Tecnologia será capaz de quebrar a criptografia que temos hoje, mas não no curto prazo
POR DANIELA FRABASILE, DE GUADALAJARA (MÉXICO)*
Época Negócios
Computação quântica é um tema que que deve ser cada vez mais discutido no mundo da tecnologia. A promessa é que os computadores quânticos do futuro terão uma capacidade de processamento de dados muito superior à dos computadores atuais, o que permitiria a essas máquinas realizar cálculos e solucionar problemas complexos demais até mesmo para os mais poderosos supercomputadores de hoje. Tudo isso graças aos qubits, versão quântica dos bits tradicionais da computação clássica. Enquanto um bit assume apenas os valores 1 ou 0, o qubit pode assumir 1, 0 ou uma combinação dos dois. Isso permite à máquina fazer mais cálculos mais rapidamente.
As promessas para os computadores quânticos são grandes. Especialistas falam na possibilidade de criar simulações mais precisas de processos da natureza, o que permitiria estudar moléculas para desenvolver novos medicamentos, criar novos materiais e fazer previsões meteorológicas mais precisas. Há outras indústrias que devem ser afetadas pelo desenvolvimento dessa tecnologia. A maior capacidade de processamento de dados permitiria, por exemplo, realizar simulações de trading de mercado e otimizar rotas de trânsito.
Hoje, no entanto, ainda estamos distantes de todas essas mudanças. Os computadores quânticos atuais não são poderosos o suficiente para alcançar as inovações prometidas pelos estudiosos. Uma das empresas que trabalha no desenvolvimento dessa tecnologia hoje é a IBM. A empresa foi a primeira a lançar, no início deste ano, um computador quântico de uso comercial, o Q System One.
Se a computação quântica poderá abrir novas possibilidades para vários setores, traz também novos desafios para as empresas de tecnologia. “Os computadores quânticos poderão resolver a criptografia que temos hoje de forma muito simples”, diz Juan Pablo Soto, líder de Cloud para a América do Sul e embaixador de computação quântica da IBM. No entanto, para isso acontecer, os computadores precisam ter entre mil a 2 mil qubits. Hoje, a aplicação comercial da IBM conta com 20 qubits, e a empresa estuda em laboratório computadores com 50 qubits.
“Esse é o ponto de segurança para todo o ecossistema: não devemos chegar aos 2 mil qubits em um futuro próximo, não nos próximos 5 anos”, diz Soto. “Por outro lado, estamos desenvolvendo toda a matemática e criptografia que será quantum safe, com algoritmos de criptografia que não poderão ser rompidos nem com um computador quântico muito poderoso”, afirma. O Z15, plataforma empresarial lançada na semana passada pela IBM, por exemplo, tem como foco a segurança. O sistema usa o que foi chamado de criptografia generalizada, que permite que todos os dados sejam criptografados em qualquer ambiente de nuvem da empresa.
A segurança dos dados é uma questão importante a ser resolvida por toda a indústria — ainda mais considerando que a cibersegurança é uma das principais preocupações das empresas hoje. Até porque, segundo Juan Pablo Soto, a computação tradicional não será completamente substituída pela computação quântica. A computação tradicional e a quântica vão conviver. “Há aplicações para as quais não precisamos de tanta capacidade de processamento, e para isso, continuaremos usando os computadores tradicionais. Não vejo a necessidade de um celular quântico, por exemplo”, diz Soto.
Apesar de ainda experimental, Soto afirma que a computação quântica já é uma realidade. O System Q, sistema que permite às empresas trabalhar remotamente usando as máquinas em data centers da IBM, já conta com 145 mil usuários, e 175 papers foram escritos por pesquisadores de fora da empresa, com base no sistema.
Para acelerar o desenvolvimento da tecnologia, a IBM criou uma rede que une empresas e instituições de ensino, como as universidades de Oxford, Melbourne e Taiwan. Algumas das empresas participantes são Daimler, ExxonMobil, JP Morgan & Chase, Samsung e Accenture. Outro importante objetivo da IBM Q Network é criar aplicações comerciais para a computação quântica e treinar profissionais e qualificar pesquisadores para as novas possibilidades.
*A jornalista viajou a convite da IBM
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