por Salomão Filho
Isto É DInheiro
Já pensou se, logo após o nascimento, seu filho fosse submetido a um teste de DNA que mostrasse todos os riscos de saúde que poderia ter ao longo da vida e, a partir de um cruzamento de zetabytes de dados em um sistema inteligente, o pediatra já prescrevesse um tratamento preventivo que evitasse o surgimento de doenças crônicas no futuro? Você se assustaria em ser submetido a uma cirurgia assistida por um robô? Aceitaria passar por uma consulta por um app no seu smartphone ou no voicebot? Acharia esquisito usar uma lente de contato para medir os níveis de açúcar no sangue?
O impacto da Inteligência Artificial, do machine learning e do deep learning no campo da medicina está apenas saindo da maternidade, mas as transformações que irão ocorrer na indústria da saúde nos próximos anos com o amadurecimento destas tecnologias são de tirar o fôlego.
A Accenture prevê que os Estados Unidos irão economizar US$ 150 bilhões por ano com cuidados com a saúde em 2026 com a utilização de aplicações de IA. A Frost & Sullivan indica que o faturamento global com sistemas de IA para saúde irão saltar de US$ 811 milhões em 2015 para US$ 6,7 bilhões em 2021.
De olhos bem abertos para esta revolução, gigantes da tecnologia como Google, IBM, Microsoft e Apple se apressam em investir alto no desenvolvimento de programas e devices direcionados a acelerar o diagnóstico, monitorar e tratar patologias que podem ser descobertas com a integração e análise de dados sobre o paciente coletados não apenas a partir de exames de laboratório e das fichas médicas, mas também no dia a dia através de wearables, bots domésticos ou no celular.
E quanto mais dados estiverem na nuvem, melhores se tornarão as máquinas em recomendar as terapias mais indicadas para cada caso, já que poderão interpretar quais foram as que alcançaram os resultados mais assertivos considerando milhões, quem sabe bilhões de outros relatos médicos.
Com menos tempo dedicado às tarefas burocráticas, os profissionais da saúde conseguirão, esta é a melhor notícia, prestar maior atenção aos pacientes, priorizando uma medicina mais humana, preditiva e, consequentemente, menos custosa.
Não será somente no diagnóstico e tratamento que a Inteligência Artificial será aplicada para trazer maior eficácia e incremento aos índices de cura. Além da ajuda de robôs-cirurgiões e enfermeiras virtuais, que podem assistir o paciente também em casa após receber alta, os algoritmos serão empregados na área administrativa para aprimorar processos que comprometem a qualidade de atendimento nas clínicas e hospitais, na detecção de fraudes, na redução de erros de dosagem de medicamentos, na identificação de pacientes, na análise de exames de imagem e muito mais.
No universo da robótica a Johnson & Johnson se uniu ao Google na criação do da Vinci Surgical System, que ajuda o médico a realizar cirurgias delicadas e complexas sem que sejam invasivas. A Verily, braço de ciência da vida da Alphabet, a corporação do Google, vem trabalhando em um sistema baseado na coleta de dados genéticos para fazer novas descobertas sobre a saúde humana. O projeto Deepmind Health, do Google, permite processar toneladas de informações médicas em poucos minutos, reduzindo o tempo de diagnóstico e início do tratamento. Nesta mesma linha, a IBM lançou o WatsonPaths, que também utiliza a computação cognitiva para auxiliar os médicos no atendimento aos pacientes.
style="display:block; text-align:center;" data-ad-layout="in-article" data-ad-format="fluid" data-ad-client="ca-pub-6652631670584205" data-ad-slot="1871484486">Há muitas outras startups que atuam na medicina preditiva e indicação de terapias através da leitura do DNA e de dados biológicos, como as indicadas pelo site especializado The Medical Futurist, entre elas a Careskore, a Zephyr Health, a Oncora Medical, a Sentrian e a CloudMedX Health. Em análise de imagem, destacam-se a Butterfly Network, a 3Scan, a Enlitic, a Arterys e a Bay Labs. Outras atuam, assim como as grandes farmacêuticas Merck &Co, Sanofi e Johnson & Johson, na aceleração da descoberta de novos medicamentos e tratamentos, como a Atomwise e a Whole Biome.
A Babylon, do Reino Unido, oferece um app que permite ao usuário fazer uma consulta sem sair de casa, bastando relatar por voz os sintomas para receber recomendações do que fazer a partir do seu histórico médico. A Molly, criada pela Sense.ly, é uma enfermeira virtual que ajuda a acompanhar e dar sequência no tratamento enquanto o paciente não retorna ao consultório médico. Sem falar nas tecnologias vestíveis para monitoramento cardíaco já lançadas pela Apple, Garmin e FitBit, entre outras.
Na medida em que se reduz o tempo de diagnose, os novos medicamentos chegam ao mercado mais rápido e o paciente precisa ir menos ao hospital, o sistema de saúde ganha com a melhoria no atendimento aos casos mais graves e na redução de custos com doenças que podem ser evitadas ou identificadas logo no início. Melhor ainda, a Inteligência Artificial irá ajudar os médicos a anteciparem a ocorrência de epidemias, permitindo tomar medidas preventivas que diminuam os riscos para população.
Aqui no Brasil vem ganhando visibilidade o Robô Laura, que utiliza tecnologia cognitiva para identificar e diminuir as mortes causadas por septicemia, uma infecção silenciosa que tirou a vida da filha do seu criador, Jacson Fressatto, quando ela tinha apenas 18 dias. O robô, que chama Laura em homenagem à menina, é uma tecnologia de machine learning que consegue “aprender, entender e conversar” com as diversas áreas dos hospitais para analisar riscos e antever a ocorrência da infecção.
Com tantos avanços é de se esperar que as próximas gerações irão viver muito mais. A pesquisa The World Population Prospects, realizada pelas Nações Unidas, indica que a população mundial passará dos atuais 7,6 bilhões para 9,8 bilhões em 2050 e 11,2 bilhões em 2100. A expectativa de vida, segundo o estudo, saltou de 65 anos para homens e 69 para mulheres entre 2000 e 2005 para 69 anos para homens e 73 para mulheres entre 2010 e 2015.
Cientistas da Universidade de Groningen, na Holanda, acreditam que em 2070 iremos viver até os 125 anos– até hoje a mulher mais longeva foi Jeanne Calment, que morreu em 1997 aos 122. A aposta é que a recordista será uma mulher japonesa por conta da dieta baseada em peixe e baixa em gorduras saturadas e, claro, da eficiência dos serviços de saúde.
E você? Está pronto para passar dos 100? Então não deixe de fazer seu check-up anual e reavalie sua alimentação. No mais, não se preocupe porque sempre haverá um robô por perto para ajudar seu médico a cuidar de você.
(*) Salomão Filho é investidor em startups de tecnologia e sócio da Stradigi AI, empresa canadense desenvolvedora de soluções de Inteligência Artificial
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