O ESTUDO DO DNA EM HUMANOS PODE MELHORAR O TRATAMENTO DE DOENÇAS GENÉTICAS (FOTO: PEXELS)
Durante o festival de inovação BlastU, em São Paulo, o médico João Bosco Oliveira explicou os possíveis usos da medicina genética
POR CARINA BRITO
Galileu
mapeamento genético é uma ideia relativamente nova: em 2001 foi publicada pela primeira vez a sequência do genoma humano. Até ali não sabíamos que uma pessoa tem 3,4 bilhões de bases de DNA ou qual parte dele está relacionado a tal tipo de doença. Desde então, foram feitas muitas descobertas em relação à medicina genética e como ela pode ajudar a mudar o futuro da saúde.
Esse foi o tema da palestra do médico João Bosco Oliveira durante o evento BlastU, festival de inovação realizado em São Paulo nesta terça-feira (13). Com o tema “Genética e Medicina Personalizada: o Futuro Chegou”, o fundador do Laboratório Genomika-Einstein comentou os avanços do estudo dos genes para criar opções personalizadas para os pacientes.
Um deles é a chamada medicina de precisão, que é basicamente a ideia de saber exatamente qual é o DNA responsável pelo aparecimento de tumores que causam câncer, como os de mama, próstata e pulmão. Esse conhecimento foi usado pela indústria farmacêutica, que conseguiu criar medicamentos específicos para cada paciente considerando a sua genética.
Isso também foi útil para doenças raras, como a distrofia muscular de Duchenne, que causa uma fraqueza muscular progressiva até a morte do paciente. O médico diz que, há quatro anos, o paciente só podia fazer terapia, mas agora diferentes companhias descobriram uma droga que poderia afetar o DNA exato do paciente com essa doença e ser mais eficaz no retardamento da distrofia.
Outro método é a farmacogenômica, que estuda os genes de uma pessoa para entender se ela é uma rápida metabolizadora de uma determinada droga, para entender, por exemplo, se a média padrão de uma dose seria menor para esse indivíduo do que para o resto da população.
Mas, para Bosco, um dos usos mais importantes da medicina genética seria na prevenção de doenças. Ele dá o exemplo de Angelina Jolie, que fez teste genético e descobriu que tinha uma grande chance de ter câncer de mama e decidiu fazer uma mastectomia profilática, ou seja, retirar a mama antes de desenvolver a doença. “Todas as mulheres deveriam fazer o teste para analisar o BRCA1 e o BRCA2, os genes relacionados ao câncer de mama”, diz o médico.
A análise de DNA também pode ser feita em uma biópsia líquida, que consiste em um teste usando amostra de sangue para ver se a pessoa potencialmente tem um câncer agora. Nesse caso, os médicos analisam o DNA circulante no sangue para analisar quais genes são cancerígenos e quais estão normais. Com esse método, acredita-se, seria possível detectar um câncer de cinco a sete anos antes de uma manifestação clínica.
Antes mesmo de nascer
A prevenção também pode ser feita antes do nascimento. Chamado de teste pré-natal não invasivo, o método também é uma forma de biópsia líquida, mas feito na mulher ainda grávida. Bosco explica que o bebê espalha o DNA dele na corrente sanguínea da mãe e então, analisando o plasma sanguíneo dela, é possível saber mais sobre o neném. Isso já é feito em outros países como ferramenta para decidir interromper ou não uma gravidez.
Indo mais fundo, é possível fazer uma análise genética dos embriões antes de eles serem usados em uma inseminação artificial, podendo assim escolher quais têm mais chance de sobreviver — sem relação alguma com a aparência que a criança terá.
Apesar de o desenvolvimento da medicina genética ter avançado rapidamente nos últimos anos, Bosco diz que a educação médica ficou para trás. “Esse atraso claramente existe, mas muitos profissionais estão vendo isso e tentando incorporar o conhecimento durante a faculdade e na residência médica”, diz o médico, que espera que nos próximos sete anos o nível de informação esteja mais equalizado.
Na opinião do profissional, no futuro, todo bebê terá seu genoma sequenciado — e "essa caixa de informações será aberta quando necessária". Com isso, ele prevê que doenças genéticas graves serão extintas e os tratamentos serão mais assertivos com drogas e doses personalizadas.
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