão de economia de fundo de quintal, pequena, já que nenhuma empresa está isolada e vai ter sucesso sozinha — enfatiza Bahia. Veja artigo da sanitarista e mais três cientistas sobre o tema na página 10.

A mesma opinião tem o coordenador do Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ, Amílcar Tanuri, um dos mais respeitados virologistas do país.

— Acho legítimo as empresas comprarem, mas não agora—diz Tanuri.

A ideia de comprar as vacinas por parte do empresariado correu paralela a outra inciativa, esta da Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas e da importadora Precisa Medicamentos. Reportagem do jornal Valor Econômico revelou que elas concluíram as negociações para a compra de cinco milhões de doses da Covaxin, desenvolvida pelo laboratório indiano Bharat Biotech. O imunizante, porém, é visto com desconfiança em seu próprio país devido à falta de informação sobre os testes.

MÉXICO BUSCA EMPRESAS

O Brasil não é o único país onde a possibilidade de acesso do setor privado a vacinas de Covid-19 vem sendo discutido. No México, o presidente Andrés Manuel López Obrador contrariou recomendação do Ministério da Saúde e anunciou que entidades privadas estão liberadas para tentar adquirir lotes de imunizantes.

Ontem, após enviar carta a fabricantes dando seu aval à compra de imunizantes por empresários, o governo Bolsonaro negou que tenha se envolvido nas negociações.
Bahia e Dalcolmo ressaltam que as empresas podem ajudar muito a vacinação contra a Covid-19 no Brasil.

— Não só na compra, mas na pressão sobre o governo para garantir as doses necessárias ao país — frisa Bahia. — O empresariado poderia formar uma força-tarefa, propor medidas, ajudar com a expertise em negociação de preços. Mas não pode vacinar o funcionário jovem e não o avô dele de 85 anos. Ainda não temos vacinas para os grupos prioritários.

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